A NOITE MAIS DENSA # 1
Editora: Panini Comics - Minissérie em oito edições
Autores: A noite mais densa - Geoff Johns (texto), Ivan Reis (desenhos), Oclair Albert (arte-final), Alex Sinclair (cores) e Mario Luiz C. Barroso (tradução);
Pelo seu amor - Peter J. Tomasi (texto), Chris Samnee (arte), John Kalisz (cores) e Mario Luiz C. Barroso (tradução).
Preço: R$ 5,90
Número de páginas: 48
Data de lançamento: Julho de 2010
Sinopse
Enquanto super-heróis ficam pensando na morte de outros heróis, de vilões e de gente próxima a eles, uma tropa de zumbis, aos moldes da Tropa dos Lanternas Verdes, é formada com esses mortos.
Complementa a edição uma história curta com o filho de Mongul.
Positivo/Negativo
A rigor, nada impede que você faça uma omelete com ovos podres. Só não vai ficar bom.
A lógica se aplica à minissérie A noite mais densa - mais um dos chamados "eventos" dos quadrinhos de super-heróis, que nada mais são que uma grande história contada em diversos títulos diferentes, com a intenção de turbinar as vendas de um pacote de revistas.
Acontece que o tema da minissérie, ao menos neste primeiro número, é a morte.
É, a princípio, um tema de respeito. A morte é assunto de grandes romances, poemas, filmes, peças, pinturas, instalações... Até de quadrinhos: basta lembrar da Morte que Neil Gaiman criou em sua série Sandman.
A morte rende - porque nos diz respeito, e porque é misteriosa, porque é o fim da vida, porque causa uma tristeza imensa em quem fica, porque dá pra especular loucamente sobre o que vem depois, se é que vem alguma coisa.
Só que A noite mais densa faz parte de um universo ficcional maior: o tal Universo DC, que é um território ficcional habitado pelos heróis da editora de Superman, Batman e companhia.
E, nesse universo, a morte não é um troço assim tão sério. Sua maior função é alavancar vendas. Ao longo dos últimos anos, como a própria história deixa claro, dezenas de heróis foram mortos, e muitos deles voltaram - seja por ressurreição, seja porque outro cara passou a usar a fantasia do falecido.
Aí fica difícil entender por que tanto drama em cima dos mortos. Uma hora, mais cedo ou mais tarde, os super-heróis voltam - seja Superman, seja Rapina e Columba.
É como Kenny, aquele personagem do desenho South Park: se ele morre em todos os episódios, que comoção uma nova morte pode causar?
Fato é que a DC abusou do recurso de matar super-herói para vender mais revistas. E agora quer usar a morte como tema de uma história de grande porte.
O resultado é uma omelete feito com ovos podres: cheira mal.
Não é plausível que, num mundo em que renascer é como ir ao Rio de Janeiro (não acontece com todo mundo, mas está longe de ser inusitado), a morte cause tanta comoção. É o contrário, aliás: é inverossímil.
A dramaticidade só pode ser atribuída ao grande problema de Geoff Johns: é um escritor com pegada forte para o melodrama, com cenas que beiram o piegas e diálogos de novela mexicana.
Claro, não dá pra dizer que não funcionou em termos comerciais: A noite mais densa foi um sucesso nos Estados Unidos. Veio no rastro de uma bem-sucedida passagem do autor pela revista do Lanterna Verde. E também de uma série chamada A Guerra dos Anéis, que partiu da ideia tosca de que há anéis, Lanternas e tropas de todas as cores do arco-íris, e não só do verde.
Por aqui, o trabalho de Johns em Lanterna Verde parece ter feito algum sucesso. Pelo menos, a revista do personagem não foi afetada pela recente onda de cancelamentos de títulos. O sucesso internacional de A noite mais densa pode se repetir aqui - ou não.
Mas analisar sucesso ou fracasso cabe ao departamento de marketing da editora. Numa resenha, o que faz diferença são os méritos artísticos da obra. E nisso A noite mais densa fica devendo.
Pior: a dívida é nos alicerces. Naquilo que sustenta a trama toda.
Quando Geoff Johns começa a escrever seu texto que, apesar de piegas, é consistente, bem narrado, envolvente e cheio de boas pegadas, ele já está em débito.
O mesmo vale para o brasileiro Ivan Reis, um dos quadrinhistas brasileiros mais aclamados globalmente. Quando ele pega seu lápis e faz o que faz - uma arte clássica e "classuda", elegante, bonita de se ver, dinâmica, um primor de desenho de super-herói -,já começa com a missão de impedir a trama de desmoronar.
Johns errou ao escolher a morte como tema. É uma das fragilidades mais palpáveis dos quadrinhos de super-heróis. É campo minado, e roteiristas e editores sabem disso.
Alguém deveria ter ligado o alerta vermelho. Alguém deveria ter gritado para escolher outro caminho. Se gritou, não foi ouvido - mais um indício de que a DC Comics está à deriva.
Ao longo dos anos, a DC abusou. Acabou matando a galinha dos ovos de ouro das mortes trágicas de personagens. Agora, quer fazer uma omelete. Mas todos os ovos estão podres.
Até dá pra fazer. Mas não vai ficar lá tão bom.
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