Apocalipse, por favor
Editora: independente – Edição especial
Autor: Felipe Parucci (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 45,00
Número de páginas: 248
Data de lançamento: Setembro de 2015
Sinopse
O crescente número de atrocidades oriundas do cotidiano social torna evidente o desejo da sociedade em pôr um fim à vida no nosso planeta. Um sinal disso é o surgimento frequente de histórias com temas que tratam do fim do mundo na nossa cultura.
Arthur Miró é um homem paranoico de vida tediosa; Anabela é uma ex-atendente de telemarketing sem amor próprio; Jorge é um péssimo namorado para ela; e o político Jesus Correia só pensa em colocar maços de dinheiro por debaixo dos panos... Ou dentro da própria cueca.
Tragédias oriundas do cotidiano tornam o mundo desses personagens absurdamente insuportável.
Positivo/Negativo
O fim do mundo acontece com qualquer um e de todas as formas. Basta estar vivo e olhar ao seu redor. Um tema que nunca se esgota e é constantemente apreciado por muitos curiosos com o final de tudo, que poderá ser testemunhado coletivamente ou não.
Usando muitas metáforas – ora óbvias, ora sutis –, Felipe Parucci estreia no mercado com Apocalipse, por favor, um álbum que parece ser feito por alguém já calejado no cenário. Essa é a sensação quando se chega ao seu (também inevitável) final.
O fio condutor da trama que orbita por outros núcleos (que irão se escafeder do mesmo jeito) é um homem com feições de lobo, Arthur, cujo sobrenome remete ao famoso artista surrealista espanhol Joan Miró (1893-1983). Um movimento – diga-se de passagem – que viveu as duas grandes guerras do mundo e achou que estava à beira do abismo da humanidade.
Analista de Processos Tediosos do Instituto Burocrático Nacional (tiradas que vão se espalhar por toda a HQ), ele tem uma vida marcada pelas carimbadas na repartição e pelas receitas médicas de tarja preta que toma para enfrentar o derrotismo do cotidiano e a tensão sexual que monopoliza seu corpo e sua mente.
Para Jorge, o apocalipse é ter que arregaçar as mangas para trabalhar e ganhar a vida nesse batente. Isso porque a sua namorada cheia de crises, Anabela, teve sua pensão suspensa.
Já o presidente Jesus Correia carrega a cruz do estereótipo de qualquer montagem imaginativa de um genuíno político brasileiro. Sem apelar para um Estado laico, o corrupto faz o milagre de multiplicar sua renda, de quebra tem seu Judas e vê um Armagedom cavalgando com os repórteres do Apocalipse quando é denunciado.
Tudo isso, mais o clima de filme blockbuster estrelado por Bruce Willis quando realmente um imenso meteoro vai colidir com a Terra em poucos dias.
Por meio do vaivém de encontros e desencontros bem montados, Parucci vai costurando a narrativa com cinismo, humor e uma dose generosa de tragédia. O autor consegue medir as nuances que poderiam simplesmente virar clichês por inabilidade de quem está começando.
Com um bom volume de páginas para desenvolver os personagens e suas histerias, o quadrinhista sabe trabalhar os momentos de introspecção e os diálogos cheios de ironia, mantém um bom ritmo na diagramação e transmite a autoconsciência de não se levar a sério em determinados momentos, atitude salutar para entrar no compasso de contagem regressiva de Apocalipse, por favor.
Mesmo nos momentos forçados ou óbvios, o álbum preza pelo interesse de como o desfecho será conduzido. Outro ponto alto é a arte de Parucci, com o traço bonito, fino e clássico das charges, mas que sabe ser mais contundente nos momentos certos.
Finalizado via financiamento coletivo, por meio da plataforma Catarse, o trabalho independente tem formato 17 x 24,5 cm, capa cartonada sem orelhas e papel off-set de boa gramatura e impressão.
Começando pelo fim dos tempos, Felipe Parucci é um nome para estar atento no cenário de quadrinhos no País e uma boa aposta para garantia de entretenimento na área daqui para frente. Vingue essa profecia ou não.
Classificação