Tiki – O menino guerreiro
Editora: Quadro a Quadro – Edição especial
Autores: Giancarlo Berardi (roteiro) e Ivo Milazzo (arte).
Preço: R$ 36,00
Número de páginas: 104
Data de lançamento: Novembro de 2013
Sinopse
A história de vingança de um jovem índio carajá sem povo, munido apenas de sua coragem, contra a devastadora tecnologia militar do homem.
Uma história sobre a vida e a morte num tempo em que culturas milenares eram sistematicamente dizimadas em nome do progresso.
Positivo/Negativo
Diz um famoso ditado que “antes tarde do que nunca”. Tiki – O menino guerreiro foi publicado pela primeira vez em 1976, dividido em seis capítulos na revista italiana Il Giornalino, da Edizioni San Paolo.
O jovem índio foi publicado por toda a Europa, mas nunca foi lançado no Brasil. Demorou quase 40 anos para o leitor nacional conhecer Tiki, o jovem índio carajá criado pelos italianos Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo, também criadores do sucesso Ken Parker.
A genialidade do roteiro de Berardi está em pegar a história da construção da rodovia transamazônica, na década de 1970. O fato de que isso seriam usadas bombas de napalm para abrir clareiras na mata fechada serve como pano de fundo para o autor tecer críticas ao progresso, à modernidade e à preservação da nossa história, aqui representada pelos índios.
Logo no primeiro capítulo, o leitor vê Tiki sofrer uma grande perda e tendo que ser provar digno de respeito por seus semelhantes na aldeia. Uma das bombas de napalm atinge a sua tribo e todos morrem. Só ele sobrevive porque tinha saído para caçar.
Ao contar a sua busca de vingança, Berardi não é nada romântico para descrever as aventuras e descobertas feitas pelo pequeno guerreiro. Ele é um índio esperto e esquivo, que se gaba por descobrir o segredo do pajé da aldeia e usar isso a seu favor.
Além disso, se acha superior ao contar para uma índia de outra aldeia como sua tribo era melhor, por ter roubado deles várias vezes.
No entanto, Tiki é jovem e imaturo, e está aprendendo com as circunstâncias que crescer não é apenas questão de amadurecimento, mas sim de sobrevivência.
Em paralelo, o progresso da civilização com o uso de armas e bombas se mostra um risco quando não se compreende direito o poder e a responsabilidade que se tem nas mãos.
Na trama, essa figura é representada por militares e engenheiros que querem apenas abrir passagem para o tal “progresso”.
O autor equilibra muito bem esses temas, para “discuti-los” com o leitor e fazer quem está segurando o álbum nas mãos pensar mais um pouco ao terminar a história.
Apesar de o tema central estar ligado à faraônica e nunca acabada transamazônica, a obra permanece atualíssima, justamente pela discussão que fomenta.
E o que ajuda ressaltar essas questões são os belíssimos desenhos de Ivo Milazzo, que domina o uso de preto e branco como poucos, dando à narrativa a densidade necessária. A expressividade e a movimentação de um quadro para outro chegam a ser quase cinematográficas.
Ponto para a pequena editora Quadro a Quadro pelo álbum, que conta com uma apresentação escrita por Berardi e um desenho exclusivo de Milazzo, e por, finalmente, ter trazido para o Brasil o índio filho de pais italianos.
Classificação