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A SERPENTE VERMELHA

Por Delfin
1 dezembro 2007


Título: A SERPENTE VERMELHA (Zarabatana
Books
)

Autor: Hideshi Hino (roteiro e desenhos).

Preço: R$ 24,90

Número de páginas: 192

Data de lançamento: Março de 2007

Sinopse: Um garoto tenta escapar, sem sucesso, de uma casa que é um verdadeiro tormento. Com pais, avós e uma irmã pra lá de estranhos, ele descobre que sua família é guardiã de um horrível fardo: a guarda de um espelho que, segundo soube, é um portal que, se aberto, liberará terríveis augúrios sobre todos e guiará o destino de cada um ao sofrimento e à destruição.

E se, inconscientemente, o garoto soubesse que o único jeito de fugir é justamente abrindo o portal que guarda a serpente vermelha?

Positivo/Negativo: A Zarabatana, editora campineira que cada vez mais mostra que a qualidade de suas publicações será sua grande marca, ganha muitos pontos com a publicação da primeira obra da sua coleção Horror Mangá. E começa com um trabalho do mestre do underground japonês, Hideshi Hino.

Muita gente não sabe, mas este é, na verdade, o pseudônimo de Yoshiyuki
Okamura e seu significado tem ligações intrínsecas tanto com a fuga de
sua família da China para o Japão, durante a segunda guerra entre estes
dois países – simultânea à Segunda Guerra Mundial –, representada por
ideogramas que significam Hideshi; quanto com a selvageria de sua obra,
cujos ideogramas significam Hino.

A escolha deste nome deixa um pouco mais clara para todos tanto sua origem quanto os temas abordados em suas obras, como, por exemplo, Panorama do Inferno (publicada no Brasil pela Conrad) e este A Serpente Vermelha.

O garotinho sem nome (como todos da família dele, aliás), que aparenta ser o único ser normal da casa infinita que serve de cenário para esta fábula de horror, conduz o leitor a seus parentes aberrantes: o pai obcecado por suas galinhas de ovos perfeitos, o avô pustulento, a avó galinácea, a mãe submissa e a irmã que ama todo tipo de verme.

Querendo escapar sempre e sem sucesso daquele verdadeiro inferno, o menino vê no rompimento de um lacre místico a única saída possível, ainda que inconsciente, daquela tristeza diária.

Crítica contundente ao status tradicional da sociedade japonesa, por meio de sua unidade mais tradicional (a família), esta obra, produzida originalmente em 1985, ainda refletia uma sociedade que mantinha ditames milenares pouco contaminados pela cultura ocidental.

Uma das análises mais sensatas que se pode fazer sobre a entrada da serpente vermelha na narrativa ao romper uma barreira é justamente a contaminação de um estado e suas possíveis conseqüências, que leva todos a um caminho de completa destruição do status quo anterior.

E o retorno ao estado inicial ao final da história representa, ao mesmo tempo em que uma nova chance, também a constatação de que o status quo também não é a solução ideal para a grande família japonesa.

Observando-se apenas o sentido lato da história, oferece-se ao leitor as duas opções, e o verdadeiro tormento consiste em perceber que pode não haver escolha entre os tipos de sofrimento e horror, protegendo ou não os espelhos que servem de lacre mágico naquela casa.

Escatologia, bizarrice e o inusitado espreitam a cada página, prontos a produzir o efeito desejado por Hino, com seu traço ora opressivo, ora limpo, dependendo da necessidade da narrativa.

A edição da Zarabatana surpreende agradavelmente, tanto pelo preço justo quanto pela qualidade do produto: papel legal, capa bem impressa e um impecável cuidado tanto em relação à tradução quanto em relação às letras, sem um erro (o que deveria ser o normal, mas é importante elogiar em vez de mostrar falhas - o que virou praxe com algumas editoras).

Ainda não é em qualquer lugar que se encontram os quadrinhos da Zarabatana, mas o mercado já notou que o trabalho é sério e que, definitivamente, o tamanho da editora nunca será documento.

Classificação:

4,0

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