Sandman – Prelúdio # 1
Editora: Panini Comics – Minissérie em três edições
Autores: Neil Gaiman (roteiro), J.H. Williams III (arte) e Dave Stewart (cores) – Originalmente em The Sandman – Overture # 1 e # 2 (tradução de Jotapê Martins e Fabiano Denardin).
Preço: R$ 21,90
Número de páginas: 56
Data de lançamento: Outubro de 2015
Sinopse
Há algo errado no reino do Sonhar. Alguma coisa está sofrendo, está despertando e está danificada. Em algum lugar do universo, Sonho morre. Quando um dos Perpétuos chega ao fim, isso nunca acaba bem.
Morfeu recebe um repentino, misterioso e incomum chamado. Ele deve abandonar seu trono e seus súditos, trajar-se de acordo com a situação e iniciar sua desconhecida jornada, na qual será decidido o seu destino.
Positivo/Negativo
Sonho, dos Perpétuos, foi capturado. Após quase um século em cativeiro, ele escapa e precisa buscar seus elementos de poder, reconstruir seu reino e dar cabo de um vórtice de sonhos – algo que surge de tempos em tempos e pode levar ao fim todo o reino do Sonhar.
Esse é um brevíssimo resumo dos primeiros capítulos de Sandman, obra máxima de Neil Gaiman, referência no final dos anos 1980, que semeou – junto com o Monstro do Pântano de Alan Moore – o selo adulto Vertigo, anos mais tarde.
Originalmente lançada entre os anos de 2013 e 2014, esta minissérie inédita comemora os 25 anos da criação do famoso soberano do Reino do Sonhar. Cada volume da Panini equivale a duas partes do original.
Depois de 1996, quando a edição 75 da série Sandman foi lançada nos Estados Unidos, Gaiman revisitou o personagem em apenas dois momentos: Os Caçadores de Sonhos e Noites Sem Fim. Nesta última “visita”, o leitor descobre por que o protagonista tinha uma mágoa de sua irmã/irmão Desejo. Um adendo que mostrou aos leitores as possibilidades existentes nos detalhes da longa epopeia criada pelo autor.
Agora, mais um ciclo de Morfeu é aberto. Gaiman retorna para revelar como os humanos o capturaram equivocadamente, como foi visto no primeiro arco, Prelúdios e Noturnos (Sandman # 1 a # 9). Por que ele estava “trajado” para a guerra, com o elmo, a algibeira e o rubi? Por que um ser tão poderoso aparentava fraqueza?
Muitas referências à mitologia do personagem surgem logo no primeiro capítulo, incluindo as primeiras escapadas para a realidade do pesadelo Coríntio, um dos destaques do arco A Casa de Bonecas (Sandman # 10 a # 16).
Um easter egg ligado ao Coríntio é o pub The Dirty Donkey, onde ele marca um encontro. O local é citado em Arremate por atacado, conto de Gaiman sobre venda de assassinatos presente na coletânea Fumaça e Espelhos (lançada no Brasil em 2002, pela Via Lettera). Nesta sequência pode-se notar que a HQ se passa cerca de um ano antes do Mestre dos Sonhos ser capturado pelos ocultistas.
Velhos rostos do Sonhar também podem ser vistos, como o bibliotecário Lucien e o zelador Merv Cabeça-de-Abóbora, além da mendiga secular Hettie Maluca e dois dos seis irmãos Perpétuos de Sonho: Destino e Morte.
A irmã mais velha do Rei dos Sonhos, inclusive, aparece vestida como a atriz Julie Andrews, no clássico do cinema Mary Poppins (1964), dirigido por Robert Stevenson. Supercalifragilisticexpialidocious – a expressão cantada pela babá com poderes mágicos – é citada na primeira aparição da Morte (Sandman # 8).
Outros coadjuvantes são apresentados nesta nova narrativa, a exemplo de George Portcullis, gerente do “escritório londrino” de Sandman.
À medida que a trama avança, alguns conceitos são retomados, como o vórtice também citado em A Casa de Bonecas e a ideia do onipresente Morfeu ter várias personificações no universo. Ao final da leitura deste primeiro volume, mais dúvidas são colocadas e o mistério continua até a próxima edição.
Salvo alguns artistas, Sandman se tornou mais conhecido pelo seu roteirista do que pelo elenco de desenhistas que passou pelas suas histórias. Aqui, a bela arte de J. H. Williams III (o mesmo de Promethea e Batwoman) oferece um espetáculo visual à parte.
Ele explora vários ângulos e diagramações arrojados, que tornam a leitura mais interessante, vide a página infinita no livro do Destino ou os “olhos” da dentição do Coríntio, que refletem os acontecimentos, ou ainda um dinâmico diálogo em que as divisões dos aposentos de um casarão se tornam os requadros.
A página-pôster de quatro páginas no final do primeiro capítulo atiça mais ainda os mistérios em volta da minissérie.
O trabalho da Panini para a versão nacional tem formato 18,5 x 27,5 cm, capa dura com aplique de verniz, papel couché e boa impressão. Completando a edição, as capas originais de J. H. Williams III e Dave McKean, o capista “oficial” da série, e os bastidores das cores por Dave Stewart.
Há um pequeno detalhe na capa da edição brasileira, acerca do layout do título: no original, Sandman e Overture estão entre o rubi ostentado pelo protagonista. O objeto acabou sendo oculto pelo título traduzido. Não é um “erro” grave, mas nota-se que vai contra o design idealizado por Williams.
Por falar em tradução, o Overture do original dá margem para outros significados, incluindo a introdução (ou abertura) instrumental de uma ópera. E é o que Gaiman, Williams e Stewart estão regendo em Sandman – Prelúdio.
Classificação
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