A PRINCESA E O SAPO
Autor: Will Eisner (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 32,50
Número de páginas: 32
Data de lançamento: 1998
Sinopse: Uma princesa deixou cair sua bola de ouro dentro de um poço. Veio um sapo e se ofereceu para tirá-la de lá, mas com uma condição: ela teria que amá-lo.
Meio aborrecida com a idéia, já que o sapo lhe parecia um tanto repugnante, a princesa acabou aceitando.
Teve a bola de volta, mas ganhou também um problema: com fazer para amar um sapo?
Positivo/Negativo: O nome de Will Eisner geralmente é lembrado por suas histórias de ambientação urbana, especialmente aquelas focando os habitantes de origem judaica do subúrbio de Nova York. No entanto, há uma série de outros trabalhos desse mestre com temáticas e ambientações diferentes, baseadas em narrativas conhecidas do imaginário popular, como é o caso de O último cavaleiro andante e Sundiata, o Leão de Mali - Uma lenda africana.
Esta versão de um dos mais famosos contos de fada dos irmãos Grimm é uma dessas empreitadas que está muito longe de ser um trabalho "menor" na carreira de Eisner. Mesmo narrando uma história universalmente conhecida, o autor dá mostras de sua genialidade inserindo elementos marcantes no texto e no desenho.
A primeira mudança que chama a atenção é o fato de a trama começar mostrando quem era o príncipe que acabou transformado em sapo e como isso veio a acontecer.
Com a abordagem particular de Eisner, a fábula, além de falar do conflito entre essência e aparência nas relações amorosas, exalta também as virtudes no âmbito do coletivo, com o príncipe justo e bondoso, que é amado por seu povo, mas invejado pela bruxa má, que deseja ser nomeada maga do castelo.
A transformação pelo feitiço da bruxa não abala a integridade do príncipe, que encara sua condição com a certeza de que apreenderá a viver assim até que apareça alguém para desfazer o mal.
Nesse momento da narrativa, em que o príncipe-sapo se encontra fora de seu castelo, onde suas ações eram reconhecidas, Eisner chega a evocar alguns provérbios, como "sapo de fora não chia", e também a imagem do herói chegando ao fundo do poço, onde acaba vivendo até encontrar a princesa.
Diferente do jovem, que era maduro e responsável, a princesa é retratada como uma jovem que vive brincando com sua bola de ouro no jardim do castelo de seu rico pai. Sua hesitação em cumprir o acordo com o sapo que recuperou sua bola é uma amostra dessa imaturidade, à qual o príncipe resiste de forma humilde.
A volubilidade da moça é finalmente vencida por dois motivos: a persistência do príncipe, que, com certa astúcia, mostra sua verdadeira essência, e os conselhos de seu pai, que lhe ensina que uma princesa deve manter sua palavra e ser grata a quem lhe ajudou. Aprender a amar o sapo, portanto, faz parte do amadurecimento da jovem nobre, é algo necessário para se tornar uma boa governante.
Dessa forma, a moral da história deixa de ter um significado apenas pessoal e passa a valer também para a vida em sociedade e até a política. Não é difícil entender o interesse de Eisner por essa fábula, uma vez que apresenta temas presentes na sua obra, como os sentimentos pessoais afetados por interesses materiais e o sofrimento decorrente disso.
O estilo teatral do desenho e da narrativa visual de Eisner dá um forte ar dramático à história, que chega a parecer uma peça de William Shakespeare.
Merecem destaque ainda o uso de cores (algo pouco comum nas graphic novels de Eisner) e a expressividade que o artista imprime na face do sapo. Sob seu traço, o animalzinho transmite toda a gama de emoções sugerida pelo roteiro. Dessa forma, não há uma única imagem monótona desse simpático personagem.
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