Depois de Luluzinha, Gasparzinho e Tarzan, a Devir resgata outro clássico dos quadrinhos. Em janeiro de 1934, quando a tira Agente Secreto X-9 estreou nos jornais, reunia talentos de duas áreas distintas: o texto ficaria por conta do escritor Dashiell Hammett (de O Falcão Maltês) e a arte seria do desenhista Alex Raymond (de Flash Gordon e Nick Holmes).

O resultado foi um sucesso que se perpetuou mesmo quando os dois abandonaram a série. Tanto que as tiras foram publicadas até fevereiro de 1996.

Mas este álbum exige do leitor algo diferente: que, ao passar pelas 570 tiras, faça o "exercício" de acompanhá-las como se estivesse nos anos 30. Do contrário, pode achar tudo meio bobo.

Isso porque Hammett, que nas duas primeiras séries nitidamente estava se adaptando àquela nova mídia, carrega seu texto de momentos que, hoje, soam ingênuos, quase tolos. Um exemplo está na página 39, quando a sra. Powers, uma das vilãs da história, depois de ser desmascarada, fala para X-9: "É esse meu temperamento terrível que me faz brigar com você. Vamos ser amigos...".

Há dezenas de passagens como esta. Outra constante são situações em que o protagonista escapa da morte de maneira pra lá de milagrosa. Mas se o leitor tiver a boa vontade de enxergar isso dentro de um contexto histórico (afinal, os heróis de então tinham sempre essa "pegada"), tem tudo para se divertir.

Até porque, a arte de Alex Raymond, feito há quase 80 anos, ainda hoje serve de exemplo para os artistas do traço. O desenhista ainda não apresentava o brilho que alcançaria em Flash Gordon, que começou no mesmo ano - faltava-lhe especialmente narrativa, mas já dava aula quando os quesitos eram anatomia humana, expressões faciais e trocas de tiros.

E, em Agente Secreto X-9, a missão de Raymond não era das mais simples, pois havia excesso de texto e, diversas vezes, as palavras repetiam exatamente o que a cena mostrava.

No aspecto editorial, apenas uma escorregada na revisão: "racho", em vez de "rancho", na página 97. Mas nada que diminua o capricho da Devir neste trabalho: o álbum está à venda em duas versões, capa dura e cartonada, impresso em sépia e traz um interessante artigo do editor Leandro Luigi Del Manto sobre o personagem, nas páginas iniciais; e biografias dos autores, nas finais. Uma "embalagem" bastante adequada para este clássico da arte sequencial.