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Pretérito mais que perfeito

12 junho 2015

Pretérito mais que perfeitoEditora: independente – Edição especial

Autores: Otoniel Oliveira e Petrônio Medeiros (roteiro) e Otoniel Oliveira, Andrei Miralha, Carlos Paul, Diogo Lima, Rafa Marc, Volney Nazareno, Emmanuel Thomaz, Adriana Abreu, Dorival Moraes e Rosiani Olívia (arte).

Preço: R$ 20,00

Número de páginas: 72

Data de lançamento: Fevereiro de 2015

Sinopse

Um banco da Praça da República, em Belém, é o coadjuvante na vida de diversas pessoas, em momentos e situações diferentes, atravessando os anos, as décadas e mantendo-se lá enquanto tudo ao seu redor muda. E mesmo depois, quando tudo volta a ser o que era.

Positivo/Negativo

Poucos projetos que ficcionaram a História conseguiram unir tão bem o micro ao macro como Pretérito mais que perfeito.

A ideia foi iniciada em 2008, por meio de uma bolsa de pesquisa e experimentação artística do IAP – Instituto de Artes do Pará, reunindo alguns membros da equipe responsável pelos belíssimos álbuns Belém Imaginária e Encantarias – A lenda da noite.

Como as páginas não podiam ser impressas no formato livro, foram expostas em um grande painel, em 2009, na exposição Pretérito mais-que-perfeito: Imagens de Belém. Mas Otoniel Oliveira sabia que não era justo privar os leitores de outras cidades brasileiras de conhecer e levar para casa a compilação daquelas HQs que recontavam passagens da História do Brasil a partir de um mesmo cenário: um banco da Praça da República, na capital do Pará.

Determinado a publicar a obra, em 2014 Otoniel iniciou uma campanha de financiamento colaborativo, arrecadando pouco mais de 17 mil reais, entre 155 apoiadores. E com a impressão garantida, ele acrescentou uma nova história ao projeto, fazendo menção aos Black Blocs e aos protestos de 2013, conhecidos como “Jornadas de Junho”.

Pretérito mais que perfeito traz 15 histórias curtas coloridas, de duas páginas cada. A singularidade está no fato de que elas terminam com uma pergunta, sempre respondida no início da seguinte, encadeando a trama que parte do Brasil Imperial de 1869 (homenagem a Angelo Agostini, pois foi o ano do começo da publicação de Nhô Quim) – com a escrava Armínia fugindo para enterrar uma sacola vermelha no descampado onde viria a ser erguida a Praça da República –, e segue até um flashforward, em 2032 (a explicação para a definição da data é ótima), na iminência de reconstrução da dita praça, que fora depredada, devido aos embates causados pela guerra da água.

Tomando como base a filosofia hegeliana do Zeitgeist, cada recorte histórico (Império, República, Movimento Tenentista, Golpe Militar, Fim da Ditadura, Era Collor, Jornadas de Junho) foi cuidadosamente expressado por um movimento artístico ou um estilo característico de um mestre da Nona Arte – indo do impressionismo de Agostini, passando pela Art Nouveau, Art Déco, Pop Art e até o underground de Robert Crumb e o cyberpunk distópico de Moebius –, empregando técnicas de desenho e pintura variadas: bico de pena, nanquim, aquarela, ecoline, acrílico, pintura digital e marcadores.

Para causar mais imersão no leitor, há uma trilha sonora, composta pelo músico Leo Venturieri, que pode ser baixada por intermédio de um QR Code ou de um link na internet.

Todo o processo de pesquisa e produção das histórias está contido em nove páginas de material extra, com textos ilustrados, assinados por Otoniel Oliveira, Petrônio Medeiros e Leo Venturieri.

O projeto gráfico também é digno de menção, pois utilizou ladrilhos para mostrar que a História é construída pela junção de várias peças fragmentadas, algumas ainda em branco, que com o tempo vão fazendo sentido ao compor uma imagem única, por sua vez passível a desdobramentos e interpretações diversas.

O único senão são os pequenos deslizes que a revisão deixou passar, como a falta de uma vírgula para indicar um vocativo (página 16), e a não acentuação do “que” precedido por uma interrogação (33).

Sem dúvida, Pretérito mais que perfeito é um dos quadrinhos mais singulares de 2015.

Classificação

5,0

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