Remy
Editora: Dead Hamster / Suricatinho – Edição especial
Autores: Diogo Bercito (roteiro) e Julia Bax (desenhos).
Preço: R$ 25,00
Número de páginas: 56
Data de lançamento: Novembro de 2013
Sinopse
A história de um garoto de 17 anos que convive com a bronquite por toda sua vida, e resolve confrontar sua doença – com um resultado inesperado envolvendo um gato falante e um javali apodrecido.
Positivo/Negativo
Remy é um garoto que vive uma batalha travada no seu próprio corpo com a bronquite. Logo no começo do álbum, o leitor o vê subir uma ladeira com uma respiração curta, difícil e ofegante, mostrada por meio de enfáticos balões recheados com ofegos chiantes, tosse e a sensação de constrição.
Não é difícil imaginar que tal cena acontecia com o jornalista Diogo Bercito, que passou a infância e adolescência segurando um inalador em uma mão e um gibi do Homem-Aranha na outra.
Com base em uma história curta das reminiscências asmáticas de Bercito, Remy é um álbum independente de contornos metafóricos e surreais que povoavam a cabeça do mesmo imaginário no qual, ao mesmo tempo em que se acompanhava um escalador de paredes em Manhattan, poderia sentir contrações espasmódicas dos brônquios causados pelo chiado de um gato entranhado nos pulmões do autor, uma metáfora que sua mãe usava para acalmá-lo durante as crises.
Retratado com um aspecto bem peculiar – sempre pálido e meio azulado, como se estivesse sufocado – o protagonista com um ar meio Família Addams sente seu corpo como um empecilho para uma eventual felicidade.
Quando um exausto Remy morre (e não é uma “grande revelação” aqui, pois faz parte da história), ele materializa seu “inimigo” regurgitando o gato que reduzia seus sonhos de uma vida normal como qualquer adolescente.
A partir daí, ambos travam discussões em tom filosófico (sem grandes surpresas ou clímax, mas com certa elegância) a respeito da curta experiência da vida, da morte e de seus caminhos cheios de obstáculos.
Lançado no Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, Remy conta com o virtuosismo do traço de Julia Bax (com a assistência de cor de Lívia Constante).
Sua bela arte molda todos os percalços asmáticos do personagem com muita dinamicidade e fluidez cinematográfica, mesmo esquecendo pequenos (e importantes) detalhes uma página após Sandra, a empregada da casa, amarrar uma fitinha de promessas no pulso de Remy (algo contornado depois disso).
A publicação pelos selos autorais Dead Hamster e Suricatinho (premiado pelo Programa de Ação Cultural de São Paulo, o ProAC, em 2012) tem um competente trabalho editorial, com direito a uma capa cartonada sem orelhas, com aplique de verniz, papel couché de boa gramatura e excelente impressão.
Remy é uma fábula sobre confrontos, aceitação e a sua busca por soluções, mesmo sem se tocar que, às vezes, o problema é a própria chave.
Se a vida é uma possibilidade infinita e todos os caminhos levam ao mesmo lugar, o que Remy procura - Paz? Felicidade? Liberdade? – está onde sempre esteve: dentro de si.
Classificação