Que Deus te abandone
Editora: SESI-SP/Quanta – Edição especial
Autores: André Diniz (roteiro) e Tainan Rocha (arte).
Preço: R$ 30,00
Número de páginas: 52
Data de lançamento: Novembro de 2015
Sinopse
Quando uma tempestade desce sobre a cidade de Petrópolis, resta à jovem Bárbara fazer escolhas que afetarão toda uma comunidade.
Positivo/Negativo
No começo de novembro de 2015, uma barragem se rompeu no interior de Minas Gerais, a água correu sobre a cidade de Mariana e milhares de histórias se desfizeram sob a lama, levando vidas e sonhos. Não é a primeira, não será a última vez que o País se depara com um drama assim, movido pelo caos do homem e pela natureza, forças que colidem quase sempre em campos opostos.
Por isso esta é uma resenha tão difícil. Pois é justamente sobre isso que a HQ Que Deus te abandone trata, a capacidade que temos de resistir, mesmo em meio às piores adversidades.
Focada em poucos personagens habitando a periferia de Petrópolis, (mas poderia ser Salvador, São Paulo, Mumbai), a trama mostra a reação dos moradores de uma favela diante da chuva devastadora, cujas sequelas levarão para sempre.
Com um roteiro direto, André Diniz conta a história de Bárbara, jovem que, para escapar da tormenta decide ficar com o namorado Quirino, sem saber o que a esperava.
A água causa o desabamento das casas no local, e ela acaba entrando em conflito com os moradores da comunidade, ao optar por seguir sua consciência.
A arte de Tainan Rocha corre expressiva, verdadeira, evocando com suas hachuras e tons escuros o ambiente frágil em que vivem aquelas pessoas, habitando barracões de madeira e zinco sobre frágeis fundações.
É impossível não se sensibilizar com as cenas, que em alguns momentos remetem ao quadro Guernica (ver página 37), seja no desespero das expressões dos personagens, também tomados pela revolta, seja na fragilidade diante de forças maiores que não podem conter, sem atenuar por um instante a realidade dura em que estão imersos.
O novo selo da parceria SESI-Quanta mostra a que veio, propondo enredos para além dos caminhos comuns, capazes de tocar leitores habituais e também aqueles que ainda não têm familiaridade com o mundo da Nona Arte, com preços acessíveis e acabamento de qualidade nas edições.
Que Deus te abandone é um desses bons momentos em que as histórias em quadrinhos, como expressão artística, também se tornam jornalismo, denunciando os dramas cotidianos em que estamos literalmente submersos, e paradoxalmente, insensíveis.
Porque o mundo não é preto e branco como se pensa ou se é levado a pensar – o mundo é sépia, feito as cores de Tainan Rocha.
Classificação