Já faz algum tempo que editoras de quadrinhos brasileiras vêm investindo em adaptações literárias. Isso é reflexo direto das licitações do PNBE - Plano Nacional da Biblioteca na Escola, que inclui histórias em quadrinhos desde 2006.

Para entrar no conservador ambiente escolar, o caminho fica mais fácil por adaptações de clássicos consagrados, já conhecidos por selecionadores, professores e pais.

Fora do Brasil, entretanto, adaptações literárias tem ganhado força porque os editores enxergam nelas uma maneira de trazer leitores dos livros para os quadrinhos. Recentemente, a Publisher Weekly fez uma extensa matéria comentando esse fenômeno nos Estados Unidos.

Apesar de serem motivadas por razões diferentes, os objetivos de adaptar literatura convencional para os quadrinhos são os mesmos: levar a arte sequencial para quem ainda não está acostumado com ela.

Partindo desse princípio, a coleção Clássicos em Quadrinhos, da On Line, é louvável. Há algum tempo a editora vem publicando a série de adaptações da norte-americana Stone Arch Books, e este A máquina do tempo faz parte da coleção.

No entanto, ao analisar a publicação, percebe-se que a editora adotou um meio-termo entre o caminho de publicar para professores e para o mercado consumidor: trata-se de uma revista de 72 páginas, sem ISBN ou ficha catalográfica (classificações indicativas de livros) ou ISSN (número internacional normalizado para revistas vendida em bancas).

O preço é de salgado: R$ 8,90 (a título de comparação, as novas revistas mensais da Panini Comics terão 72 páginas e custarão R$ 6,50) e o acabamento é muito ruim.

A publicação tem perguntas e indicações de atividades para professores usarem-na em sala de aula, ocupando preciosas páginas no final. Além disso, está repleta de notas explicativas para palavras simples como "clareira" e matérias sobre os autores e o enredo que parecem primárias, mesmo para um público infantil.

A On Line aparentemente tem uma proposta de concorrer com a Panini Comics nas bancas, pois, além desta coleção, já tentou publicar Transformers, adaptações de filmes de super-heróis, livros de atividade e lança mensalmente um título mix de Star Wars que vingou.

Mas o trabalho fraco apresentado neste A máquina do tempo deixa a editora num patamar bem inferior ao da sua concorrência. E a falta de um trabalho de edição mais coerente praticamente exclui a obra de participar de uma seleção do PNBE.

Para piorar, a HQ não ajuda. A história original de H.G. Wells é genial, não à toa um clássico da literatura e da ficção científica, mas o texto do educador Terry Davies e os desenhos de José Alfonso e Ocampo Ruiz tornam a obra simplista, apesar de o espaço diminuto das páginas não ajudar na adaptação.

deve-se dar o desconto de que o roteiro é voltado para um público infantil, ainda aprendendo a ler. Entretanto, o formato da HQ e o posicionamento da revista no mercado a leva para outro público, mais exigente, que certamente não gostará do que verá.