A RELÍQUIA
Título: A RELÍQUIA (Conrad
Editora) - Edição especial
Autor: Marcatti (texto e arte).
Preço: R$ 32,00
Número de páginas: 224
Data de lançamento: Maio de 2007
Sinopse: Quando o jovem Teodorico Raposo perde os pais, fica sob a guarda de Patrocínia, a Tia Titi, uma senhora tão rica quanto carola. E ela exige que o garoto seja devoto e casto.
Contudo, quando vai cursar Direito em Coimbra, Raposo vira Raposão e descobre as mulheres, o sexo e vira, enfim, um boêmio.
Mas, quando retorna a Lisboa e depara com uma possível herança da tia, que chega a guardar ouro numa bolsa verde, o rapaz passa a ter vida dupla. Para a tia, mesmo que a velha rabugenta desconfie, age como um santo. Mas sempre encontra brechas para aprontar.
Positivo/Negativo: Há, de fato, uma boa leva de adaptações de clássicos da língua portuguesa para as HQs nos últimos meses. Já saíram Os Lusíadas em versão de Fido Nesti (Peirópolis), O Alienista, por Fábio Moon e, mais recentemente, O Beijo no Asfalto, recontado por Arnaldo Branco e Gabriel Góes.
A Relíquia, obra do português Eça de Queiroz adaptada por Marcatti, entra nesse fenômeno curiosamente involuntário - as iniciativas são promovidas por editoras diferentes e dificilmente fariam parte de um plano maior e articulado. Por enquanto, são mais um reflexo da crescente explosão de títulos em bancas e livrarias vista nos últimos meses.
Mas A Relíquia se difere de seus assemelhados por um aspecto básico: é um caso em que os autores, o vivo e o morto, atuaram profundamente como parceiros. Marcatti não se curva à obra de Eça. Respeita-a, mas não deixa dúvida de que é um trabalho seu, com a marca pessoal fortíssima, indelével do quadrinhista tarimbado que é.
Há um diálogo e uma colaboração constante entre A Relíquia e seu adaptador. Marcatti pega Eça e o torna mais grosseiro, doentio, menos cínico e mais explicitamente mau. Lisboa se torna mais degradante em seu traço - e a psicologia da obra transpira pelos poros do cenário.
Eça, por sua vez, dá visibilidade a aspectos do trabalho de Marcatti que já apareciam camuflados em suas obras mais recentes: a maturidade e a consistência. A Relíquia é um trabalho sólido, de fôlego, que desde o lançamento é um marco do quadrinho nacional.
Curiosamente, a derrocada das fronteiras autorais magistralmente promovida por Marcatti é que cria o momento mais fraco da obra. Perto do final, Teodorico troca os embrulhos e dá à sua pérfida tia uma camisola em vez de uma relíquia católica. É um recurso que funciona em Eça, mas, retratado por Marcatti, soa estranho. Afinal, é pouco verossímil que personagens vistos pelo traço do quadrinhista mereçam uma punição.
O castigo gerado pela culpa acaba atrapalhando o desfecho do álbum, que volta a funcionar, não tem tempo para se recuperar do baque do leitor.
É uma estranheza que, aparentemente, não tem solução. E ainda que atrapalhe um pouco a fluidez, não tira os méritos desse trabalho hercúleo, conduzido magistralmente. Trata-se, ora, pois, de uma obra imperdível.
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