ASSUNTO DE FAMÍLIA
Autor: Will Eisner (roteiro e desenhos). Publicada originalmente em Family Matter.
Preço: R$ 23,00
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Novembro de 2009
Sinopse: Em um período de 24 horas, os segredos mais sombrios de uma família são revelados.
Em um período de 24 horas, memórias há muito suprimidas vêm à tona - traição, depravação, ganância, incesto e coisas ainda piores.
Em um período de 24 horas, uma família estremecida se reúne, simplesmente para ser destroçada.
Em um período de 24 horas, conheça uma família que poderia viver na casa ao lado - ou, até mesmo, ser a sua própria família.
Positivo/Negativo: "Não existe ninguém igual a Will Eisner. Nunca existiu, e eu, em meus dias mais pessimistas, duvido muito que venha a existir." Esta frase, que está na quarta capa de Assunto de família é de Alan Moore, roteirista de Watchmen, Tom Strong, A Liga Extraordinária e outros grandes trabalhos, e traduz perfeitamente a importância que o criador do Spirit tem para a indústria das arte sequencial.
Eisner é o Pelé dos quadrinhos. Mas se até o rei do futebol tinha seus dias ruins, o velho mestre nem sempre foi brilhante. Duas de suas últimas obras, O Complô - A História Secreta dos Protocolos dos Sábios do Sião e Fagin, o judeu, por exemplo, estão - na opinião deste resenhista - aquém de seus outros trabalhos. O que não quer dizer que sejam HQs ruins.
Mas se este Assunto de família fosse um uísque, seria avaliado como um "Eisner legítimo". Isso porque a obra traz uma história bem ao estilo do autor: emocionante e explorando ao máximo a fragilidade dos personagens.
Will Eisner retrata uma família problemática. Cinco irmãos que não se veem há bastante tempo e têm um relacionamento péssimo entre si se reúnem para os 90 anos de seu pai, que, vítima de um derrame, está imóvel numa cadeira de rodas.
E é explorando os podres de cada membro da família que Eisner, mais uma vez, "prende" o leitor. Os personagens são muito bem delineados; não há nenhum santo ali. Nem mesmo o patriarca - antes que ele desperte o sentimento de dó em que lê, as cenas do seu passado, contadas numa aula de flashback, o colocam como mais um numa família extremamente conturbada.
Tudo isso em meras 24 horas.
Então, após desenrolar a trama para diversas direções, Eisner constrói um final pesado, duro, chocante. Mas que faz todo o sentido dentro da história. Afinal, um desfecho feliz, pelo que se vê desde as primeiras páginas, estava fora de cogitação.
Na arte, o velho mestre não faz uso de enquadramentos inusitados, como em outros de seus trabalhos, mas sua diagramação quase sempre sem usar requadros faz a narrativa fluir de um modo que muitos desenhistas atuais nem sonham em fazer.
Assunto de família é um dos poucos trabalhos de Eisner que permanecia inédito no Brasil e a Devir marcou um belo ponto ao publicá-lo com a tradicional impressão em sépia e acabamento bacana. Para os fãs de bons quadrinhos, é uma obra digna de um lugar de destaque na sua estante.
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