A BALADA DE HALO JONES
Título: A BALADA DE HALO JONES (Pandora Books) - Edição especial
Autores: Alan Moore (roteiro) e Ian Gibson (arte).
Data: Fevereiro de 2003
Preço: R$ 38,00
Sinopse: Em pleno século 50, a jovem heroína Halo Jones, numa jornada de auto-conhecimento e frustrações, percorre diferentes quadrantes do espaço em busca de trabalho.
Positivo/ Negativo: Na década de 1950, nos Estados Unidos, Jack Kerouac deu início ao chamado movimento beatnik, com a publicação de On The Road. No livro em questão, o autor, com o nome de Sal, viaja pela América do Norte sem destino, mas com dois intuitos: redescobrir a América e a si mesmo.
Para tanto, a travessia do continente foi feita a pé e, principalmente, de carona. O comparsa e figura central do livro, Dean Moriarty, guia o autor por um tour de noitadas de muito jazz, bebida e estradas sem fim .
Para Dean, nada melhor que um carro de tanque cheio, uma auto-estrada de muitas vias e uma mulher insaciável.
Nesta "salada literária", cujos principais ingredientes são a exploração da memória, como inspirou Marcel Proust e o existencialismo de Sartre, Kerouac faz o elogio de uma coragem intelectual boêmia, afirmativa e nada conformista.
Na obra de Alan Moore não há a estrada, mas o infinito espaço sideral por onde se desloca uma Halo Jones angustiada e perdida.
Como os beats de 1950, a personagem ganha a estrada como forma de fugir de si mesmo e, paradoxalmente, correr para a autodescoberta: a cada nova decepção, fica a única certeza de que o movimento de chegada e partida não pode parar.
Prevalece nesta jornada de autoconhecimento espacial uma alegria efêmera e fugidia, que logo se dobra à melancolia da constatação de que a felicidade é uma miragem, e a instabilidade é a maior das prisões .
O autor de A Voz do Fogo cria para a personagem Halo Jones um mundo angustiante, impulsionado pelas mais diversas formas de violência. O planeta Terra possui um sistema social que classifica as pessoas entre aquelas que têm todas as garantias, e as que, não tendo nada, optam ou por lutar por qualquer coisa ou por se entregarem a uma tribo de pessoas que, voluntariamente, perdem a individualidade para passarem o resto da vida ouvindo uma batida dance hipnótica.
O espaço revela a Halo, com suas viagens por milhares de estrelas, que a última esperança de emprego e sustento é o exercito terráqueo, envolvido em infinitas guerras contra planetas ricos em minerais e dominado por terroristas.
Em meio a tamanho caos e desespero, Halo descobre alguma alegria de viver não entre humanos,andróides ou clones, mas entre cetáceos inteligentes que possuem, segundo Alan Moore, algum bom senso no século 53.
Não se deixe enganar pela estética Hanna-Barbera da capa. Que o leitor esteja preparado para fazer uma cativante viagem a um distante futuro tecnológico,mas, paradoxalmente, de práticas e costumes não tão estranhos assim às grandes cidades do início do século XXI.
De negativo, alguns descuidos com o português como acentos faltando (por quê, que em final de frase interrogativa ganha circunflexo) ou colocados erradamente (ítens). O único mais é um "entrei lá fazem cinco minutos" (página 176), já que o verbo fazer não flexiona nesse caso.
A adaptação do formato original da 2000 AD para o adotado no Brasil, apesar de a Pandora ter tentado compensar na diagramação, deixou a desejar. Afinal, somando-se a área branca acima e abaixo dos quadrinhos, nota-se que 6,5 cm de cada página estão praticamente vazios.
Mesmo assim, parabéns à Pandora Books pela ousadia de lançar este romance gráfico que não se dobra às receitas fáceis da ficção científica de heroínas hiper erotizadas. Até o momento, o melhor lançamento de 2003.
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