Tungstênio
Editora: Veneta – Edição especial
Autor: Marcello Quintanilha (texto e arte).
Preço: R$ 54,90
Número de páginas: 192
Data de lançamento: Maio de 2014
Sinopse
Uma agitada história policial e social baiana. Um ex-sargento do exército, um traficante, um policial e sua esposa em crise. Tudo isso em uma história que revela altos e baixos, podres e magnanimidade, vilões e heróis.
Positivo/Negativo
Marcello Quintanilha se mostra – mais uma vez – um dos grandes contadores de histórias do Brasil. Seu álbum Tungstênio, cujo nome remete ao elemento químico mais pesado que pode ser usado por um ser vivo, apresenta uma trama na qual todos são heróis. E vilões.
Não há, em momento algum, elementos maniqueístas. O bom é bom, mas também é mau. O mau é mau, mas também é bom. O ser humano retratado na sua melhor forma, com suas incongruências, suas falhas e seus acertos, suas idiossincrasias e seus sensos comuns.
A história narra, ao mesmo tempo, fragmentos da vida de quatro personagens: um ex-sargento, um traficante meia-boca de esquina, um policial durão e a esposa dele. Essas vidas e o crime ambiental que serve como motivador formam o fio condutor da trama.
Quintanilha consegue contar as quatro histórias ao mesmo tempo, com um uso primoroso dos flashbacks e das câmeras. E que câmeras! O álbum só não pode ser classificado como cinematográfico, porque é melhor que um filme.
O autor utiliza o que há de melhor na linguagem dos quadrinhos e faz o que quer com o tempo. Algumas transições entre quadros levam horas. Outras, fragmentos de segundos. Algumas ocorreram em um passado remoto. E outras em um passado recente. O mais interessante, porém, é que estas transições, em certos momentos, estão lado a lado nas páginas.
Poucos autores sabem dilatar e encurtar o tempo para contar uma história como Quintanilha.
A tensão e o suspense permeiam todo o álbum. É impossível parar de ler. Você precisa saber o que vai acontecer e, ao mesmo tempo, descobrir como os personagens chegaram até o ponto em que se encontram. E o autor vai dando pistas de tudo isso ao longo da história. Ao final, todas as pontas se fecham, em um trabalho de roteiro primoroso.
As diversas camadas, as motivações, os personagens e as reviravoltas que compõem a trama são todas construídas com esmero, com a delicadeza de quem tece uma fina e elegante linha. A rudeza, a brutalidade e a injustiça oriundas da humanidade e tão visíveis na sociedade brasileira são evidentes.
O desenho de Quintanilha também merece respeito. O uso de diversos pontos de vista, os momentos de câmera lenta, as expressões nos rostos dos personagens são fascinantes. Mas, melhor do que isso, ajudam a moldar a história.
Em determinados momentos, o desenho sozinho consegue transmitir os pensamentos dos personagens. Em outros, é a fluidez dos movimentos que ajudam a contar a história, já que adicionam velocidade e força à trama.
O trabalho da Veneta é competente. A começar pela cor da capa, um rosa chocante que chama muita atenção nas prateleiras de qualquer livraria. E o papel couché destaca a arte de Marcello Quintanilha.
Enfim, um trabalho impecável de Quintanilha. Um daqueles álbuns que são obrigatórios. Especialmente para aprender (muito) sobre a linguagem dos quadrinhos e a forma de contar uma história.
Classificação
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