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ARRUGAS

4 outubro 2009


Autor: Paco Roca (texto e arte)

Preço: 15 euros

Número de páginas: 104

Data de lançamento: Fevereiro de 2009 (4ª Edição)

Sinopse: Emilio é um ex-executivo bancário que sofre de Alzheimer e é enviado para um asilo por sua família, que já não consegue mais lidar com as dificuldades provocadas pela doença.

Positivo/Negativo: Arrugas (rugas em espanhol) é uma daquelas raras obras que conseguem, na mesma proporção, explorar ao máximo o potencial narrativo dos quadrinhos e emocionar o leitor.

Ao ouvir os relatos sobre os devaneios do pai de um amigo, que seriam engraçados se não refletissem a decadência de alguém que o autor sempre respeitou, e ao ver sua mãe comprar sua primeira bengala, Roca decidiu escrever uma história sobre idosos.

Passou então a recolher histórias de familiares e amigos e passou a visitar asilos, de onde extraiu os mais ricos personagens. São idosos que têm medo de ficar sozinhos para não serem abduzidos por alienígenas; que guardam as coisas mais absurdas para presentear quem fosse visitá-los; que se imaginam a bordo do Expresso do Oriente; ou que mal conseguem falar, apenas repetem o que acabaram de ouvir. Todos ganham vida nas páginas deste excelente trabalho.

Além de roteirista primoroso, Roca é dono de um traço belo e elegante e explora como poucos os recursos narrativos que os quadrinhos podem oferecer. Suas sequências têm um ritmo bem orquestrado e nunca deixam a peteca cair.

Até nas passagens em que relata o tédio do dia a dia de um asilo, Roca consegue extrair um sorriso do leitor. Ele chega a usar até o branco do papel para mostrar como a memória do personagem vai se apagando aos poucos. Em uma passagem sublime, o desenho do rosto de Miguel, o melhor amigo de Emilio no asilo, vai lentamente se transformando em um esboço até virar um espaço completamente vazio.

O autor ainda usa uma bela paleta de tons pastéis, que se adaptam perfeitamente à carga emocional de cada cena. No momento em que Emilio e Miguel visitam o andar superior, onde estão os pacientes em estágio mais avançado, por exemplo, as cores ficam sutilmente mais acinzentadas para refletir a decadência e o sofrimento ali presentes.

Também é impressionante como o livro trata de um assunto delicado como o Alzheimer com leveza e até bom humor. Não são poucas as passagens memoráveis, capazes de fazer o leitor ir do riso às lágrimas, como a impagável sequência na qual um grupo de idosos vai praticar um exercício físico em que se deve passar uma bola para quem está à sua direita.

É uma atividade simples, mas se transforma num épico digno de nota quando é executado por um grupo de pessoas tão debilitadas. O ápice se dá quando um deles mal se lembra como se chama aquele objeto redondo que se encontra em suas mãos.

O autor usa com mestria o humor, não apenas como alívio cômico, mas também como um potencializador da tragédia inerente à luta contra a velhice: é uma guerra que simplesmente não pode ser vencida.

Paco Roca é colaborador constante da revista espanhola El Víbora e, além de Arrugas, já publicou os álbuns GOG, El Juego Lúgubre, Aventuras de A. Icaro, El faro e o recente Las Calles de Arena, um belíssimo trabalho inspirado no realismo fantástico, que dialoga com a obra de grandes mestres como Borges, Kafka e Cortazar.

Arrugas conquistou diversos prêmios (melhor roteiro e melhor obra espanhola no Salão de Quadrinhos de Barcelona em 2007; melhor roteiro baseado em fatos do Diario de Avisos; melhor álbum no Festival de Lucca; melhor obra espanhola no Expocómic de Madri em 2007 e o Prêmio Nacional de Quadrinhos na Espanha em 2008), e já foi sido publicado na França, Itália e Espanha, onde já se encontra em sua quarta impressão em pouco menos de dois anos de existência.

Uma obra que coloca seu autor entre os melhores da atualidade.

 

Classificação:

4,0

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