A SOBREVIVENTE
Autor: Paul Gillon (textos e desenhos).
Preço: Variável (disponível em sebos e e-shops)
Número de páginas: 48
Data de lançamento: Junho de 1988
Sinopse: A bela Aude Albrespy, única sobrevivente de um holocausto
nuclear na Terra, vive sozinha numa França futurista em que robôs inteligentes
continuam exercendo as tarefas para as quais foram construídos e programados.
Tamanha solidão e a necessidade carnal e sentimental de uma companhia
masculina fazem com que a mulher se entregue sem pudor a um romance com
o robô Ulisses, empregado da mansão abandonada na qual ela passou a morar.
Apesar de parecer satisfeita sexualmente, Aude se ressente da falta de
um homem e acaba encontrando Stanny, um astronauta humano que também havia
escapado da hecatombe atômica por estar em missão no planeta Plutão.
Os dois pensam em repovoar a Terra e, antes de pôr em prática a ideia,
passam os dias a fazer sexo desenfreadamente e - como novos Adão e Eva
no Paraíso - passeiam nus pelas ruas desoladas de Paris. Mas despertam
o terrível ciúme de Ulisses, agora descartado por sua ex-amante.
Positivo/Negativo:
Esta graphic novel, em formato gigante, capa cartonada e miolo
em papel especial, faz parte da série Opera Erotica (sem os acentos
agudos mesmo) da editora Martins Fontes, que apresentou diversas
obras de conceituados quadrinhistas europeus, incluindo trabalhos de Milo
Manara e Guido Crepax.
A Sobrevivente, publicada originalmente na França, em 1985, foi
a primeira HQ erótica produzida pelo veterano Paul Gillon, cujas obras
mais marcantes estavam na área da ficção científica, gênero que neste
álbum não foi apenas pano de fundo, mas cenário e conceito fundamentais
para torná-lo uma obra-prima da nona arte europeia; e o trabalho mais
conhecido desse premiado autor que ainda hoje é referência para os quadrinhistas
do Velho Continente.
Nesta obra, o belo e instigante desenho realista de Gillon salta aos olhos
em cenários, paisagens e objetos que são quase palpáveis, de tão detalhados.
Mas nada comparável à anatomia de Aude, impossível de não despertar no
leitor a libido e de não fazer entender seus sentimentos em cada olhar,
dor e angústias graficamente expressivos que exalam de sua condição de
solitária e representante única da raça humana.
Por meio de uma narrativa com bem delineados começo, meio e fim, intercalados
por eventos que limam qualquer ponta de monotonia numa trama com reduzido
número de personagens e pouca possibilidade de ação frenética, o roteiro
realiza um casamento perfeito com as imagens e conduz o leitor a uma miríade
de sensações e reações.
Nesse caldo, suspense, terror, desespero, desilusão, tristeza e, claro,
tesão, recheiam as quase 50 páginas da aventura, cujo final é um dos mais
bizarros dos quadrinhos, não apenas pelas imagens chocantes, mas graças
ao teor angustiante que finca raiz no leitor e segue indefinidamente,
como sugerem os três quadros que compõem a última página - um pungente
grito de dor espiritual ecoando pela vazia Paris.
São esses elementos que, passados mais de 20 anos, continuam fazendo de
A Sobrevivente uma obra bastante empolgante. Se a Guerra Fria -
que dá ignição à trama da HQ e, na época de sua primeira publicação, assustava
o planeta ao aventar um confronto nuclear mundial - já não existe mais,
a graphic novel ainda é sombria (e obscena) o suficiente para despertar
tudo, menos a indiferença.
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