Astro City – Volume 4 – O anjo maculado
Editora: Panini Comics – Edição especial
Autores: Kurt Busiek (roteiro), Brent Eric Anderson (arte), Will Blyberg (arte-final), Alex Sinclair (cores) e Alex Ross (capas) – Originalmente em Astro City – Volume 2 # 14 a # 20.
Preço: R$ 25,90
Número de páginas: 192
Data de lançamento: Março de 2016
Sinopse
Nem só supervilões assolam Astro City. Como em qualquer cidade, há grandes criminosos e ladrões de galinha. Este volume traz a história de um bandido mequetrefe, que pode se tornar o salvador do dia.
Positivo/Negativo
Astro City é uma série já um tanto antiga, que começou em 1995. Mesmo assim, ela mostra um vigor que apenas as grandes obras possuem. Kurt Busiek, auxiliado por Alex Ross e Brent Anderson, consegue criar um mundo palpável e crível, que transporta o leitor e o cativa justamente por conta desta tridimensionalidade.
Na série, não há o maniqueísmo costumeiro dos quadrinhos de super-heróis. Muito pelo contrário. Busiek procura o que há de melhor nos piores e o que há de pior nos melhores, fazendo com que pedaços de papel com tinta e balões de fala pareçam reais.
Normalmente, os autores de quadrinhos de supers “adultos” acabam por transformar o herói ou vilão em uma pessoa que poderia habitar o mundo real. A abordagem de Busiek é oposta: ele leva você, leitor, para a cidade dos super-heróis. E lá se desenrolam as histórias.
Neste quarto volume, é mostrado um criminoso que acaba de sair da cadeia depois de 20 anos e para lá não quer voltar. Seu nome era Homem Blindado de Aço, mas acabou encurtado para apenas Blindado.
Hostilizado pela multidão, que ainda se lembra de seus crimes e sua prisão, Blindado vai buscar apoio e moradia em sua antiga vizinhança, próxima à praça Kiefer. Lá, as pessoas ainda se recordam dele e o aceitam, ainda que com ressalvas.
Com a ajuda de um agenciador de crimes, Blindado descobre um grande problema e inicia sua redenção.
Busiek é um dos melhores escritores de histórias de super-heróis, justamente por procura o humano, o banal, o cotidiano, o que nos faz comuns. Esta história foi contada com superseres. Mas não precisava ser. É uma trama de detetive com uma pegada noir e várias reviravoltas. Algumas que duram mais de uma edição, outras que se passam apenas em poucos quadrinhos (e uma virada de página).
Mas o importante é que os superpoderes de Blindado são pouco utilizados. O que vale realmente são as situações que ele enfrenta e como faz isso. Uma história de redenção e suspense.
É preciso também destacar a construção de todos os personagens. Cada um possui sua motivação, sua própria luz e tridimensionalidade. Busiek parece ser um grande conhecedor da mente humana e de suas idiossincrasias, e usa isso em prol da história.
Seja nos protagonistas, seja nos coadjuvantes, o autor sempre acerta a mão. Tanto é verdade, que a melhor história do encadernado talvez seja a do Falsa Tartaruga, que mostra o quão frágeis e malvados os humanos podemos ser.
Os desenhos de Anderson são funcionais. Estão longe de ser uma maravilha, mas caem como uma luva na proposta de Busiek e na própria ideia de um quadrinho clássico de super-herói.
Dá até para dizer que uma arte mais arrojada não serviria para este tipo de história, que tenta emular (e ir além) as de super-herói que o leitor acima dos 30 anos cresceu lendo.
Em relação à edição, destaque para o prefácio de Frank Miller, no qual o autor escancara o que pensa dos quadrinhos de super-heróis depois do seu O Cavaleiro das Trevas. Ao fim do volume, a tradicional galeria de capas desenhadas por Alex Ross e os sketches dos personagens pensados por Ross, Anderson e Busiek.
A Panini tem sido bastante inteligente no lançamento dessas séries “neoclássicas” (como Astro City, Patrulha do Destino e Homem Animal, de Grant Morrison, e Hellblazer, de Garth Ennis) em encadernados com preços acessíveis.
Enfim, uma obra interessantíssima, que merece ser lida por todos os amantes de bons quadrinhos.
Classificação