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Tarzan – A origem do Homem-Macaco e outras histórias

17 março 2014

Tarzan – A origem do Homem-Macaco e outras históriasEditora: Devir – Edição especial

Autores: Joe Kubert (argumento, roteiro e desenhos), Tatjana Wood (cores) e Marquito Maia (tradução) – Originalmente em Tarzan # 207 a # 214.

Preço: R$ 49,00

Número de páginas: 208

Data de lançamento: Maio de 2010

Sinopse

Primeiro de três volumes com todas as histórias de Tarzan escritas e desenhadas por Joe Kubert, publicadas originalmente entre 1972 e 1975, pela DC Comics.

O álbum brasileiro foi feita a partir do material original restaurado pela editora norte-americana Dark Horse e traz oito histórias: A origem do Homem-Macaco, A vingança de um filho, Uma companheira para Tarzan!, Civilização, Terra de gigantes, O prisioneiro!, Balu dos grandes macacos e O pesadelo!

Positivo/Negativo

Parece indiscutível que os quadrinhos norte-americanos de aventura surgiram de fato com a adaptação que Hal Foster (1892-1982) fez em 1929 do herói dos pulps e da literatura de aventura Tarzan, lançado em 1912 na novela Tarzan of The Apes, de Edgar Rice Burroughs (1875-1950).

Até então, os comics que se faziam nos Estados Unidos – produzidos para jornais e revistas de variedades, já que os gibis não tinham sido ainda criados – se dividiam entre o infantil e o humor para leitores de todas as idades, sob rigorosa censura moral e política das agências distribuidoras, os syndicates.

Com traço mais adulto e clássico, Foster foi o primeiro de uma infinidade de artistas que recriaram nos quadrinhos a lenda de Tarzan – na verdade, inventada por Burroughs. E ele o fez com fidelidade e competência.

O mesmo desafio se impôs, 40 anos depois, a outro gênio dos comics, o também norte-americano Joe Kubert (1926-2012).

Dono de um dos traços mais  originais dos quadrinhos de todos os tempos, quando começou a escrever e a desenhar Tarzan em 1971, a convite da DC, Kubert tinha 46 anos e estava no esplendor da sua forma. Conseguira fugir das regras do mercado ao defender para si um estilo próprio em que valia mais a perfeição anatômica, a construção dos cenários e as expressões faciais – seu Tarzan tem sempre um olhar triste e trágico – do que a arte-final caprichada, cuidadosamente construída com pincéis. Seus rabiscos de bico de pena e caneta acabaram por lhe dar um charme especial e o transformaram em um gênio reconhecido e artista cultuado.

O álbum que a Devir publicou com suas histórias de Tarzan é impecável. O cuidadoso zelo editorial inclui textos explicativos, além de prefácio do próprio Kubert, bastante revelador sobre a sua relação com o personagem. Impressa em papel off-set e em cores, capa cartonada com orelhas, seu corte no formato 16,6 x 24 cm reúne as oito primeiras histórias dessa fase inesquecível de Tarzan, lançadas no decorrer de 1972.

Em 2011 e 2012, a Devir publicou os volumes que completam a passagem de Kubert pelas histórias do herói. Na década de 1970, vale lembrar, essas histórias saíram em revistas de linha e álbuns especiais pela Ebal.

As quatro primeiras aventuras deste álbum inicial mostram a origem do personagem, seu encontro com Jane e a morte da mãe de criação, a gorila Kola, tão recontada em dezenas de filmes, tiras de jornais e gibis. As duas primeiras foram adaptadas de Tarzan dos Macacos, publicada na All-Story Magazine (1912).

Em Terra de gigantes, Kubert divide a autoria do roteiro e dos desenhos com o lendário Burne Hogarth (1911-1996), outro mestre que produziu Tarzan em quadrinhos – parte desta história reprisa as tiras da United Features publicadas entre abril e julho de 1942. Na trama, depois de arrastado inconsciente pela correnteza do rio, o Homem-Macaco acaba em um vale escondido, onde os nativos são gigantes.

O prisioneiro! veio do conto The capture of Tarzan (de Contos da Selva de Tarzan, de Burroughs) e trata da amizade entre o herói e o elefante Tantor, que se ajudam em momentos de perigo.

A história seguinte, Balu dos Grandes Macacos, é uma versão quadrinizada do conto The Fight for the Balu, de Burroughs, e tem a curiosidade de acontecer entre Tarzan e os animais, sem a presença de humanos – quase sempre malvados e destruidores da harmonia selvagem.

Por fim, O pesadelo!, que resultou de um conto homônimo do criador do personagem. Dessa vez, o Rei da Selva come uma porção de carne estragada em uma aldeia dos gomangani (imaginária tribo de nativos africanos) e, em consequência disso, tem um terrível pesadelo. Quando se dá conta, ele se vê frente a frente com um feroz gorila albino, que terá de enfrentar. É quando se vê acometido por uma dúvida:  o ameaçador adversário faz parte do seu sonho ou é real?

Kubert não exagerou na sua transposição do herói de Burroughs para os quadrinhos. Ao contrário, mostra fidelidade aos textos originais, ajudado por seu impressionante domínio narrativo da linguagem dos comics, tão difícil até mesmo para experientes desenhistas.

Por outro lado, como roteirista, destaca-se principalmente pela economia dos textos e no talento para tirar da densidade textual de um romance ou dos contos o extrato, a essência do texto original, e complementá-lo com a força da imagem.

O próprio ilustrador lembrou, no prefácio deste volume, que descobriu sua paixão pelos quadrinhos exatamente lendo o Tarzan de Foster. Diferentemente do primeiro desenhista, no entanto, ele se destaca ao dar movimento ao herói. Sem tirar o mérito da grandiosidade do trabalho de Foster, adepto dos quadrinhos estáticos, Kubert optou por torná-lo mais dinâmico e adequado aos novos tempos.

Como se o primeiro tivesse adotado o filme mudo em preto e branco como referência – sua história não tem balões – e, o segundo, o cinema colorido e falado. O modo de Kubert narrar é quase infantil, como os contadores de histórias para crianças, de forma singela, direta e, não raro, emocionante, com um toque de humanismo que parece vir dos velhos folhetins.

Como acontece no segundo episódio, quando volta à casa de seus pais, descobre os livros e a escrita e percebe que é diferente dos irmãos símios. Ou quando sua mãe Gora é morta por um caçador impiedoso de uma tribo. Curioso notar que o artista, no velho molde de atrair novos leitores, usa as duas primeiras páginas de cada história para relembrar o episódio anterior.

O Tarzan de Kubert tem cerca de 30 anos, cabelos escuros azulados e não é tolo como nos primeiros filmes. Nada nele parece o ideal do bom selvagem. Aprendeu a ler sozinho, apesar de não falar o idioma paterno, tem cara de valente e é intimidador até mesmo diante dos perigos que ameaçam a floresta.

Kubert assumiu a tarefa de revitalizar Tarzan quando algo eficiente parecia difícil, pois o personagem se achava por demais desgastado, depois de tão longa carreira no cinema e nos quadrinhos.

E ele conseguiu.

Sua coleção de histórias, sem dúvida, consagra a força do personagem e seu inesgotável potencial. Reler essas aventuras tanto tempo depois é uma rara oportunidade para reviver ou conhecer – para as novas gerações – a essência e a magia das histórias em quadrinhos, quando consumir gibis era algo essencialmente divertido. Sem o rebuscamento de tramas de heróis deprimidos. Como um filme da Sessão da Tarde.

Se o tempo costuma construir ou ressaltar o que se pode chamar de obra-prima, o Tarzan de Joe Kubert é um bom exemplo disso.

Classificação

5,0

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