AVENTURAS HERÓICAS # 7 - O DEFUNTO
Título: AVENTURAS HERÓICAS # 7 - O DEFUNTO (LaSelva)
- Revista mensal
Autores: Eça de Queiroz (texto original), Raul Correia (texto adaptado),
Eduardo Teixeira Coelho (desenhos) e Jayme Cortez (capa).
Preço: Cr$ 5,00 (preço da época)
Número de páginas: 32
Data de lançamento: Dezembro de 1954
Sinopse: A história se passa no ano de 1474, na cidade de Segóvia.
Don Rui de Cardenas, o herói, se enamora por Dona Leonor, a esposa de
Don Alonso de Lara, um ser sem coração e inescrupuloso.
A doce e alva Dona Leonor nem ao menos percebe a existência de Don Rui,
mas seu marido sim e decide fazer algo acerca dessa paixão.
Ele a leva para um sitio perto da cidade, para afastá-la dos olhares do
rival e a força a escrever uma carta de amor convidando seu suposto admirador
para ir vê-la e deitar-se em seu leito.
Quando a carta chega às mãos de Don Rui, ele se alegra e se prepara para
encontrar a bela. Só quando está saindo da cidade, às escondidas, durante
a noite, lembra-se que não havia prestado as devidas homenagens à sua
santa de devoção, Nossa Senhora do Pilar.
Mas, para sua sorte, sem que ele soubesse, Dona Leonor rezara à santa
pedindo que o plano de seu marido não desse certo.
Depois de se perder, Don Rui passa pelo lugar onde ficam os criminosos
enforcados e uma voz vinda do nada o chama: é um dos mortos, que pede
que ele o solte das cordas. Mesmo assustado, ele o liberta, e descobre
que o defunto tinha recebido de Nossa Senhora a missão de acompanhá-lo
até o seu destino.
Chegando ao local, avistam a janela do quarto de Dona Leonor, com uma
escada pendurada pelo lado de fora. Nesse instante, o enforcado empurra
Don Rui e, tomando seu lugar, sobe.
Ao chegar à janela, é recebido com uma punhalada no peito. Era Don Alonso
que o esperava para matá-lo. O defunto despenca do alto e Don Rui, muito
assustado, foge dali, desesperado.
No meio do caminho, o defunto aparece novamente e explica que tinha feito
aquilo como forma de se redimir de seus pecados. Então, pede a Don Rui
para amarrá-lo novamente na forca.
No dia seguinte, Don Alonso não encontra o corpo de Don Rui e nem sinais
de sangue. Ele se desespera, acaba enlouquecendo e morre pouco tempo depois.
Assim, Dona Leonor fica livre e volta para Segóvia, onde finalmente conhece
Don Rui e se apaixona. Pouco tempo depois, os dois se casam e vivem felizes
para sempre.
Positivo/Negativo: A Editora La Selva surgiu em 1949, quando
um jornaleiro italiano muito trabalhador, Vito Antonio LaSelva, resolveu
editar uma revista chamada Bom Humor, que vendeu bem. Lançou, então,
O Terror Negro, com o super-herói americano de mesmo nome, criação
de Jerry Robinson e Mort Meskin, com venda modesta.
Logo, porém, as histórias do personagem acabaram e ele resolveu aproveitar
o título e publicar algumas histórias americanas de terror. Foi um grande
sucesso e um pequeno império editorial se construiu a partir daí.
Nessa época, começa a trabalhar na editora como diretor de arte, ilustrador
e "faz-tudo" o português Jayme Cortez Martins, que havia chegado de seu
país em 1947 e viria a se tornar, em pouco tempo, o profissional de maior
influência artística nos quadrinhos do Brasil durante muitos anos.
Na década de 1950, faziam sucesso por aqui adaptações de obras da literatura.
A Ebal, principal editora do gênero tinha como carro-chefe a revista
Edição Maravilhosa, mas publicava uma outra, num formato maior
(21 x 28 cm) chamada Epopéia, com um mix de histórias de aventura
e adaptações de clássicos. A Aventuras Heróicas surgiu para concorrer
diretamente com esta última, imitando seu formato editorial e gráfico.
Jayme Cortez, por sua vez, havia sido muito influenciado ainda em Portugal
por seu colega de redação (no semanário infantil O Mosquito) Eduardo
Teixeira Coelho, um dos maiores desenhistas de todos os tempos, reconhecido
internacionalmente como digno par de Alex Raymond, Hal Foster, José Luiz
Salinas e Burne Hogarth.
Eduardo Teixeira Coelho (ou ETC, como assinava) havia adaptado para os
quadrinhos, junto com o escritor Raul Correia, vários contos de Eça de
Queiroz: A Torre de Don Ramirez, A Aia, O Suave Milagre,
O Tesouro e O Defunto.
Mais do que depressa, Jayme Cortez tratou de publicar esse material por
aqui, na revista Aventuras Heróicas e o fez com extremo zelo, desenhando
pessoalmente guardas, páginas de rosto e capas e providenciando uma impressão
caprichada - melhor que a portuguesa, segundo vários colecionadores lusos.
Fica difícil determinar quem é mais importante nesta edição. Afinal, trata-se
de uma história de Eça de Queiroz, um dos maiores escritores da língua
portuguesa. A trama, por sinal, é excelente, um primor de ironia e inventividade
e foi muitíssimo bem adaptada por Raul Correia, também uma figura vital,
pois apesar de desconhecido no Brasil, é um dos pioneiros dos quadrinhos
em Portugal, tendo um papel como editor similar ao de Adolfo Aizen por
aqui.
Jamais se poderá falar o bastante sobre a importância de Jayme Cortez
nos quadrinhos brasileiros. Ele é um divisor de águas, trouxe um método
moderno de trabalho, além de ensinar, patrocinar e influenciar várias
gerações de desenhistas nacionais, seja diretamente ou por meio de seus
livros.
Mas a verdadeira estrela da revista é mesmo Eduardo Teixeira Coelho. Nascido
(muito apropriadamente) numa cidade chamada Angra do Heroísmo, nas ilhas
dos Açores, em 4 de Janeiro de 1919, tornou-se um dos principais desenhistas
de quadrinhos da Europa. Trabalhou desde os anos 40 não só para Portugal,
mas também para os mercados espanhol, francês, inglês, italiano e alemão,
sempre com grande sucesso, criando inúmeros personagens.
ETC, que morreu em 31 de maio de 2005, aos 86 anos de idade e 70 de carreira,
se tornou uma autoridade em armaduras e armamentos medievais. Fazia-os
com primor. Tanto que dedicou seus últimos anos a escrever livros sobre
este tema.
O Defunto é um de seus melhores trabalhos. A atenção aos detalhes
e à documentação de trajes e arquitetura, além da maneira como ele compõe
as cenas, fazem da leitura desta edição um imenso prazer.
A história foi republicada na revista Spektro
# 13, da Editora Vecchi, em dezembro de 1979, mas em formatinho.
As revistas Aventuras Heróicas com as histórias de ETC são bastante
raras, mas não impossíveis de se achar. Vale a pena o garimpo: é ouro
puro.
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