Dando continuidade ao que a Nemo começou em Arzach, este segundo volume compila vários contos curtos daquele que é considerado por muitos como o principal nome dos quadrinhos europeus do Século 20.

Muito do que foi dito sobre Arzach pode ser repetido aqui: é um livro amplamente visual, de um autor jovem e repleto de experimentações. Alguns contos não possuem palavras, mas quadros grandes, cheios de detalhes. Mas, mesmo sem falas, Moebius mostra sua competência na arte narrativa.

Este volume, conforme explicado pelo próprio autor no prefácio, é menos sobre ficção científica e mais sobre sonhos. O que o aproxima ainda mais de Arzach e de A garagem hermética - outra HQ que a editora promete lançar por aqui. O tema, ainda que abstrato, permeia todos os contos. O onírico sempre foi uma presença forte na obra do francês. E essa liberdade criativa, de inventar enquanto vai fazendo, é marcante nessas páginas.

Há também um cunho político, principalmente após um incidente de censura envolvendo o Ministro do Interior da França, na época da primeira publicação.

São oito contos: Absoluten Calfetrail, que abre a edição, seguido de Conto de Natal, encomendado pela Metal Hurlant para a edição de 1977. Depois vem a divertida narrativa Há um Príncipe Charmoso em Phenixon, com um humor tipicamente moebiano. Seguem Rock City, Barba Ruiva e o Cérebro Pirata.

Aproximação de Centauri é o único conto não totalmente criado por Moebius, roteirizado pelo também francês Philippe Druillet. E Variação Nº4070 sobre "o" tema é uma história curta sobre a guerra.

E Pau doido é uma narrativa dupla bem bolada: nas páginas ímpares, há uma narrativa puramente visual, enquanto as pares trazem uma história sequencial totalmente paralela. Novamente, uma mescla de humor e erotismo.

Absoluten Calfetrail e outras histórias é indispensável para quem deseja acompanhar a trajetória de Moebius, entender sua importância no cenário mundial dos quadrinhos. Melhor ainda em uma edição que faz jus a essa importância. A Nemo caprichou no formato (24 x 32 cm) e no acabamento, com papel bom e capa dura.

Mas é curioso notar que o volume original, Cauchemar Blanc e Le Bandard Fou possui mais páginas do que sua versão nacional. Resta saber se as histórias faltantes estarão nos próximos álbuns.