Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Tintim no Tibete

21 dezembro 2005

Tintim no TibeteEditora: Editora Record - Edição especial

Autores: Hergé (texto e arte).

Preço: variável, dependendo do sebo (fora de catálogo)

Número de páginas: 64

Data de lançamento: 1971

Sinopse

Tintim lê sobre um desastre aéreo no Himalaia, e pouco depois tem um pesadelo com seu amigo Tchang, no qual este se encontra à beira da morte, e lhe pede ajuda.

Por coincidência, Tintim recebe uma carta de Tchang, na qual o garoto avisa que irá visitá-lo. Então, o jovem repórter descobre que o avião do desastre é o mesmo em que viajava seu amigo e parte para tentar resgatá-lo.

Na companhia de Milu, do Capitão Haddock e do guia sherpa Tharkey, Tintim viaja pelas montanhas do Nepal em busca de Tchang.

Positivo/Negativo

Hergé é considerado o pai do estilo "linha clara" (em que a espessura do traço não varia e o uso de sombras é quase inexistente) e Tintim é seu personagem mais famoso, um clássico dos quadrinhos.

Quando produziu este álbum, o vigésimo da série, Hergé (cujo nome verdadeiro é Georges Remi) estava num momento conturbado de sua vida pessoal.

Seu casamento de mais de 26 anos estava a ponto de terminar e o autor se encontrava exausto de tanto trabalhar. Hergé passou a ter pesadelos constantes, nos quais subia uma série de rampas e encontrava uma espécie de alcova, na qual um esqueleto branco tentava lhe agarrar e ele era encoberto por uma imensidão alva.

Em função de seus problemas conjugais, Hergé se apaixonou por uma jovem colorista de seu estúdio, Fanny Vlamynk. Anos mais tarde, ele se divorciaria de Germaine, sua primeira mulher, e se casaria com a ex-funcionária.

Devido aos pesadelos e a seus dilemas morais, o autor, que fora criado num ambiente de fortes valores católicos, contatou o psicanalista suíço, professor Ricklin, discípulo de Carl Jung, que lhe sugeriu que parasse imediatamente de trabalhar.

Hergé fez exatamente o contrário, e iniciou a publicação de mais uma aventura do personagem, na revista Tintim (edição belga), uma publicação semanal.

As páginas de Tintim no Tibete começaram a ser publicadas em setembro de 1958 e a aventura se encerrou em novembro de 1959 (na versão francesa da revista Tintim, saiu entre 30 de outubro de 1958 e 7 de janeiro de 1960).

A trama deste álbum é mais simples que a de outros. Não há um vilão, apesar da presença do Yeti, e é talvez a mais emotiva da série, mostrando a importância dos laços de amizade.

O episódio tem um eco real na vida do autor. O personagem Tchang foi inspirado em Chang Chong-jen (dependendo da fonte de referência a grafia deste nome vária bastante - Chang Chongren, e Tchang-Tchong-jen são algumas das variantes).

Antes da publicação de O Lótus Azul, o padre Gosset, capelão da Universidade Leuven, pediu a Hergé que pesquisasse a cultura chinesa antes de iniciar o novo álbum. Para isso, lhe apresentou, em 1934, Chang, um estudante chinês de pintura e escultura.

Chang estudava artes, desde 1931, na Académie des Beaux-Arts, em Bruxelas. Foi ele que instruiu Hergé sobre a cultura e filosofia chinesa. O encontro foi tão importante para o "pai" de Tintim, que a partir de então, os álbuns do personagem passaram a ser minuciosamente pesquisados.

Os dois amigos perderam contato na vida real depois que Chang voltou à China. Nessa época, o Japão invadiu aquele país, houve a Segunda Guerra Mundial e a Bélgica (onde vivia o autor) foi ocupada pelos alemães; e ainda houve uma guerra civil chinesa.

Hergé e Chang se reencontram na Bélgica, em 18 de março de 1981, 47 anos depois de terem se conhecido. O evento teve ampla cobertura da imprensa, e ambos participam de convenções e entrevistas.

O personagem Tchang foi imortalizado em dois álbuns: O Lótus Azul e Tintim no Tibete.

A pesquisa da obra inclui referências literárias e fotográficas diversas (inclusive da revistaNational Geographic).

Quem forneceu amplo material sobre o homem das neves, o Yeti, a Hergé foi seu amigo Bernard Helveumans, autor de um livro sobre animais misteriosos e desconhecidos e que lhe ajudara com a pesquisa dos álbuns Rumo à Lua e Explorando a Lua.

Além disso, Hergé falou com Maurice Herzog, que havia escalado o monte Anapurna e afirmava ter visto pegadas de um animal desconhecido. Na época da produção do álbum, no final dos anos 50, o Yeti era manchete de jornais e foram feitas algumas expedições científicas para encontrá-lo.

A busca do autor pela perfeição resultou, após a publicação do álbum, num episódio no mínimo curioso. Um representante da Indian Airways reclamou que a história prestava um desserviço à sua companhia, pois mostrava um acidente com um de seus aviões, algo que nunca havia ocorrido.

Em função disso, Hergé concordou em modificar o episódio, e nas edições seguintes o avião passou a pertencer à fictícia Sari Airways.

A aventura publicada pela Record traz a versão anterior a esta mudança. A Companhia das Letras, que retomou os álbuns do personagem deve publicá-la já com esta pequena alteração.

Em função de suas dificuldades pessoais, esta passou a ser aventura preferida de Hergé. Antes disso, sua predileta era O Segredo do Licorne.

Mais de 45 anos depois de seu lançamento, Tintim no Tibete continua divertido e interessante. Uma ótima opção para os amantes do humor e da aventura.

Classificação

5,0

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