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Placas tectônicas

20 abril 2016

Placas tectônicasEditora: Nemo – Edição especial

Autores: Margaux Motin (roteiro e arte) – Originalmente em La Tectonique des plaques (Tradução de Fernando Scheibe)

Preço: R$ 59,90

Número de páginas: 256

Data de lançamento: Março de 2016

Sinopse

Aos 35 anos, Margaux Motin narra os erros e acertos que abalaram sua existência com muito bom humor em recortes do seu cotidiano.

Mãe solteira, ela enfrenta (e às vezes esquece) a dura realidade de educar a filha, lidar com uma recente separação e com os atropelos de um novo amor. Uma época em que decisões abruptas podem levar a consequências desastrosas.

Mas quando continentes internos convergem, a saída é aprender a lidar com os pequenos desastres da vida e reencontrar o equilíbrio.

Positivo/Negativo

Na escala de Richter, a vida da Margaux Motin nesses recortes autobiográficos tem magnitude 10. Dona de uma personalidade forte e bem definida, a autora escancara seus sentimentos – medos, atitudes, defeitos, virtudes e loucuras – num tom de sinceridade confessional que beira a uma sessão com o analista.

Geralmente sem quadrinhos, ela “dramatiza” como se estivesse num palco, enfatizando a ação como um stand up comedy ou tendo alguns elementos cênicos ao seu redor para contrastar com o “fundo branco” e/ou ajudar na narrativa. Às vezes, também são usadas fotografias clicadas para “quebrar” um pouco essa constante.

Inclusive, a quadrinhista chega a usar essa falta de requadros e sarjetas a favor da narrativa. No seguimento United States of Margaux (uma alusão a United States of Tara, seriado televisivo estrelado por Toni Collete), ela faz um inteligente efeito metalinguístico para as ações que ocorrem nas páginas.

A autora é dona de um belo e elegante traço enxuto. Os seus desenhos coloridos podem até lembrar a argentina Maitena, de Mulheres alteradas, por causa da associação temática, mas sua arte é bem mais cuidada e detalhada. O destaque vital para a comicidade são as expressões exageradas dos personagens em momentos-chave dos pequenos “esquetes”.

Como a capa já sinaliza, a ordem do álbum é despir completamente a protagonista, como uma terapia, sem deixar nada escapar, inclusive as batatinhas que caem no chão e ela põe de volta na boca na frente dos amigos perplexos.

Os dramas do dia a dia mostram as comparações comportamentais quando se está solteira ou comprometida, o que se abre mão por um relacionamento sério e as irresponsabilidades perante a criação de uma garotinha que está aprendendo a ler e escrever – e que, por vezes, parece mais “adulta” que a própria mãe.

Outros aspectos da sua vida, como a profissão de ilustradora e a convivência com as amigas e desconhecidos, também fermentam a obra.

Essa característica marcante de Margaux serve como base para muitos recortes: ela não teme julgamentos por vestir suas camisas de Calvin e Haroldo, suas meias ¾ ou calças multicoloridas, tampouco liga para as críticas da sua jovem mãe sobre seu modo de vida (que chega a perguntar se a casa “virou Woodstock”).

Porém, como qualquer pessoa “normal”, ela tem suas vergonhas, necessidades e momentos de circunspeção. Compartilhar com o leitor tudo isso sem pudores mostra o quanto as pessoas são parecidas, sem utilizar o freio da autocensura ou do que é imposto socialmente nos dias atuais.

Placas tectônicas é um bom exemplo de uma perspectiva feminina sem ter aquela áurea geralmente forçada de militância ou didática com relação ao papel da mulher atualmente. Seu humor é tão espirituoso, cínico e sincero, que qualquer pessoa, independentemente de gênero, dará boas risadas.

Isso também implica dizer que seu público vai muito além dos fãs de Bridget Jones, personagem britânica criada por Helen Fielding no mundo literário, que extrapolou para as telonas de cinema. São pequenas lições que ensinam a conviver com as diferenças dos seres humanos – sejam eles homens ou mulheres.

Como grande parte do seu acervo, a edição da Nemo está acima da média, com papel off-set de boa gramatura e impressão, formato 17 × 24 cm, capa cartonada com orelhas e uma pequena biografia da autora, cujo álbum é a primeira obra publicada no Brasil. Interessante notar a ausência de numeração na HQ em virtude da estética narrativa apresentada ao longo de suas páginas.

Lançada na Europa originalmente em 2013, Placas tectônicas abala as estruturas do “politicamente correto”, enfatiza nosso lado humano e faz o leitor querer desbravar muito mais da agitada vida da sua autora, que assina outras HQs e um blog desde 2008.

Bem-humorada, poética (que tem seus momentos “piegas” – e quem não tem?), truculenta, sem pudores ou rótulos impostos pela sociedade e com espírito de uma eterna criança, Margaux Motin é uma ótima pessoa para se conhecer e encarar de forma mais leve a vida e seus problemas. Grande terapia em grupo.

Classificação

4,5

 .

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