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O outro cão que guarda as estrelas

2 outubro 2015

O outro cão que guarda as estrelasEditora: JBC – Edição especial

Autor: Takashi Murakami (roteiro e desenhos) – Originalmente publicado em Zoku hoshi mamoru inu (Tradução de Denis Kei Mimura).

Preço: R$ 24,90

Número de páginas: 176

Data de lançamento: Setembro de 2015

Sinopse

A história do irmão de Happy, o cachorrinho protagonista de O cão que guarda as estrelas, que foi deixado para trás numa caixa na rua por estar muito enfraquecido. A única pessoa que se interessou pelo animal à beira da morte foi uma senhora solitária de 70 anos, que também está decidida a morrer e só quer companhia até o momento final.

Abandonado também é o jovem Tetsuo, que sofre com os “desaparecimentos” de uma mãe negligente. Cansado de cometer pequenos furtos para sobreviver, o garoto parte para encontrar o avô que mora ao Norte do Japão, em Hokkaido, a segunda maior ilha do país. Em paralelo, um cachorrinho da raça pug não consegue atenção dos clientes de uma pet shop.

Positivo/Negativo

No primeiro álbum, O cão que guarda as estrelas, Takashi Murakami mostra duas histórias que aparentemente não eram interligadas até se conectarem de modo gradual com alguns elementos apresentados ao longo da narrativa.

Nesta nova obra, lançada no Japão em 2011, mais uma vez as histórias se complementam – não apenas entre si – como também na edição anterior. Não obstante, o leitor poderá ler este volume sem necessariamente precisar do outro, apesar de ser uma experiência mais “completa” descobrir a saga canina na sua totalidade.

No primeiro momento, o quadrinhista mostra o que aconteceu com o outro cãozinho que estava no caixote abandonado na rua junto com Happy, o protagonista do volume anterior. Ele mal é visto no começo de O cão que guarda as estrelas, mas nesta edição é o centro das atenções.

Debilitado, o animal é adotado por uma senhora ranzinza e antissocial, que enxerga na criatura moribunda um reflexo da sua própria vida. Mesmo tendo menos páginas que a história principal, o desenvolvimento da empatia entre os personagens ocorre sem atropelos. Há sinalização de certo exagero no desfecho, mas nada que comprometa as maneiras diferentes de se ter afeto por um bichinho de estimação.

No Japão, a expressão que batiza as HQs – Hoshi mamoru inu – é usada para apontar uma pessoa que deseja algo impossível. Sua origem vem da imagem de um cachorro que fica olhando hipnotizado para a constelação.

Aqui, Murakami apresenta a expressão futagobochi (“estrela gêmea”, em tradução literal), referindo-se aos astros ligados gravitacionalmente, a exemplo de Sírio, a estrela mais brilhante da constelação de Cão Maior.

Logicamente, a alusão se aplica ao estado de saúde da anciã e do cãozinho, além do vínculo de afetividade fortalecido por ambos com o passar do tempo, cada qual à sua maneira.

Ittou-sei, “estrela de primeira magnitude”, é o título da história com mais fôlego do álbum. O personagem principal é um mero coadjuvante presente nas duas histórias de O cão que guarda as estrelas: Tetsuo, um garoto maltrapilho e faminto que é encontrado por Happy e seu dono furtando num supermercado.

O leitor descobre o passado do menino e as respostas que convergem no encontro com o senhor e seu cão, repetido em outros ângulos. Traumas, reflexos psicológicos (principalmente mostrados no sono de Tetsuo) e flashbacks são contornados no traço novamente funcional e elegante do autor.

Em paralelo, é contada a vida de um filhote da raça pug escanteado numa pet shop. Assim como os outros, o animal é “humanizado” com sua posição de narrador, criando empatia com o leitor pelo descobrimento dos inocentes bichinhos por meio do entendimento e lógica do mundo.

Assim como a primeira história do volume, Takashi Murakami coloca características que atraem o destino dos personagens.

Vale ressaltar como são trabalhadas as mesmas sequências de um álbum para o outro. Na obra anterior, o garoto aparece na última história, Girassóis, a bordo de um trem para ver seu avô que mora ao Norte do Japão. Ali, isoladamente, é apenas o desfecho ou um vislumbre do paradeiro do coadjuvante.

Já aqui, tal “recorte” é remontado de maneira inteligente e sem desmerecer a ideia inicial do quadrinhista. Um bom desenvolvimento de narrativa tomando como partida as probabilidades daquele momento.

Mantendo a qualidade, a JBC apresenta um formato maior que as edições mensais da editora (14,8 x 21 cm), com orelhas e uma boa impressão em papel lux cream, o mesmo material da série Death Note – Black Edition.

Deixando mais pistas e detalhes sobre os eventos anteriores, O outro cão que guarda as estrelas ainda cativa pela sua sensibilidade extraída das relações familiares, seja entre pessoas ou melhores amigos de quatro patas, além das conexões encaixadas e seladas pelas coincidências da vida. Ou seriam realmente ajustadas pelo destino?

Classificação

4,0

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