Yo, Matías # 1
MATERIAL IMPORTADO
Editora: Editora Buenos Dias - Edição especial
Autor: Fernando Sendra (texto e arte).
Preço: 18 pesos
Número de páginas: 96
Data de lançamento: 2006
Sinopse
Matías é mais um menino a protagonizar uma tira cômica. O personagem tem o diferencial de ser ingenuamente divertido. Tem a inteligência e as sacadas de Mafalda, mas sem o teor excessivamente político e contestador.
Ele vive em seu universo infantil, como Calvin, porém é terno e sem o espírito bagunceiro da criação norte-americana de Bill Watterson. Herda de Snoopy o fato de a mãe, com quem dialoga em boa parte das tiras, nunca aparecer em cena. Mas não é tão filosófico quanto Charlie Brown.
Positivo/Negativo
2008 teve diferentes fatos importantes ligados à área de quadrinhos. Um deles seguramente é a chegada - inexplicavelmente tardia - de obras argentinas em solo editorial brasileiro. O leitor daqui pôde ler tiras de Gaturro e Macanudo e a elogiada biografia de Che Guevara, roteirizada por Hector Oesterheld, tido como o principal escritor do gênero na Argentina, também inexplicavelmente inédito por aqui.
A saturação de obras norte-americanas no mercado, o dólar alto e o valor baixo do peso - a moeda argentina - em relação ao real se tornaram motivos suficientes para atrair editoras daqui a apostar no mercado vizinho. E, quando se passa a olhar com a atenção que merecem os quadrinhos argentinos, pode-se enxergar que há muito mais do que Maitena e Mafalda. Um caso, apenas para ilustrar, são as tiras de Yo, Matías, produzidas por Fernando Sendra para o jornal portenho Clarín.
Vêem-se em Matías elementos de diferentes crianças de outras tiras, mas, nem por isso, o menino deixa de ter um ethos próprio, calcado na ingenuidade. Seu bichinho de estimação, por exemplo, é uma garrafa, batizada de Catalina. Ele põe uma cordinha em volta do gargalo e fica perambulando com ela pelas ruas.
Em outra situação, está no banheiro, sentado na privada. Diz para a mãe que já terminou o "serviço". Ela então pergunta se ele tinha feito "número um" ou "número dois". "Número três", responde, para a surpresa da mãe. É quando não sai nada. E conclui, em pensamento: "Os que estão aqui reunidos, sentados em suas bancas, dão por finalizada a sessão sem ter conseguido os resultados previstos. Notifique-se e arquive-se".
O menino surgiu nas tiras de Prudencio, também criadas por Sendra. O homem boêmio, um dia, interagiu com um garoto. Era Matías. O novo personagem cresceu e, em 8 de agosto de 1993, assumiu o título da tira, publicada até hoje na página de quadrinhos do Clarín. As histórias começaram em preto-e-branco e, depois, passaram a ser produzidas em cores.
Nos anos seguintes, Matías passou a ser publicado também em forma de livro. A primeira coletânea foi lançada pela Ediciones de la Flor, tradicional editora de quadrinhos de humor na Argentina. Em 2006, a Buenos Días relançou as mesmas tiras, desde o início, porém colorizadas. Foram produzidos dez volumes.
No mesmo ano, a Ediciones B publicou tiras em outro formato, vertical, parecido com livros grandes voltados ao leitor infanto-juvenil. Foram três obras: Twist, Rock... y Mucha Conga!,El Regreso del Rulo Rebelde e ...Al Desnudo.
Matías bebe da mesma fonte de Calvin, Mafalda e Charlie Brown, seus "primos" de tiras com protagonistas infantis. Mas constrói uma personalidade própria, ingênua e cativante. Se o olhar editorial brasileiro, enfim, voltar-se ao país vizinho, vai descobrir este e muitos outros trabalhos, tão bons quanto. Quem sabe o menino não passeia com sua garrafa Catalina pelas bandas de cá em 2009.
Classificação
Paulo Ramos, jornalista e responsável pelo Blog dos Quadrinhos