São Jorge – Volume I – Soldado do Império
Editora: Panini Comics – Série em duas partes
Autor: Danilo Beyruth (texto e arte).
Preço: R$ 19,90
Número de páginas: 120
Data de lançamento: Maio de 2014
Sinopse
Ao final do Século 3, o Império Romano apresenta fortes sinais de decadência. Levantes de regiões que buscam a independência explodem em toda parte e as tropas romanas procuram sufocar esses rebeldes a todo custo.
Além disso, há uma disputa de poder entre as tradicionais religiões romanas e a nova religião cristã, que conquista cada vez mais adeptos.
Nesse cenário, o tribuno Jorge destaca-se entre os soldados romanos. Com sua extraordinária tenacidade em combate, lidera vitórias e é celebrado como excelente guerreiro. Seu sucesso, entretanto, o torna alvo de intrigas políticas e o envia para uma missão mortal: caçar um inacreditável monstro.
Positivo/Negativo
São Jorge Guerreiro, tema de canções, santo padroeiro de diversas nações, protetor de incontáveis e apaixonados devotos. Para os yorubás, se sincretiza na forma de Ogum, orixá guerreiro, deus do ferro. Lutador incansável e invencível, mártir da fé cristã, matador de dragões, morador da lua, Oxóssi.
Uma figura tão espetacular, plural, intensa e rica de significados que abre várias possibilidades de narrativa, todas instigantes.
Nas mãos de um autor habilidoso, como Danilo Beyruth, a ideia é promissora. Ele opta por uma abordagem histórica e mais realista. Tanto o texto quanto os detalhes dos desenhos de armaduras, artefatos e arquitetura mostram um trabalho cuidadoso de pesquisa.
Há preocupação de situar o leitor quanto a fatos, datas e contextos, que são intercalados com páginas de confrontos ferozes entre tropas que possuem a mesma tradição romana de combate.
É dos campos de batalha, mais precisamente na página 50, que o leitor se depara pela primeira vez com a figura de Jorge e entende por que ele é tão celebrado como guerreiro. Sua habilidade em combate é impressionante, mas completamente verossímil, de acordo com a proposta realista do autor.
Mesmo abrindo mão, em um primeiro momento, do fantástico e do simbólico, Beyruth tem possibilidades riquíssimas para conduzir a história. Os bastidores do império, as intrigas pelo poder e, principalmente, o embate entre as religiões romana e cristã.
Fica evidente o desgosto do Imperador Diocletianus diante da expansão cristã e da ameaça que ela significa à sua própria fé. Quem tem a “verdade”? Não importa. A única certeza é de que pessoas vão morrer por isso.
Dentro dessa perspectiva mais comprometida com a realidade, como fica o famoso dragão de São Jorge? Beyruth apresenta uma solução fascinante, quase tão extraordinária quanto uma criatura mitológica. E este primeiro volume termina no melhor momento, deixando o leitor ansioso pela continuação.
O desenho de Danilo Beyruth é muito bem estruturado e o mesmo vale para suas composições de páginas. Entretanto, é nítido que o formato e a produção gráfica não colaboraram para valorizar o trabalho do autor.
Em comparação com Bando de Dois, vê-se que páginas maiores e uma impressão que aumentasse os contrastes do preto e do branco e intensificasse os cinzas poderia deixar as imagens com mais peso, ressaltando-as. Sem contar o tamanho (pequeno) das letras, que dificulta a leitura.
Não se sabe dizer quais as razões que levaram a Panini a essa escolha editorial, mas, possivelmente, foi para tornar a obra mais acessível pelo custo e tentar ampliar o público leitor. Mesmo assim, na opinião deste resenhista, São Jorge merecia uma publicação em formato maior, talvez em um único volume.
Ótima a iniciativa da Panini de publicar mais um autor nacional (o primeiro foi Vitor Cafaggi, com Valente) em bancas. Mas, editorialmente, faz falta um texto sobre a influência de Jorge em tantas culturas e religiões e a pesquisa de Beyruth. Além disso, há alguns erros de revisão, como “impresionar” (p. 21) e “ursupador” (p. 26). Nada que atrapalhe o prazer da leitura, mas vale ficar mais atento.
Classificação