Badida
Editora: Independente – Edição especial
Autores: Camilo Solano e Aldo Solano (roteiros e desenhos).
Preço: R$ 15,00
Número de páginas: 24
Data de lançamento: Abril de 2017
Sinopse
Badida é uma das figuras mais conhecidas de São Manuel, no interior de São Paulo. Um personagem destemido e preparado para romper qualquer paradigma. Duas de tantas outras histórias corriqueiras e singulares do Badida são mostradas na obra.
Positivo/Negativo
Toda cidade tem seu Badida. Ou seus "Badidas", dependendo da região. Geralmente, essas figuras são confundidas com os "doidos varridos" negligenciados pelo seio familiar, estatal e/ou comunitário, deixando-os marginalizados e totalmente ignorados pelos transeuntes.
Porém, em nenhum momento dessas duas breves histórias haverá esse tipo de julgamento preconceituoso por parte dos irmãos Aldo e Camilo Solano. Para os quadrinhistas, o protagonista é uma figura genuína da sua terra natal que se recusa a seguir um padrão.
Apesar de ser o mesmo personagem, o mergulho na vida de Badida é autônomo, nada de nado sincronizado nas breves páginas da edição independente. A primeira HQ ensaia um mais "acrobático" – herdado da maturidade narrativa conquistada por Camilo em outras obras, como Inspiração, Captar e Desengano.
Em dez páginas, Camilo esboça uma reflexão sobre as mudanças sofridas pelas cidades do interior com o avanço nada moderado da modernidade. São Manuel é colocada como exemplo dessas transformações acerca do patrimônio material e histórico, para emendar o fio da meada com o outro lado e não menos vital, que é a memória imaterial, pessoal.
No campo das incertezas, uma dessas figuras marcha com orgulho e convicção no desfile cívico promovido anualmente, em virtude do aniversário da cidade paulista. O ápice é uma divertida gag baseada na realidade.
Com um traço bem mais simples, Aldo Solano faz uma continuidade bem-humorada apresentando um causo do Badida tomando conta da barbearia do irmão por alguns minutos.
Sua narrativa e composições ainda são "cruas" e sem tanto ritmo, mas percebe-se um esforço de colocar expressividade nos personagens.
Mesmo com a mensagem reflexiva, a arte cada vez mais pessoal (e refinada dentro do seu estilo) e do tom nonsense colocado por Camilo na primeira história, existe uma insuficiência que pode (ou não) despertar a curiosidade de saber mais sobre o Badida, além desses dois breves recortes mostrados aqui.
As HQs cumprem o papel de divertir, mas – como é definido pelo próprio Camilo, no final da sua história – não é marcante como o próprio Badida. Há a ciência de que existe um personagem rico para ser explorado e desenvolvido, apesar disso não ter marchado e ter permanecido no campo das hipóteses. O "querer mais" fica mais do que é mostrado.
Isso não implica apenas em ter mais páginas, pois histórias simples e despretensiosas como Solzinho, gibizinho que Camilo lançou em 2017, fazem a sua marca na biografia do autor.
A edição é bem cuidada, colorida, com capa cartonada, formato 19 x 27 cm, papel pólen com boa gramatura e impressão. Por ostentar o número um na capa, a homenagem e as aventuras do Badida podem ter uma continuação.
Há ainda uma introdução de quem entende da tradição local, Gerson Solano (pai dos autores, que não foi creditado como tal), uma página explicando o "badidês" – a troca de letras no vocabulário peculiar do protagonista, e uma galeria de fotos do próprio.
Curiosamente, Camilo Solano adaptou outro causo, em tom igualmente introdutório, com uma arte-final mais próxima do que corriqueiramente apresenta, que não está na revista. Essas páginas podem ser vistas no site do autor.
Classificação: