Planetary – Volume 3 – Deixando o Século 20
Editora: Panini Comics– Edição especial
Autores: Warren Ellis (roteiro), John Cassaday (arte), Laura Martin e David Baron (cor) – Originalmente em Planetary # 13 a # 18.
Preço: R$ 19,90
Número de páginas: 144
Data de lançamento: Fevereiro de 2014
Sinopse
O Planetary é uma organização dedicada a desvendar a história secreta do Século 20. A maneira que como eles fazem isso é cruzando o mundo atrás dos arquétipos de diversas histórias e, ao mesmo tempo, em luta contra Os 4, uma equipe que tenta conhecer a História para dominar (ou seria manter?) a Terra sob seu poder.
Positivo/Negativo
Cornetar que as edições de Planetary vêm sem extras, muita gente faz; mas é preciso também erguer loas à assiduidade da Panini com a série. Em seis meses, a saga escrita por Warren Ellis e John Cassaday foi publicada inteira (nota: quando se escrevia esta resenha, o quarto e último volume já havia sido lançado).
Nesta terceira parte, o confronto com Os 4 se intensifica e a série chega ao seu ponto sem retorno: daqui em diante, as decisões serão tomadas e o confronto definitivo entre as equipes terá de acontecer.
Mas a forma que esse confronto se dá é bem diferente de uma revista tradicional de super-heróis.
Bem, mais ou menos.
A luta entre os times é muito mais mental e estratégica do que física. É parte de tudo que torna Planetary uma série com características muito particulares. Ou, nas palavras do próprio Elijah Snow, quando fala de Ambrose Chase, um falecido membro da equipe: “Seu pai foi um herói. Salvou vidas, um monte de vidas. Inclusive a minha. E o fez sem precisar de uma capa vermelha. Só precisou ser ele mesmo.”.
É claro que esse jogo de xadrez tendo o mundo por tabuleiro é feito em termos muito além dos humanos. A genialidade de Snow e de Randall Dowling é mesmo super.
O leitor que já acompanhou as histórias dos heróis de collant colorido (ou ainda o faz), já entendeu como a indústria dessas aventuras funciona. Uma ideia que um dia deu certo em uma trama específica é esticada e reaproveitada até parar de fazer sentido.
Foi assim com a ultraviolência e os temas adultos, com megassagas que passam por todas as revistas da editora, com sagas que deságuam em novas sagas, com as mortes e ressurreições, com a troca do balões de pensamento por recordatórios, com o uso abundante de páginas duplas e splashes e com muitos outros exemplos.
Planetary, ao contrário disso, usa das práticas comuns das histórias em quadrinhos e, principalmente, das narrativas populares que ajudaram a criar História das histórias em quadrinhos, unindo isso a personagens notáveis da arte sequencial. Esse processo gera um rejuvenescimento e uma ressignificação das histórias que se contaram antes e das que se contam agora.
Daqui em diante, este texto vai se concentrar em detalhes de cada uma das tramas do encadernado. Caso ainda não tenha lido e queira preservar o valor da surpresa dos acontecimentos, a sugestão é pular para o último parágrafo.
Na primeira história, vê-se um flashback do começo do Século 20. Trata-se do encontro de Snow com o grupo que tentou controlar o mundo no Século 19, formado pelos personagens da literatura popular vitoriana: Frankenstein, Drácula, Sherlock Holmes, Homem Invisível, criaturas reptilianas, entre outros.
Autores como H.G. Wells e Júlio Verne têm mão importante em tudo que acontece aqui, mas o mais significativo é a posição de Elijah Snow como pupilo de Holmes e continuador de sua linhagem, com suas próprias características.
A aventura seguinte se divide entre o tempo presente, em que Ellis costura uma relação entre viagens multidimensionais e o martelo do Thor e uma história anterior, quando se descobre como Snow perdeu a memória.
Essas tópicas de memórias apagadas, conspiração mundial, e bases na Antártica são bem comuns em histórias de ficção científica. E, de novo, o que poderia ser uma narrativa clichê se transforma em um novo ângulo de visada sobre um tema antigo. Aí, tome pseudociência pra justificar tudo (que é a mesma lógica de grande parte da Ficção Científica publicada nos pulps).
A terceira história novamente segue o esquema de dividir os tempos da narrativa: há uma lenda ancestral australiana, um tempo presente em que o Planetary visita a família de Ambrose Chase e um primeiro movimento da batalha contra Os 4.
Aqui, as referências são dos filmes de espionagem e das lendas orais, além de unir um personagem meio Hank Pym, meio Capitão Marvel (o da Marvel, não o da DC). Há a interessante frase do Baterista que garante que “é tudo sistema operacional”, transformando a cibernética na (pseudo) ciência base pra série.
A seguir, a citação é às séries de kung fu (sugestão ao leitor: compare as cores e a decupagem dos quadrinhos com os encadernados de O Punho de Ferro publicados anos atrás pela Panini). Mais especificamente, ao vilão Fu Manchu, que talvez seja mais conhecido como arquivilão de O mestre do Kung Fu, da Marvel, mas é na verdade um personagem surgido nos pulps.
Também são bastante óbvias referências aos mangás e a filmes de artes marciais chineses. E se esclarece a intenção de Snow: Os 4 conseguem o conhecimento e o escondem para si, o Planetary quer dividi-lo com o mundo todo.
A trama seguinte une brilhantemente Superman, Tarzan, aventureiros em selvas estranhas, como Allan Quatermain, as cidades perdidas e Jakita Wagner.
Encerra a edição uma das melhores HQs da série. As referências são os filmes de George Méliès e Júlio Verne e trata do desejo humano de conhecer o que há fora do planeta.
Especificamente, trata-se da primeira viagem à Lua, com explosivos e artefatos de ferro em uma nave sem propulsão própria. É uma história simples, mas muito bonita e que deixa um de Os 4 na mão do Planetary.
Todas as aventuras revelam algo sobre a qualidade da humanidade. Afinal, todas saíram de mentes humanas. E tentar entender o mundo por suas histórias é algo mais antigo que a palavra articulada. “Mundo estranho. E vai ser sempre assim.”.
Classificação