De tempos em tempos, artistas de renome têm produzido significativos contos de Natal estrelados pelos maiores super-heróis dos quadrinhos, mudando o foco de suas aventuras. No lugar dos confrontos acirrados contra vilões perversos e da rotina do combate ao crime, essas pequenas narrativas exploram o valor dos sentimentos numa data especial, abordando questões como amizade, relações familiares e redenção, num contexto fantástico que é bem representado pelos justiceiros de uniformes coloridos.

E algumas das histórias mais marcantes com temática natalina foram reunidas em A DC Universe Christmas, coletânea que atravessa gerações e apresenta um time apreciável de roteiristas e ilustradores, todos brincando como crianças com o elenco de heróis e vilões da editora.

Nada mais oportuno que apreciar os campeões modernos da verdade e da justiça representando as aspirações mais elevadas do ser humano, numa prova de que a festa cristã pode superar diferenças, unindo as pessoas e extraindo sempre o melhor de seus corações.

O grande mérito do encadernado é mergulhar fundo no passado da nona arte, resgatando algumas preciosidades da Era de Ouro. É o caso da história da Mulher-Maravilha, assinada pelo criador William Moulton Marston, em que a heroína conta com o auxílio de uma árvore mágica para ajudar duas crianças, cruzando o caminho de alguns nazistas no processo. Como era costume no período, a heroína até acaba amarrada algumas vezes, mas os bons sentimentos não tardam a vencer.

Até a boa série animada de Batman na década de 1990 foi lembrada, com o singelo conto do Morcego redigido pelo versátil Paul Dini, no estilo do programa televisivo, em que as vilãs Arlequina e Hera Venenosa fazem a festa com um inocente Bruce Wayne. Assim, fases que marcaram época na trajetória dos defensores da Terra encontram-se presentes neste especial de Natal, que todo apreciador de boas histórias deve conferir.

A escritora Devin Grayson, que sempre se destacou por tramas mais intimistas, brilha com uma aventura estrelada por Kyle Rayner e Connor Hawke, que substituíram, respectivamente, os tradicionais Lanterna Verde e Arqueiro Verde, na década de 1990, marcando espaço como os novatos da Liga da Justiça na época.

A mesma Grayson acompanha o aclamado Mark Waid num conto do jovem Impulso, em que o velocista descobre que presentear pode ser mais gratificante do que receber presentes. Trata-se de uma investida certeira sobre o herdeiro de Barry Allen, bem leve e desencanada, ótima para matar saudades do divertido personagem em suas origens.

A estreia de Frank Miller no Batman, Procura-se Papai Noel: vivo ou morto!, também aparece, com texto de Denny O'Neil, um velho conhecido dos leitores brasileiros.

Curiosamente, há duas histórias sem diálogo, expondo habilidades únicas de seus autores. A primeira é com o Superman, por Dan Jurgens, e, na sequência, o Ás Inimigo, pelo legendário John Byrne. Um prato cheio para quem acompanha o trabalho desses artistas tão cultuados. Aliás, a quantidade de nomes de talento reunidos no volume impressiona.

Mais um ponto a se destacar é a presença de gêneros distintos, além dos super-heróis, enriquecendo a experiência de leitura. Há um western diferenciado pelas mãos de Chuck Dixon, e até uma pequena amostra de horror, que sugere muito mais do que entrega.

Mas é evidente que são as estrelas maiores do Universo DC que mais se destacam na coletânea, e nada supera o absurdo de acompanhar o Papai Noel em visita ao desolado Apokolips. Pra resumir, A DC Universe Christmas é um presentão de Natal.