A saga do Tio Patinhas – Volume 1
Editora: Abril – Minissérie mensal em três edições
Autor: Don Rosa (roteiro e desenhos) – Originalmente em The Life and Times of Scrooge McDuck.
Preço: R$ 14,95
Número de páginas: 144
Data de lançamento: 2007
Sinopse
A história do quaquilionário Patinhas MacPatinhas é contada desde a infância pobre, na Escócia, embora seu clã seja herdeiro de um castelo. Em busca de riqueza, ele passa por aventuras nos Estados Unidos, na África do Sul, na Austrália e, finalmente, nos garimpos do Yukon.
Positivo/Negativo
A genial obra de Don Rosa havia sido publicada no Brasil em 2003, em formatinho e em duas partes. Uma terceira já foi anunciada pela Abril para este ano, em capa dura. A versão analisada nesta resenha foi dividida em três volumes, que não apenas reúnem os 12 capítulos da minissérie original, como inclui histórias extras em que o autor voltou à biografia de Patinhas.
Este trabalho de Don Rosa é, sem dúvida, um dos grandes momentos dos quadrinhos nos anos 1990 (foi produzida de 1992 a 1994 – em 1995 ganhou o Eisner Award de melhor história seriada).
O autor mergulhou nas HQs escritas por Carl Barks nos anos 1940, 1950 e 1960, nas quais ele criou e desenvolveu o pato sovina – primeiro como coadjuvante do Donald e, depois, como um dos maiores personagens dos quadrinhos Disney, vivendo grandes aventuras em busca de tesouros perdidos e enfrentando vilões como os Irmãos Metralha e a bruxa Maga Patalójika.
Reunindo referências que Barks soltou em suas histórias sobre o passado do Tio Patinhas, sem qualquer intenção de organizar um passado cronologicamente coerente, Don Rosa traçou o que teria sido a vida fora do comum do quaquilionário.
Muitas vezes, Rosa usou fatos que Patinhas recordava em um único balão de uma história, desatou o nó de algumas contradições, definiu datas.
Assim, ele alinhou a vida do pato mais rico do mundo de 1877, aos dez anos, na Escócia, a 1947, quando Patinhas teria voltado a conviver com o sobrinho Donald (1947 foi o ano da criação do personagem por Barks, na história Natal nas Montanhas).
Este primeiro volume reúne os oito primeiros capítulos da minissérie, partindo principalmente de histórias barksianas, como O Segredo do Castelo (1948), A Grande Corrida de Barcos a Vapor (1957) e Em Busca do Ouro (1953). E é interessante observar também algumas decisões que Don Rosa tomou.
É admirável, por exemplo, como ele justifica a família de Patinhas ao mesmo tempo ser pobre e herdeira de um castelo. Evita, nesses primeiros oito capítulos, repetir o que Barks já narrou em flashback em suas histórias – assim, Dora Cintilante é bem coadjuvante no último capítulo desta edição, embora seja figura central em Em Busca do Ouro e sua presença reverbere nos capítulos seguintes.
O norte-americano Don Rosa faz, assim, com que suas histórias e as de Carl Barks não se repitam, mas se complementem.
Um caso curioso é o da aparição de Pão-Duro MacMônei. A rigor, Patinhas e seu rival sul-africano se conhecem em Qual o Mais Rico do Mundo?, de 1956, mas o autor da Saga sustenta que não fica claro na HQ de Barks se MacMônei conhece o sovina de Patópolis ou não.
É discutível, mas foi uma saída que o autor encontrou para incluir MacMônei no capítulo que se passa no Transvaal e criar raízes para a rivalidade.
Ao final, com um extra que comenta as referências de cada capítulo, esta seria uma edição irretocável, não fosse um “detalhe” bastante incômodo: o nome de Don Rosa não é citado em nenhum lugar desta edição e nem nas duas seguintes.
É inacreditável e muito difícil imaginar um motivo plausível para isso. A primeira edição da A Saga do Tio Patinhas no Brasil (lançada em dois volumes, como 40 Anos da Revista Tio Patinhas) saudou Don Rosa do começo ao fim e incluiu para cada capítulo preciosas introduções escritas por ele em primeira pessoa, explicando seu trabalho e suas escolhas.
Em 2005, dois anos antes desta edição, a coleção Mestres Disney dedicou seu primeiro número a Don Rosa, com todas as honras. Desta vez, os textos de Rosa na edição brasileira anterior foram resumidos e suas decisões como autor são atribuídas vagamente à Disney Company ou à Egmont Group (editora dinamarquesa que publicou originalmente as histórias).
A coisa é mais estranha porque, além de Carl Barks, outros artistas são citados nesses textos, como Tony Strobl. A revistas de linha da Disney no Brasil, nessa época, já traziam roteiristas e desenhistas creditados no pé da página. Qual terá sido a razão da omissão do nome de Don Rosa?
Ao Omelete, o autor deu a seguinte declaração, enquanto visitou a Comic Con Experience, em dezembro de 2014: “Todo mundo pode publicar meus gibis quando bem entender, que o acerto é com a Disney. Mas, para usar o nome Don Rosa, tem que me pagar e me dar controle total. No caso do Brasil, meu advogado teve que falar com o editor daqui e pedir que ele fizesse umas edições melhores. Mas o editor não quis falar comigo e preferiu publicar sem meu nome. Tudo bem, ele faz o que quiser.”
O site Planeta Gibi ouviu Sérgio Figueiredo, diretor de redação da Editora Abril, e a resposta foi a seguinte: “Respeitamos muito a obra de Don Rosa, certamente um dos grandes expoentes da arte sequencial, mas precisamos salientar que nunca fomos procurados por seu advogado para 'fazer edições melhores', como o autor alega. O Departamento Jurídico da Editora Abril – este, sim, contatado pelo advogado do autor – foi orientado a não utilizar o nome de Don Rosa para fins de divulgação, pois isto poderia caracterizar uso indevido de nome e imagem para promover a venda de produtos. Seu nome também não pode figurar, proeminentemente, em obras no estilo Mestres Disney ou Hall da Fama sem a devida autorização do autor. Esta orientação tem sido seguida à risca pela Abril. De fato, a aprovação da formatação das histórias cabe exclusivamente à Disney, detentora dos direitos autorais das histórias do Tio Patinhas. A Abril, que publica os quadrinhos Disney no Brasil ininterruptamente há 64 anos, tem trabalhado obras representativas em diferentes formatos e encadernações, incluindo A Saga do Tio Patinhas. Creio que cabe ao público avaliar a qualidade desse trabalho.”
Realmente uma pena que não se chegue a um acordo, pois apenas por isso esta edição não ganha a cotação máxima que a obra de Don Rosa, por si só, merece.
Classificação