O muro
Editora: Nemo – Edição especial
Autores: Céline Fraipont (roteiro) e Pierre Bailly (arte) – Originalmente em Le muret (Tradução de Fernando Scheibe).
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 192
Data de lançamento: Abril de 2015
Sinopse
Em 1988, numa monótona cidadezinha do interior belga, Rosie, uma menina de 13 anos, se vê entregue à própria sorte: sua mãe fugiu com outro homem numa aventura amorosa e seu pai vive mergulhado no trabalho.
Consumida por uma rotina morna e vazia, Rosie fica completamente desorientada. Ela assiste, impotente, à transformação de sua personalidade, ora apavorada, ora determinada, diante da melancolia que a invade e traça os contornos de sua nova vida.
Positivo/Negativo
Geralmente, o rito de passagem do amadurecimento pode render “mesmices”, caso não seja abordado com certa sensibilidade.
Grata surpresa no mercado editorial brasileiro, O muro é edificado na intimidade disfuncional de uma adolescente e na sua busca de tentar se entender e também ser entendida pelos seus.
Com alicerces profundos, a roteirista belga Céline Fraipont transporta o leitor para o final dos anos 1980. Pela coincidência em relação ao nascimento da autora, mostrado na sua minibiografia na orelha da edição, pode-se deduzir que a ficção tem alguns indícios biográficos.
De 13 para os 14 anos, Rosie é aquele tipo de adolescente solitária, que procura se socializar com a vizinha e única amiga de mesma idade, tem desinteresse crescente pelos estudos (de uma educação cristã) e tenta se adaptar aos problemas familiares.
O reforço primordial dessa sua formação de personalidade se encontra nos soltos e bonitos desenhos do argelino Pierre Bailly. Carregando no nanquim, os silêncios noturnos e a cadência lenta do cotidiano da cidadezinha interiorana se fazem presentes em cada página do álbum. Extrapolando a narração da protagonista, dá pra sentir a atmosfera do tédio reinar na sufocante solidão de Rosie.
A estagnação temporal que envolve a trama poderia ser em qualquer época, não fossem os discos de punk rock oitentistas e as canções de bandas como Minor Threat e The Cure.
Independentemente de ter uma base familiar ausente, Rosie deixa muito claro que afogar as mágoas no fundo de uma garrafa de uísque, fumar ou participar de pequenos furtos é “errado”, mas ela faz como se estivesse procurando seus limites ou sua própria identidade. Pelo menos, são desafios maiores que encaixar pedras de Tetris na máquina de fliperama.
O muro que dá título à obra não é só o físico, no qual a personagem vai encontrar um relacionamento estranho com um jovem traficante judeu. As invisíveis barreiras sociais, emocionais e do destino também são erguidas. Obstáculos que procuram cercar a adolescente, fazendo com que ela saia de cima do muro.
Mesmo Céline Fraipont apresentando uma reviravolta banal nesse tipo de tema, a história já está levantada com uma argamassa bastante sólida, que aponta para um final coerente e delicado. Um desfecho sem o uso supérfluo e descabido das lições de cunho moral.
A edição em brochura tem formato 17 x 24 cm, capa cartonada com orelhas, papel offset de boa gramatura e impressão.
Atualmente, a Nemo é uma das poucas editoras que apostam em trabalhos europeus recentes (O muro foi lançado originalmente em 2013) e com autores desconhecidos por aqui. Uma oportunidade rara de se apreciar pequenas pérolas como esta.
Classificação