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A METAMORFOSE

1 dezembro 2004


Título: A METAMORFOSE (Conrad Editora) - Edição especial

Autores: Texto original de Franz Kafka, adaptado por Peter Kuper (roteiro e arte).

Preço: R$ 19,00

Número de páginas: 88

Data de lançamento: Junho de 2004

Sinopse: Certa manhã, depois de despertar de sonhos conturbados, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso.

Positivo/Negativo: Adaptações de grandes obras da literatura para os quadrinhos costumam servir para justificar a própria existência das HQs como possível (e desejável) trampolim que, pelo prazer de uma leitura mais palatável às novas gerações, alçaria as crianças ao mundo mágico da literatura séria.

Aliás, adaptações de obras-primas, em geral, costumam ter essa pretensão de apresentar os grandes mestres aos jovens viciados em mangás, Stephen King, RPGs. Não é raro um intento tão nobre encontrar uma tão estúpida lógica. Nada apresenta melhor um clássico que o próprio clássico. Nada o afasta mais que quaisquer tentativas de aproximá-lo.

Além do fato de ser, por natureza, inadaptável, qualquer obra-prima da literatura universal também não pode ser "popularizada", senão por subversão do que a faz especial. De fato, o público é que deve ser preparado para ela, por meio de uma educação decente.

No caso de A Metamorfose, de um dos mais importantes escritores do século XX, o tcheco Franz Kafka, o termo que melhor definiria a transposição de suas linhas para a arte seqüencial por certo não seria o equivocado "adaptação". Mais honesto seria dizer que o artista gráfico estadunidense Peter Kuper "dialogou" com a obra original, que "transcriou" Kafka, pois, enfim, seu trabalho está a milhas de distância de quaisquer Clássicos Ilustrados.

Kuper, uma mescla de expressionismo alemão e leve underground americano, usa as possibilidades que lhe oferece a linguagem dos quadrinhos (uma específica forma de arte, não uma subliteratura, como querem alguns críticos) de modo a transpor o "clima" do conto kafkiano para seus traços, manchas e letras dispostas entre as imagens, compondo um painel formidável do realismo absurdo que Kafka traçou para o pobre Gregor, símbolo máximo da coisificação do homem moderno.

Seja no uso de balões específicos para cada personagem, ajudando o leitor a "ver" as nuanças de cada caráter, seja na disposição do texto, ou mesmo em cenas memoráveis, nas quais o traço de Peter Kuper forma quadros de intenso drama (como no penúltimo da página 54, em que a mãe de Gregor impede que o pai dele o mate; ou na 75, quando a luz da janela ilumina seu cadáver), essas imagens por si já valem a compra do álbum. São gravuras excepcionais que poderiam (e deveriam) ser incluídas em todas as versões decentes do livro de Kafka.

Kafkakuperiano, o livro cumpre seu papel. Dialoga com a obra original, como iguais. Assim como deveriam dialogar a literatura e a HQ, sem hierarquizações acadêmicas infelizes. Sem dúvida, não só uma peça de coleção, como também uma obra a ser apreciada e estudada com dedicação.

Classificação:

4,0

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