A BALADA DE JOHNNY FURACÃO
Editora: Flâneur - Edição especial
Autor: Eduardo "Sama" Filipe (roteiro e arte).
Preço: R$ 32,00
Número de páginas: 144
Data de lançamento: Junho de 2011
Sinopse
No passado, um racha entre possantes envenenados dirigidos por amigos resulta na morte de Johnny Furacão. No presente, às vezes, os pecados do pai poderão recair sobre os filhos ou sobre um triângulo amoroso no meio da estrada.
Positivo/Negativo
O mineiro Eduardo Filipe, também conhecido como Sama, teve que dar marcha à ré pelo retrovisor de suas reminiscências para produzir seu primeiro álbum solo: como combustível para a sua obra, usou os discos da jovem guarda que sua irmã escutava, especificamente nos acordes de Erasmo Carlos em Johnny Furacão (RGE, 1969).
A balada de Johnny Furacão vai além da música do "Tremendão", engatando e desenvolvendo velocidade em cinco marchas na queima de gasolina do tanque criativo de Sama, com referências que vão desde o cinema, passando pela TV e chegando à literatura pulp.
No primeiro capítulo - logo na "arrancada" - há um grande racha entre amigos. Impossível não remeter a Juventude Transviada, filme norte-americano dirigido por Nicholas Ray em 1955, ano derradeiro do astro "rebelde sem causa" James Dean. Uma grande sequência que já pega o leitor de jeito pela narrativa cinematográfica.
Passando pela segunda marcha, a trama muda seu foco para o casal Igor e Carol. O mais interessante é como a história começa a jogar elementos na estrada que, posteriormente, serão guinchados pelo autor.
A terceira marcha apenas mantém a velocidade, estabelecendo, de modo um pouco apressado, o triângulo amoroso, com a introdução de Alex, que já havia sido apresentado no primeiro capítulo, como filho do melhor amigo de Johnny Furacão.
A velocidade máxima passa a ser a atração na quarta marcha, com aquela cena clássica de quebra-quebra no boteco e uma eletrizante perseguição com direito a "Hells Angels" armados.
Passando para a quinta e última marcha, a que percorre mais quilômetros de páginas do álbum, Sama canta os pneus do seu possante e dá um cavalo de pau na narrativa, passando diante de seu para-brisa um realismo fantástico digno do antológico seriado de TV Além da Imaginação até receber a bandeirada na chegada.
Pelo que Eduardo Filipe vinha mostrando em antologias, vide a obscura fábula do Rei Barbicha, no álbum Irmãos Grimm em Quadrinhos, era de se esperar uma estreia acima da média, apesar de algumas derrapagens.
A bela arte no estilo aguada pinta o tom climático da história com um quê nostálgico, mesmo no presente. Interessante frisar que a mesma técnica oxigena o lado fantástico da HQ, remetendo aos velhos filmes da alemã Hammer e até ao expressionismo também da terra do chucrute.
Com domínio na direção das cenas de ação, em alguns momentos se percebe quando o artista relaxa e tira uma das mãos do volante, o que gera irregularidade em certos trechos.
Ainda assim, Sama habilmente coloca a trama na rota certa, chacoalhando novamente o carro nos buracos do realismo fantástico para depois asfaltar o desfecho de redenção.
Em alguns momentos, as situações parecem forçadas ou apressadas, talvez pelo "tempo cronológico" da HQ. Um exemplo é quando o autor para a história para ser didático em um correto alerta sobre os maus-tratos aos animais.
A edição da desconhecida Flâneur impressiona pela qualidade gráfica. Papel couché de boa gramatura, capa cartonada (sem orelhas), excelente impressão (principalmente porque usa muito preto), com direito a uma apresentação do desenhista Odyr Berardi (Copacabana) e um pequeno texto do ator Selton Mello na quarta capa, atestando a qualidade de Eduardo Filipe.
Guarde esse nome para as próximas "corridas", pois terá direito a um trabalho com duas mãos de polimento. Cortesia desse novo talento da nona arte brasileira.
Classificação: