Sant'anna da Feira, Terra de Lucas
Editora: independente - Edição especial
Autores: Marcos Franco (roteiro) e Hélcio Rogério (arte).
Preço: R$ 30,00
Número de páginas: 176
Data de lançamento: Novembro de 2012
Sinopse
As vésperas da sua execução, em Vila de Sant'Anna da Feira, província da Bahia, o escravo rebelde Lucas da Feira relembra seu passado tortuoso.
Positivo/Negativo
Os roteiristas Marcos Franco e Marcelo Lima trouxeram para os quadrinhos, em 2010, a história do escravo rebelde, conhecido como Lucas da Feira, batizada de Lucas da Vila de Sant'Anna da Feira.
Calcado no conceito histórico do "banditismo social", que tem como exemplos Lampião, Cabeleira e Jesuíno Brilhante, o roteiro não tomou partido ao mostrar as ações de Lucas, deixando sabiamente esse julgamento para o leitor.
O álbum trazia uma história interessante, mas interrompida abruptamente, o que rendeu críticas quase unânimes aos autores, que explicaram a necessidade de "enxugar" a trama devido ao número de páginas abarcado pelo projeto.
Após anos de pesquisa, Marcos Franco havia coletado um farto material e sentia a necessidade de narrar dignamente a história de Lucas da Feira. Por isso, assumiu a tarefa de revisitar o personagem na graphic novel Sant'Anna da Feira, Terra de Lucas, novamente desenhada por Hélcio Rogério.
Neste álbum, a ação tem início em 1846, quando José Pinheiro Vasconcelos, então Presidente da Província da Bahia, ordena a prisão de Lucas da Feira.
A partir daí, a trama é entrecortada por flashbacks, nos quais Lucas, já preso, relembra sua infância, adolescência e vida adulta, reconhecendo momentos em que foi um benfeitor e outros nos quais empregou nos brancos uma violência similar à aplicada aos escravos negros pelos seus senhores.
Enquanto isso, no tempo presente, vê-se a delação, a captura, o encontro com D. Pedro II, a condenação e a execução de Lucas, em 1849, quando ele perdeu a vida para virar uma lenda.
O amadurecimento de Franco e Rogério é latente em Sant'Anna da Feira, Terra de Lucas. Destaque para o refinamento da narrativa, com subtramas bem construídas, as transições tempo-espaciais feitas de forma exemplar, não provocando cortes violentos na trama, e a opção pelo emprego do "matutês" nos diálogos, conferindo autenticidade à história por aproximar o leitor do universo dos personagens.
Além disso, o traço mais solto e expressivo de Rogério, com bom domínio de anatomia humana e de animais, e um cuidado valioso com o cenário e as construções históricas, fazem a leitura fluir de forma prazerosa.
A obra traz amplos apêndice e glossário dos termos e expressões regionais empregados nos diálogos, bem como referências bibliográficas, esboços e um ótimo prefácio da Professora Renailda Ferreira Cazumbá, apresentando um pouco do Lucas dos documentos históricos e comentando o trabalho de Franco.
Sem dúvida, uma das melhores obras de revisionismo da História Nacional, junto a Chibata, O Cabeleira, D. João Carioca e AfroHQ.
Para adquirir um exemplar, basta fazer a solicitação por intermédio do e-mail santanadafeira@gmail.com.
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