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Reviews

A vida de Jonas

6 junho 2014

A vida de JonasEditora: Zarabatana – Edição especial

Autores: Magno Costa (roteiro e desenhos) e Marcelo Costa (cores).

Preço: R$ 40,00

Número de páginas: 64

Data de lançamento: Abril de 2014

Sinopse

Um ex-alcoólatra abandonado pela mulher e desempregado lutando para ficar sóbrio e ter sua tão sonhada segunda chance. Uma história sobre corações partidos, amizades testadas, fantasmas pessoais e cicatrizes que não se curam.

Positivo/Negativo

À primeira vista, vendo a sua belíssima capa hiper-realista, A vida de Jonas parece um livro infantil, mas, quando se passa a vista pela sinopse, o álbum se ambienta em um clima pesado e adulto, carregado de culpa, autopiedade, egoísmo e vício.

Junto com seu irmão gêmeo Marcelo, Magno já havia utilizado sua arte em personagens antropomórficos, a exemplo do independente Bro (coletivo Bimbo Groovy) e de Oeste Vermelho (Devir), que lhe rendeu o Troféu HQ Mix de Desenhista Revelação de 2012. Desta vez, ele se inspira em fantoches do tipo Muppets, os famosos personagens criados pelo norte-americano Jim Henson (1936-1990) para séries de TV e cinema.

Se for para fazer paralelos, a obra seria como se os Muppets fossem dirigidos por nomes como Billy Wilder ou Blake Edwards, diretores de Farrapo humano (1945) e Vício maldito (1962), respectivamente, clássicos acerca da temática do alcoolismo.

A história parte da íngreme e tortuosa fase de reabilitação social de Jonas, um ex-alcóolatra que perdeu a mulher e tenta recuperar sua vida.

Seus amigos ficam com um pé atrás ou simplesmente desaparecem do seu círculo, que se torna cada vez mais unitário pela compressão da solidão e do abandono marginalizado pela sua vida social em virtude dos pecados pregressos.

A vida de Jonas é de uma franqueza que se torna desconcertante. Não dá para deixar de sentir pena do protagonista, que faz suas compras e para atônito em frente da seção de bebidas do estabelecimento ou comprime seu nariz de espuma no vidro da viatura quando se excede em casa, na época em que ainda estava com sua esposa.

O álbum poderia muito bem ser retratado com “seres humanos de verdade”, mas as marionetes – não somos todos manipulados pelas cordas dos nossos sentimentos e vícios? – oferecem uma nova perspectiva e um quê a mais na tragédia.

O sorriso sem graça do personagem, uma constante pelo motivo supracitado, pode perfeitamente se espelhar em muitos momentos amargos que poderíamos passar, nos quais o mundo continua girando sem você. Todos à sua volta podem ver seu sorriso amarelo, mas não podem ver você gritar desespera e silenciosamente por dentro.

A sociedade molda aquele sorriso constante como os cirurgiões plásticos o reconstroem nos rostos das inexpressivas madames que mascaram falsas simpatias repuxadas com o botox. Assim, a inexpressividade dos “fantoches” se torna uma expressividade palpável e interpretativa aos olhos mais atentos do leitor.

Jonas arranca raiva e compaixão ao mesmo tempo, seja pela situação em si, seja pela sua falta de amor próprio ou pelos momentos egoístas. Um personagem falho, que tem suas recaídas e acertos como qualquer “ser humano”.

O autor faz uma história sem esbarrar na pieguice, apesar de utilizar alguns clichês lúgubres, como o enterro na chuva ou a conversa frente ao túmulo. Cativa a HQ ser despretensiosa, rica, direta e simples, qualidades enaltecidas pelo prolífero quadrinhista André Diniz (de Morro da favela), que assina o prefácio da edição.

Por falar em chuva, a “tempestade que se avizinha” na narrativa faz uma metáfora para um momento fundamental. Houve também um temporal, literalmente, no relato bíblico da vida do profeta Jonas, que acaba sendo lançado ao mar pela agitação meteorológica, terminando no estômago de um “grande peixe”. Justamente foi o arrependimento que salvou o israelita.

No quesito artístico, Magno tem um traço limpo e elegante diante do clima pesado, que ganha ainda mais evidência no sensível e vital trabalho de cor de Marcelo Costa. Distintos também são as suas angulações, perspectivas, cortes temporais e “silêncios”.

O álbum foi feito com muito zelo e cuidado pela Zarabatana: capa com detalhes em verniz e orelhas, papel couché brilhoso, impressão de alta qualidade, formato 20, 4 x 29,5 cm e esboços de estudos dos personagens com os comentários de Magno nas páginas finais.

Vale ressaltar que o projeto teve o apoio da Secretaria da Cultura de São Paulo, por intermédio do ProAC – Programa de Ação Cultural.

Um trabalho de destaque nos lançamentos do primeiro semestre de 2014, feito por quadrinhistas que têm seu talento herdado no DNA, que deixaram de ser uma promessa a cada novo trabalho lançado. Altamente recomendado.

Classificação

4,5

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