AUTHORITY APRESENTA: KEV + A NOITE DO DEMÔNIO
Título: AUTHORITY APRESENTA: KEV + A NOITE DO DEMÔNIO (Pixel
Media) - Edição especial
Autores: A Noite do Demônio - Joe Casey (texto), Cully Hamner (desenhos e arte-final), Ray Snyder e Mark Irwin (arte-final);
Kev - Garth Ennis (texto) e Glenn Fabry (arte).
Preço: R$ 8,90
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Julho de 2007
Sinopse: Esta edição reúne duas HQs especiais de Authority:
A Noite do Demônio - Diversos mortos - inclusive ex-integrantes do Stormwatch, equipe que precedeu o Authority - estão retornando do além e alguém precisa fazê-los voltar pro descanso eterno.
Kev - Kev é um agente decadente do governo britânico que recebe uma missão: eliminar o Authority. A grande surpresa é que ele consegue. Mas seu grande sucesso pode se tornar seu maior fracasso.
Positivo/Negativo: Só há um ponto em comum entre as duas histórias publicadas nesta edição especial: ambas são do Authority. Ponto.
A Noite do Demônio, que abre a revista, é decepcionante (mas não desista ainda, leitor: Kev compensa!).
A HQ faz parte de um crossover da Wildstorm, Devil's Night, que interliga a revista do Authority com anuais de Gen 13 e Wildcats. As tramas são mais ou menos autocontidas, e a conclusão se dá numa edição especial.
O resumo da ópera é que a aventura mostra um punhado de bizarrias acontecendo com a equipe, sem nenhuma explicação aparente. Pela introdução, sabe-se que é por causa de um demônio chamado Ghoulgotha. E por mais que a participação do Authority tenha um desfecho em si, a contagem de pontas soltas ultrapassa os índices do bom senso.
Para piorar, Joe Casey se perdeu ao retratar o Authority. Ele faz uma história do universo Wildstorm, sim, mas esqueceu que a equipe só faz parte do mesmo mundo que Gen 13 por uma questão corporativa.
O roteiro não tem nenhuma das marcas registradas da série: nada de metalinguagem, nada de referências, zero de densidade. Sobra apenas um pastiche recheado de obviedades, como as piadas agressivas e o excesso de violência, ilustrado por uma arte bem mediana.
Ao final da história, se questiona até mesmo a opção da Pixel em publicar a HQ com cheiro de tapa-buraco.
Kev, que ocupa pouco mais que a segunda metade da revista, é exatamente o oposto.
É uma HQ deliciosa, a começar pela arte brilhante de Glenn Fabry - mais conhecido por seu trabalho de capista em Preacher. A expressividade de seu traço está além do rosto dos personagens: ela grita até nos detalhes do cenário.
Mas é Ennis quem se dá melhor.
Seu trabalho muitas vezes é considerado monotemático. É verdade que as doses cavalares de violência e sarcasmo - presentes em 90% das histórias que escreve - foram responsáveis por seu sucesso. Mas, a partir de um certo momento, os recursos narrativos começaram a se repetir até a exaustão.
Menos prolífico que outros autores, Ennis funciona melhor em séries que lhe dêem espaço para desenvolver seu humor tosco e grosseiro.
Mark Millar e Warren Ellis, roteiristas que desenvolveram o espírito da série, criaram elementos em comum com a obra de Ennis. Mas, ao mesmo tempo, puseram uma carga de referências políticas e tecnológicas que não costumam ser o terreno mais fértil para o roteirista desta história.
É por isso que Kev acaba se tornando um personagem tão fascinante. É ele quem dá ao seu criador o acesso ao universo de Authority. Seu papel é conduzir a trama de um modo tão raso e divertido quanto a sua cabeça.
E a estratégia dá certo. Se fosse outro roteirista, o desfecho seria pífio. Mas Ennis é tão, mas tão bizarro, que o transforma em uma pérola da bizarrice.
No fim das contas, Kev é mais do que uma história memorável do Authority. É também um trabalho marcante de Ennis. E a salvação de uma revista cuja primeira metade só serve para denegrir a boa imagem do Authority.
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