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ANN DE LA JUNGLE

30 maio 2009


Autores: Hugo Pratt (roteiro e desenho) e Patrizia Zanotti (cores).

Preço: 23,95 euros (R$ 72,08)

Data de lançamento: Agosto de 2001

Sinopse: Quatro aventuras que se passam em 1913, tendo como ponto de partida o forte Gombi, em algum lugar da África oriental, protagonizadas por Ann Livingstone, filha de um médico inglês, Daniel Doria, um jovem príncipe que viaja incógnito pela região, e diversos coadjuvantes.

Juntos, eles sobreviverão à revolta dos Wagaias, em Wambo est mort... Wambo revivent; buscarão a cidade perdida de Amon-Rá, em La cité perdue d'Amon-Râ; enfrentarão os traficantes de escravos, em Le sorcier d'Ujiji; e descobrirão um cemitério de elefantes, em território Tutsi, no episódio final Le Cimetière des Éléphants.

Positivo/Negativo: Ann de la Jungle, ou Ana das Selvas, é uma das obras mais importantes do início da carreira de Hugo Pratt por diversos motivos. O principal é o fato de esta ser a primeira história escrita e desenhada pelo autor.

As aventuras foram criadas quando Pratt morava na Argentina, em 1959, e publicadas em preto e branco, em quatro episódios, com o título de Ann y Dan, na revista Supertotem.

A estrutura do enredo e o desenvolvimento parecem estar influenciados pelo estilo narrativo de Hector Osterheld, escritor que trabalhou diversas vezes com Pratt nesse período.

Ann de la Jungle mostra um momento da África colonial que, embora seja anterior à Primeira Guerra Mundial, esteve próximo da vida de Pratt. O desenhista viveu na Abissínia (hoje Etiópia) entre 1935, quando a região havia sido conquistada por Benito Mussolini - antes da Segunda Guerra - e 1943, quando foi repatriado à Itália com sua mãe, pela Cruz Vermelha.

Pratt retornaria à África em várias de suas obras, como Os Escorpiões do Deserto e em álbuns de Corto Maltese.

Outro fator importante de Ann de la Jungle é a personagem central, a garota Ann Livingstone (o sobrenome, embora comum, é sem dúvida uma homenagem ao famoso explorador escocês David Livingstone, que assim como o pai de Ann, também era médico e ficou desaparecido na África por seis anos, buscando as nascentes do rio Nilo), cujo visual foi baseado em uma vizinha de Pratt, Ann Frognier, que na época tinha apenas 15 anos.

Ann Frognier se tornaria a segunda esposa de Pratt (que havia se divorciado da primeira mulher em 1957) em abril de 1964. O casal teve dois filhos, Giona e Silvina, e se separou em 1970.

Embora Ann e Daniel seja as figuras centrais, Pratt faz um uso pronunciado de seus personagens secundários, que muitas vezes assumem o palco, como no caso de La cité perdue d'Amon-Râ, na qual o Capitão O'Hara toma o comando da primeira metade da trama.

Tipperary O'Hara, o capitão do barco Golden Vanity, é nitidamente uma encarnação anterior de Corto Maltese, a maior criação de Pratt.

Outros personagens, como o Capitão McGregor e Tenente Tenton, oficiais ingleses do forte Gombi, voltariam a aparecer em Os Escorpiões do Deserto, e em Corto Maltese - As Etiópicas (também publicado no Brasil como Corto Maltese na Etiópia).

Tenton, aliás, desempenha um contraponto adulto ao casal juvenil representando por Ann e Daniel. O tenente do exército inglês tem um breve romance com a tenente Sybille Muller, do exército alemão, na história Le Cimetière des Éléphants, na qual Pratt faz uma análise da guerra.

Ann e Daniel simbolizam Pratt e seu primeiro amor adolescente, a garota etíope Mariam (o autor revelou detalhes de sua infância e juventude na África nos livros De l'autre côté de Corto e Le désir d'être inutile).

Além de suas experiências pessoais, Pratt foi influenciado por uma HQ de sua infância, a série Tim Tyle'r Luck, de Lyman Young (rebatizada na Itália como Cino e Franco), o irmão de Chic Young, criador de Blondie. A tira Tim Tyle'r Luck surgiu em 1928 e a maioria de suas aventuras aconteciam na África.

Outra curiosidade é que Umberto Eco, que elogia Pratt numa citação na quarta capa deste álbum, usou o nome italiano de uma aventura de Tim Tyle'r Luck, La Misteriosa Fiamma della Regina Loana, como título de um de seus romances mais recentes - a obra foi publicada no Brasil, em 2005, pela editora Record, como A Misteriosa Chama da Rainha Loana.

Em termos artísticos este trabalho ainda mostra um Pratt em desenvolvimento, mas bastante expressivo (lembrando Milton Caniff em certos quadros), com um traço ainda cheio de texturas, diferente do estilo mais solto da maior parte das aventuras de Corto Maltese. A narrativa, porém, já era bem sintética e ágil.

De certa forma, as quatro histórias distintas de Ann de la Jungle passam a sensação de que são como aventuras de Corto Maltese, nas quais o marinheiro - aqui representado principalmente por O'Hara - ocupa um lugar secundário, ganhando destaque somente em momentos esporádicos.

Curiosamente, este volume só chegou na Itália em 1973, numa edição em preto e branco. A primeira edição francesa é de 1961-62, publicada no Special zorro com o título de African O'Hara.

O volume em álbum, da Casterman, só foi lançado em 1978, também em preto e branco, com prefácio de Umberto Ongaro. A atual versão colorida foi publicada apenas em 2001.

Como o material é inédito no Brasil quem se interessar pode procurar as versões argentinas (Ann y Dan, Ediciones Record, 1976), espanhola (Ana de la jungla, editora Nueva Frontera, 1978), ou portuguesa (Ana de la jungla, editora New comic - Coleção Totem Comics, 1992).

Mas as edições mais fáceis de localizar serão as coloridas, baseadas na nova versão francesa. São elas: a edição espanhola da Norma Editoral, de 2001, Ana de la Jungla; e a portuguesa, Anna na selva, da Meribérica/Líber, também de 2001.

 

Classificação:

4,0

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