AVENIDA DROPSIE: A VIZINHANÇA
Autor: Will Eisner (texto e arte).
Preço: R$ 35,00
Número de páginas: 176
Data de lançamento: Maio de 2004
Sinopse: Em 1870, surgem as bases daquela que será a Avenida Dropsie.
A história acompanha o crescimento, o apogeu, a queda e a ressurreição
de uma rua no sul do Bronx, nos subúrbios de Nova York.
Positivo/Negativo: Will Eisner criou o termo graphic novel
(romance gráfico) para levar os bons quadrinhos às livrarias, diferenciando-os
dos comics das bancas de revistas ao provocar uma associação imediata
com o mundo da literatura (por suposto e por méritos, mais nobre).
O plano não deu tão certo quanto se poderia esperar. A indústria dos quadrinhos
acabou se apropriando do termo e, de um dia pro outro, qualquer garatuja
do Wolverine impressa em papel couché se achava no direito de estampar
o rótulo em cada uma das três versões para colecionadores da capa holográfica
especial. No Brasil, a estratégia deu mais errado ainda: mantida em português,
a expressão graphic novel virou sinônimo instantâneo de HQ!
O criador do Spirit já era "macaco velho" nessa época e sabia o que pretendia
fazer no universo dos quadrinhos. Ainda que a expressão tenha caído na
vulgaridade, Eisner foi tão, mas tão bom que seus romances gráficos -
mesmo dividindo espaço com o entulho da Marvel - sempre se destacaram
nas prateleiras e na afeição dos leitores.
Um
Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço, No
Coração da Tempestade, O
Nome do Jogo e este recém-saído Avenida Dropsie: A Vizinhança
são exemplos disso. Todos são, pra começo de conversa, coerentes entre
si. E mais: junto com o restante de sua produção, desde o Spirit, formam
uma obra única e reconhecível.
Há nesse conjunto uma unicidade que se vê com uma clareza solar, coisa
rara nas HQs norte-americanas, mas que se percebe em um Picasso ou em
um Kafka - ainda que, por paralelismo, se devesse evocar a obra do cronista
O. Henry, que, como Eisner, é um especialista nessas picuinhas do cotidiano.
São marcas do autor a diagramação ritmada dos quadros, os rostos caricaturais
e expressivos, a leveza na condução da narrativa e um ar autobiográfico
em maior ou menor grau.
Neste álbum (e também em outros de seus trabalhos), Eisner lida com dezenas
de personagens que interagem entre si. Nascem, crescem, têm filhos, brigam,
se mudam, voltam, empobrecem, caem na desgraça, enriquecem e morrem. Não
chega a haver um protagonista na história, embora alguns deles e suas
famílias se destaquem. O que importa, mesmo, é a Avenida Dropsie - palco
de preconceito social, especulação imobiliária e todos os tipos de maldades
ditas menores.
O cenário é perfeito para o autor desenvolver um de seus temas preferidos,
o de que a vida, como uma boa HQ, é cheia de ritmos que se repetem. Avenida
Dropsie é, enfim, um Eisner das melhores safras.
A edição da Devir, com papel pólen e discreta aplicação de verniz
na capa, é de qualidade elogiável - o que faz o leitor torcer para que
a casa editorial publique logo mais dos diversos álbuns inéditos do criador
do Spirit.
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