Superman - O legado das estrelas - Encadernado
Editora: Panini Comics – Edição especial
Autores: Mark Waid (roteiro), Leinil Francis Yu (desenhos), Gerry Alanguilan (arte-final) e Dave McCaig (cores).
Preço: R$24,90
Número de páginas: 304
Data de lançamento: Junho de 2006
Sinopse
A série apresenta uma releitura da origem e do mito do Superman para os novos tempos.
Dos últimos instantes do planeta Krypton até as viagens de Clark Kent pela África, avançando até sua estreia como super-herói em Metrópolis e o primeiro grande triunfo, é mostrada a jornada do homem destinado a se tornar o maior herói de toda a existência.
Positivo/Negativo
Quando criança, no fim da década de 1970, o roteirista Mark Waid teve uma experiência que ditou os rumos de sua vida e moldou o seu destino. O garoto assistiu no cinema ao sucesso Superman – O filme, produção dirigida por Richard Donner e estrelada pelo saudoso Christopher Reeve, que mudou as percepções do mundo sobre os super-heróis de quadrinhos.
Para Waid, contudo, o Superman representou a figura paterna de que ele tanto sentia falta. Naquele momento, ele decidiu que, não importava no que viria a trabalhar quando adulto, apenas que teria relação com o Homem de Aço.
O tempo passou, e cresceu o envolvimento de Waid com a indústria dos quadrinhos, primeiro como jornalista especializado, depois editor e, finalmente, como um dos mais aclamados escritores do meio. Sua visão sobre um futuro sombrio do Universo DC, na minissérie Reino do Amanhã, em parceria com Alex Ross, permitiu que ele mostrasse todo o seu empenho numa história envolvendo o último filho de Krypton, enquanto refletia sobre os rumos do mercado.
Mas ele queria mais.
O desejo quase se realizou em 1999, quando Waid foi escalado para uma reformulação do Superman, que escreveria junto a Grant Morrison, Mark Millar e Tom Peyer, mas a DC vetou o projeto optando por uma direção menos ousada.
Foi apenas em 2003 que o autor deu vida a seu maior sonho, com a série em 12 edições Superman – O legado das estrelas (Birthright, no original), uma narrativa emocionante que fica ainda melhor com o passar dos anos.
A obra passional de Mark Waid com o ilustrador Leinil Francis Yu descarta quase duas décadas de cronologia oficial da DC Comics, mas marca o resgate de muito da verdadeira essência perdida do Homem de Aço.
O roteirista partiu da busca das motivações do jovem Clark Kent ao vestir o icônico uniforme azul e vermelho, e encontrou o valor de fazer o que é certo e ajudar os necessitados. A jornada do herói é vista como um caminho de realização pessoal, num ciclo de redenção e triunfos consecutivos.
No cerne de tudo está a herança kryptoniana de Kal-El, que ele conhece apenas por meio de imagens de um livro eletrônico enigmático, sintetizando esperança e coragem. Assim, Waid segue na direção contrária do que fora estabelecido pelo artista John Byrne em sua minissérie The Man of Steel, mas guarda ainda alguns elementos do trabalho do colega.
A participação dos pais adotivos Jonathan e Martha Kent, em especial, volta a ganhar destaque em O legado das estrelas, mas sob a pena de Waid o Superman é muito mais um cidadão do mundo e, finalmente, de todo o universo.
Alguns elementos da história, na época de seu lançamento, foram entendidos como uma tentativa da editora de aproximar a cronologia do Superman do universo do seriado televisivo Smallville, mas as referências de Waid são muito menos óbvias e mais profundas.
O roteirista buscou inspiração direta no trabalho do escritor Elliot S! Maggin, especificamente em seus dois romances estrelados pelo Superman, Last Son of Krypton e Miracle Monday.
A abordagem para o passado do vilão Lex Luthor e sua amizade com Clark Kent na juventude, em Smallville, é toda calcada na obra de Maggin. Mesmo a controversa capacidade do herói de enxergar a aura energética de todos os seres vivos remete aos conceitos do valoroso autor.
Curiosamente, o pequeno detalhe de que Clark Kent seria vegetariano em decorrência deste poder especial dividiu opiniões e esquentou as discussões entre os fãs, e tais elementos do enredo logo foram esquecidos por roteiristas posteriores.
Por outro lado, as participações de figuras conhecidas, como a jornalista Lois Lane e o fotógrafo Jimmy Olsen, estão entre as mais acertadas de sua trajetória, e digna de nota também é a cena da entrevista de emprego de Clark Kent para o Planeta Diário.
Mas a maior contribuição de Waid para a saga da origem do Superman foi mesmo o fato de o herói ter que enfrentar a desconfiança da população em seus primeiros dias, por conta da denúncia sobre sua origem alienígena, feita por Lex Luthor. E a narrativa só teve a ganhar com toda essa ousadia e criatividade.
Apesar de suas qualidades evidentes, Superman – O legado das estrelas não foi tão bem recebida pelo público na época, marcando a oposição entre os seguidores do Superman de John Byrne e os nostálgicos pela versão pré-Crise nas Infinitas Terras. A própria DC falhou em sua tarefa de mostrar apoio ao trabalho de Waid e Yu,custando a oficializar a versão da dupla na cronologia de seu universo.
Ainda assim, após revisões posteriores no mito oferecidas por Geoff Johns e Grant Morrison, e sem a preocupação com a continuidade oficial da editora, fica mais fácil identificar O legado das estrelas como uma história apaixonante e vigorosa, com o herói kryptoniano em seus elementos mais significativos.
Waid pretendia escrever uma espécie de programa especial de TV com tudo o que uma pessoa precisa saber sobre o Superman, o herói em essência. E após uma leitura atenta da trama, é certo afirmar que conseguiu.
Classificação