Turma da Mata – Muralha
Editora: Panini Comics – Edição especial
Autores: Artur Fujita (roteiro), Roger Cruz (arte) e Davi Calil (cores).
Preço: R$ 21,90 (capa cartonada) e R$ 31,90 (capa dura)
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Setembro de 2015
Sinopse
Nesta releitura dos personagens criados por Mauricio de Sousa, um metal tão raro quanto rentável coloca a Turma da Mata – Jotalhão, Tarugo, Coelho Caolho, Raposão e Rita Najura – e o reino de Leonino em lados opostos. O confronto é inevitável.
Positivo/Negativo
Com o Jotalhão (o mais famoso e bem sucedido “elefante-propaganda” de extrato de tomate do Brasil) na linha de frente, os personagens da Turma da Mata estrelam a nona edição do selo Graphic MSP.
Os simpáticos animais criados por Mauricio de Sousa entre as décadas de 1960 e 1970 ganharam uma versão de Artur Fujita, Roger Cruz e Davi Calil com uma pegada bastante aventureira e cheia de ação.
O que chama a atenção é o tom político da trama, girando em torno do metal chamado calerium. Quando em contato com a água, ele aquece e gera vapor, responsável pelo transporte neste universo, representado por naus flutuantes, dentre outras utilidades bélicas e econômicas.
Esse foi o fator principal para ter uma cisão na mata, tempos atrás, quando o pai do Leonino deixou o local para construir seu reino numa montanha envolta por uma muralha intransponível. Do outro lado da barreira, os habitantes da mata eram sequestrados para trabalharem nas jazidas do raro metal.
Com elementos medievais (feudo, catapultas, armaduras e espadas), aliadas ao modernismo derivado do calerium, Muralha apresenta uma interessante leitura steampunk dos personagens.
Acertadamente, o roteiro de Fujita (autor de obras como Ascensão & queda de Big Mini e Escrevendo com o lado esquerdo do fígado) explora as características dos protagonistas acrescentando novos conceitos.
Rita Najura – uma formiguinha eternamente apaixonada pelo Jotalhão nos gibis de Mauricio e que chega a flertar com ele aqui, sem nenhuma tensão romântica – é ligada a espionagem, em virtude do seu tamanho. Quando ela é pega na ação, os soldados do reino chamam uma rastreadora personificada na figura de um tamanduá.
Já a capacidade intelectual do cágado Tarugo foi utilizada na criação uma armadura de combate para si, movida a calerium; a arte de puxar o saco do Luís Caxeiro garante sua posição de primeiro-ministro do Rei Leonino II; o Coelho Caolho faz jus ao nome com uma consequência do conflito e por aí vai.
Com desenhos dinâmicos de Roger Cruz, auxiliado pelas cores fortes e “tropicais” de Calil, o álbum tem várias sequências de ação bem conduzidas, com destaque para o ataque de Jotalhão às naus, intercalando com momentos sutis, como as inserções de um espião real pelos cantos dos quadrinhos ou como um personagem aprisionado pelos “rebeldes” da mata escapa.
São apresentadas outras sutilezas que amarram de forma coerente as elipses em muitos momentos, como na fuga de Jotalhão e Rita pelo rio, onde é mostrado posteriormente um Tarugo com sua armadura molhada, indício do resgate.
Cruz e Calil já trabalharam juntos no autoral Quaisqualigundum, mas o que dita as páginas da HQ é o gancho voltado ao super-herói e a aventura que fez a fama do desenhista de Turma da Mata – Muralha, artista de vários títulos da franquia X-Men nos anos 1990.
Mas nem tudo são flores na mata do álbum. Há momentos em que certa confusão gráfica deixa de causar o impacto necessário às cenas de ação, vide o painel duplo nas páginas 52 e 53.
O volume brinca com outros detalhes para quem lia a Turma da Mata, como os 118 filhotes do Coelho Caolho, a piada envolvendo o extrato de tomate que levou Jotalhão à fama e a justificativa das presas cerradas do pacífico elefante verde, que, quando fica vermelho para expressar sua fúria, indica uma alusão à sua cor original rosa, nas primeiras histórias dos anos 1960.
De maneira geral, apesar dos seus acertos, a obra deixa a desejar pelo “mais do mesmo” apresentado na espinha dorsal do enredo. Nada contra a base da famosa “jornada do herói”, paradigma identificado em diversas outras narrativas do gênero.
No entanto, a chamada à aventura, sua recusa e provação, dentre outros passos bem marcados na HQ, deixa àquela sensação de déjà vu quando se folheia uma edição ou saga do seu super-herói preferido, salvo pouquíssimas exceções nos dias de hoje.
Para uma leitura descompromissada ou para um “aventureiro de primeira viagem” (ou segunda, já que o selo Graphic MSP vem resgatando muitos dos que abandonaram a leitura dos gibis), Turma da Mata – Muralha deve funcionar de modo bem mais eficiente.
Os leitores mais familiarizados com esse tipo de estrutura já estão cansados daquelas falas clichês e vazias que os vilões esbravejam de cor, personificada aqui nas figuras do Zé Fuinha e seu comparsa Zé Furão, originalmente “os pilantras da mata”.
Inclusive, até a arma que tem um valor sentimental para o herói, entregue num momento estratégico para o ápice da guerra, vem no pacote.
Mesmo apontando as “muralhas” ideológicas nas discussões de quem é o culpado entre os personagens, as diferenças são todas postas de lado por um “bem maior” e permanecem de escanteio após o calor da batalha final. Simples assim.
Nesses sentidos supracitados, a história em si perde força, apesar de Artur Fujita apresentar um bom exercício criativo para a nova visão dos personagens, fugindo radicalmente do seu universo original, no caso, o cartunesco.
No final da escalada, Muralha é uma aventura ainda acima da média, o que reflete através do talento e dos trabalhos anteriores do trio de quadrinhistas escolhidos para a missão. Mas poderia ser bem melhor.
Classificação