Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Ah, como era boa a ditadura...

14 outubro 2016

Ah, como era boa a ditadura...Editora: Quadrinhos na Cia.Edição especial

Autor: Luiz Gê (texto e arte).

Preço: R$ 40,00

Número de páginas: 288

Data de lançamento: Novembro de 2015

Sinopse

A história dos últimos anos da ditadura militar nas charges de Luiz Gê na Folha de S.Paulo.

Positivo/Negativo

Luiz Gê é um dos maiores nomes do cartum brasileiro. Como chargista, também um dos mais proeminentes desde a criação (em conjunto com Laerte) da revista Balão, quando ambos ainda eram universitários.

E foi pela relevância da Balão que Gê chegou à Folha de S.Paulo, um dos maiores jornais do Brasil (naquele momento, final da década de 1970, sua hegemonia não era tão grande quanto hoje). E no periódico foi ser chargista em um momento especialmente denso na política brasileira.

O País vivia uma ditadura, e pouco (ou nada) podia-se falar sobre o governo ou os erros cometidos pelos militares. Charges, apenas as elogiosas. Caricaturas? Apenas as que enalteciam o caráter brioso e fundamental dos militares no poder.

Os anos se passaram e, com a chegada de João Figueiredo ao Planalto, a Folha começou a “soltar” mais seus chargistas. Em todas as suas entrevistas, Gê faz questão de dizer que o chargista é o dedo na ferida. É o incômodo, é o que não se conforma e o que denuncia.

Assim, a partir de 1981 a Folha (que tinha um sistema de autocensura) liberou seus artistas para incomodar o governo. E Luiz Gê sentiu-se livre.

Este livro reforça o caráter agudo e inconformado do autor. São numerosas referências a João Figueiredo, Paulo Maluf, Delfim Netto, política econômica, inflação, mazelas sociais... Sempre com o foco na errática política brasileira e, por que não, no descolamento entre o poder e o povo.

Mas charges são intimamente ligadas ao noticiário do dia. E não é fácil entender, caso o leitor não tenha um bom contexto histórico. Pensando nisso, Gê e o pessoal da Quadrinhos na Cia., fizeram um grande prefácio, retratando o que estava acontecendo na época.

Além disso, o livro é dividido em anos e, cada um deles, em subtemas que possuem uma minicontextualização que ajuda o leitor a entender a piada a seguir.

Outra questão que fica muito evidente no trabalho apresentado é a diferença na arte de Luiz Gê. Por mais que o autor já estivesse muito bem, e seu desenho fosse maduro em 1981, ao longo dos anos seu traço evolui ainda mais. Assim, o que é para ser caricatural fica mais caricatural, o que é para ser visceral fica mais visceral e o que é para ser estilizado fica ainda mais estilizado.

Este álbum, que ganhou o HQ Mix de Melhor Publicação de Humor Gráfico de 2015, ainda tem uma segunda função: fazer o leitor perceber que os problemas enfrentados no Brasil estão aí há pelo menos 30 anos (e muito mais, claro). E que há muito pouco de novo sob o céu.

Cabe uma leitura atenta e uma breve olhada no cenário político de 2016 para ver como 1981 está logo ali, dando um alô e assombrando nossa vidinha tupiniquim.

Classificação

5,0

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