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A TRILOGIA NIKOPOL

1 dezembro 2012

A TRILOGIA NIKOPOL

Editora: Nemo - Edição especial

Autor: Enki Bilal (roteiro e arte) - Originalmente publicado em La Trilogie Nikopol - La foire aux immortels, Lafemme piège e Froid Équateur.

Preço: R$ 69,00

Número de páginas: 184

Data de lançamento: Março de 2012

 

Sinopse

O volume reúne os álbuns de ficção científica A feira dos imortais, A mulher armadilha e Frio Equador.

Positivo/Negativo

No Brasil, o nome de Enki Bilal sempre foi associado aos dois primeiros álbuns da Trilogia Nikopol, intitulados, nos anos 1980, como Os imortais e A mulher enigma, ambos lançados pela Martins Fontes. Já o terceiro volume, Frio Equador, não foi publicado, mas chegou a ser distribuído em edição da portuguesa da Meribérica, no começo dos anos 1990.

Apesar de poucas obras do autor ganharem as bancas naquela época, vide algumas histórias na Heavy Metal ou álbuns como O Exterminador 17 (Graphic Globo # 11, escrito por Jean-Pierre Dionnet), o seu nome sempre foi anatomicamente ligado aos quadrinhos ficção científica.

No primeiro volume, A feira dos imortais, o leitor é apresentado ao futuro despótico da Paris de 2023, no qual uma nave espacial em forma de pirâmide toma os céus e as atenções do governo fascista de Jean Ferdinand Choublanc.

Dentro da nave, figuras poderosas, semelhantes às divindades egípcias, querem negociar combustível para seguir viagem. Em um momento delicado, quando eleições manipuladas garantirão a continuidade da direção, Choublanc exige o segredo da imortalidade em troca do favor.

Ao mesmo tempo em que o líder Anubis recusa a oferta, despenca do céu no meio da multidão um astronauta do Século 20, que estava congelado no espaço por anos a fio, Alcide Nikopol, que terá seu corpo tomado por Horus, divindade que deseja vingança de seus pares na pirâmide flutuante.

Com essa premissa, o quadrinhista sérvio (nascido na ex-Iugoslávia) estrutura sua narrativa cheia de reviravoltas, conspirações e ácida crítica política. O tom segue atual, mesmo passado mais de 30 anos da publicação original. Tal futuro estava mais "distante" da realidade, apesar de o autor querer mirar na situação política que a França passava em 1980, país onde reside desde os nove anos de idade.

Neste universo familiar, a Igreja assume seu papel no poder junto ao governo e mulheres são vistas como meras reprodutoras. Um mundo que evidencia mais as castas superiores e inferiores, onde homens do poder carregam uma imagem efeminada em maquiagens pesadas e criaturas aladas são chamadas de "querubins" para fortalecer a crença papal.

O mundo estranho e bizarro não é desassociado de humor: quando esperam a transação comercial, os deuses astronautas egípcios passam o tempo jogando Monopoly.

Outro destaque narrativo são as versões da "verdade" escancaradas nos jornais de esquerda e direita que ilustram a história com recortes.

Bilal muda o foco em A mulher armadilha. O segundo ato é centrado na Londres de 2025, na vida de Jill Bioskop, uma jornalista de pele alva e cabelos azuis que manda notícias do futuro interceptadas no passado pelo jornal Libération (mostrado em uma folha à parte do álbum).

Mesmo a protagonista servindo de rebite para o paradeiro de Alcides Nikopol, aqui o quadrinhista expande seus horizontes sobre a etnia que compõe o retrato europeu. No ritmo da escrita livre beat, Jill "vomita" tudo sobre tensões extremistas entre raças alienígenas e questões de imigração, além de desabafos sobre o amor e as drogas que consome.

Por fim, tudo se converge em Frio Equador. Em 2034, os personagens seguem para Equador-City, uma metrópole do centro-leste africano, localizada na Linha do Equador, com uma condição térmica que varia entre -21º e 47º e governada por uma megacorporação corrupta chamada KKDZO.

Sem querer revelar muito, as críticas pertinentes nos outros atos - a disputa pelo poder, fatores corporativistas e os percalços políticos - acompanham a conclusão da saga de Alcides Nikopol, um homem deslocado do seu tempo e títere do destino, podendo ser "trocado" pelo artista ou pelo próprio leitor.

A bela arte de Enki Bilal, valorizada no tamanho do álbum (24 x 31 cm), é praticamente a sua impressão digital. Suja, detalhada e fria. O autor privilegia o bem trabalhado uso do azul nas suas composições. Interessante notar a evolução do estilo nos 13 anos em que a série foi publicada originalmente.

Como outras publicações da Nemo, a coletânea não deve nada às mais luxuosas edições europeias: capa dura, ótima impressão em um papel couché de alta gramatura. Sem alarde, o lado negativo é não ter um texto introdutório para enfatizar a importância da obra ou uma apresentação biográfica maior do que a presente na quarta capa.

Trilogia Nikopol resiste ao tempo e continua sendo a obra que ainda faz o leitor lembrar quem é Enki Bilal, um dos nomes mais importantes dos quadrinhos europeus - e mundiais.

 

Classificação:

4,0

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