ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO
Editora: HQM - Edição especial
Autor: Adaptação do livro de Lewis Carrol por Kyle Baker (texto e arte).
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 48
Data de lançamento: Agosto de 2010
Sinopse
Conversando com suas gatinhas de estimação, a menina Alice acaba descobrindo como passar através do espelho para um lugar estranho, onde bosques mesclam-se com tabuleiros de xadrez e a realidade segue uma lógica singular e absurda.
Positivo/Negativo
Do filme Matrix, passando por algumas canções dos Beatles até chegar à graphic novel Asilo Arkham, as aventuras nonsense de Alice já serviram de inspiração e foram homenageadas por inúmeras obras. E é vasta a série de adaptações para cinema, teatro, animação e quadrinhos.
Os dois livros protagonizados por Alice garantiram que seu autor, Lewis Carroll, jamais fosse esquecido. E os méritos das obras vão muito além das situações lisérgicas vividas pela garota.
Os textos de Carroll estão repletos de ironias e críticas aos costumes e cultura da sociedade inglesa vitoriana. São famosos também os diversos e riquíssimos jogos de lógica e de linguagem.
Aliás, são justamente os trocadilhos e as famosas "palavras-valise" (em que duas mesclam-se para formar uma terceira) que tornam muito difícil o trabalho dos tradutores.
Geralmente as adaptações concentram-se nos elementos do primeiro livro escrito por Carroll, Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de 1865, ou mesclam elementos das duas publicações.
Este trabalho de Kyle Baker, publicado originalmente nos Estados Unidos no começo da década de 1990, é focado apenas no segundo livro, Através do espelho e o que Alice encontrou lá, de 1871.
Aqui, Baker optou por utilizar apenas diálogos dos personagens, sem que haja a voz de um narrador. Ainda assim, segue fielmente o texto de Carroll. Poemas como Jabberwocky (Pargarávio na tradução de Maria Luiza X. de A. Borges) são apresentados na íntegra.
Baker não utiliza balões, dispondo as falas dos personagens em legendas logo abaixo ou acima de suas imagens nos quadrinhos. Em alguns momentos, os blocos de texto ficam muito próximos, o que atrapalha um pouco o ritmo de leitura.
A disposição dos quadrinhos nas páginas é dinâmica e a paleta de cores é bem escolhida, mas o conjunto todo é comportado demais e possui um aspecto muito tradicional, lembrando um livro ilustrado.
A arte se vale de técnicas como aquarela, lápis de cor e guache para colorir o expressivo desenho. Alice e todos os demais personagens ganham vida em um traço espontâneo e solto, com ares de desenho animado. Há diversas passagens do livro que são valorizadas pela linguagem sequencial, como a surreal transformação da Rainha Branca em uma ovelha.
No último quadrinho, a Rainha começa a falar de modo estranho e, ao virar a página, o leitor e Alice se deparam com uma ovelha tricotando em uma loja. O aspecto absurdo e incoerente de um sonho é reforçado ainda mais por essa virada de página.
A edição da HQM é primorosa. A capa dura, formato grande e excelente qualidade de impressão valorizam o belo trabalho de Baker. Em algumas páginas pode-se até ver a variação da textura da cor causada pelos pincéis do artista. Completam a publicação os tradicionais textos da série Classic Illustrated com informações sobre a obra e os autores.
Entretanto, há um exagero publicitário no texto da quarta capa. Sem desmerecer a qualidade da arte de Kyle Baker, apresentá-la como o "retrato definitivo da viagem de Alice" é forçar a barra, ainda mais considerando os trabalhos da imensa quantidade de artistas que já ilustraram o livro de Lewis Carroll.
O fato é que a qualidade gráfica deste belo álbum representa uma retomada promissora das publicações Classic Illustrated no Brasil. Lançada pela última vez pela Abril, na primeira metade da década de 1990, a série apresenta excelentes trabalhos de artistas renomados da indústria dos quadrinhos. Obras que, com certeza, merecem esse tratamento gráfico.
Que venham os próximos.
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