Parafusos, zumbis e monstros do espaço
Editora: Veneta – Edição especial
Autor: Juscelino Neco (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 24,90
Número de páginas: 112
Data de lançamento: Outubro de 2013
Sinopse
Dolfilander é um sujeito obcecado por cultura pop, incapaz de lidar com os problemas da vida adulta, que passa os dias jogando games no computador.
Certo dia, um acidente com um parafuso o tira de sua rotina pacata e o joga em uma espiral de alcoolismo e sexo anônimo até que, por intermédio de uma agência secreta, ele é transformado em um super-humano capaz de partir crânios com as mãos e enfrentar uma horda de zumbis e seres do espaço.
Positivo/Negativo
No mundo dos super-heróis, o Lanterna Verde detém um poderoso anel capaz de moldar objetos com a força do seu pensamento e criatividade.
Não é à toa que o protagonista de Parafusos, zumbis e monstros do espaço, um nerd convicto, tem o símbolo do personagem da DC na sua camisa.
O universo regido por Juscelino Neco aqui é o mesmo mundo onde habita o Leatherface de O massacre da serra elétrica, os mortos-vivos de George A. Romero (não essa nova onda zumbi de The Walking Dead e genéricos), os aliens de Ed Wood, as possessões demoníacas gore da câmera ágil de Sam Raimi em Evil Dead e o clima do mofo da contracultura dos quadrinhos brasileiros dos anos 1980.
A HQ poderia muito bem ser um representante cinematográfico de clássicos do terror de nomes como os italianos Lucio Fulci e Dario Argento, o espanhol Jésus Franco, o norte-americano Roger Corman e o brasileiro Petter Baiestorf (que assina o prefácio da edição).
Resgatando esses conceitos, a despretensão do quadrinhista se transforma em uma honesta ode a esse tempo, na qual “moral da história” ou complexidade não se encaixam com o que é denominado clássico trash.
A começar pelo próprio título autoexplicativo e a miscelânea de elementos que fazem parte desse universo marginal e cultuado, a exemplo do humor involuntário, nonsense, a violência em excesso e o frescor do puro entretenimento, sem sofisticações.
O próprio protagonista (cujo nome é uma alusão ao ator sueco Dolph Lundgren?) parece se divertir com o acaso do destino. Não o incomoda ser aposentado por invalidez quando faz uma involuntária trepanação usando uma pistola de pregos: ele passa os dias no “paraíso” dos games violentos, gibis de super-heróis e pornografia japonesa.
Quando é recrutado por uma organização secreta, ele tem seu corpo aperfeiçoado com implantes e glândulas artificiais para lhe dar a força de um Superman e um fator de cura como um Wolverine. Tudo que um nerd adoraria.
Sem pretextos e explicações, o autor insere gorilas com cérebros humanos, gangues com katanas, zumbis saídos de Sem destino, Neandertais com motosserras e conspirações interplanetárias.
Em contrapartida, no desfecho do álbum, Juscelino Neco promove uma reviravolta verborrágica paradoxalmente condizente com o clima, mas na contramão da “cartilha” dos filmes B.
O traço preciso de Neco lembra Paul Pope, com um quê underground - ou o tradicional “udigrudi” brasileiro. Mesmo sem ousar em uma diagramação sólida e fechada, o autor compensa nas sequências de desmembramentos, crânios esmagados, fraturas expostas e cortes cirúrgicos.
O trabalho editorial da Veneta tem páginas antirreflexivas, impressão razoável e capa cartonada com orelhas e detalhe em verniz. Um ponto negativo é que em um ou outro momento os balões de diálogos não seguem a sequência correta de leitura, mas nada que comprometa o andamento da história.
Ler Parafusos, zumbis e monstros do espaço tem o mesmo efeito quando o protagonista se vê cercado por uma legião de comedores de carne humana: a satisfação de dizimá-los pelas mãos (e motosserra) de um expert, sem se preocupar com nada mais.
Resultado do respeito de um quadrinhista sobre sua bagagem cultural pop, moldando a seu bel-prazer, como se possuísse certo anel de um super-herói esmeralda. Mas com muito mais sangue, tripas e ossos quebrados.
Classificação