Bárbara Gordon fez sua estreia como Batgirl em Detective Comics # 359, de 1967, pelas mãos do roteirista Gardner Fox e do ilustrador Carmine Infantino. A personagem fora encomendada pelos produtores do seriado televisivo do Batman dos anos 1960, que pretendiam conquistar uma parcela maior do público feminino e garantir novos ares à produção.

Mas como o programa acabou cancelado na terceira temporada, foi nos quadrinhos que a carreira de Batgirl progrediu, conferindo charme e ousadia ao universo sombrio do Morcego.

Mas a festa terminou quando a heroína foi baleada pelo Coringa na clássica graphic novel A piada mortal, de 1987. Ela acabou paralítica e posteriormente adotou a identidade de Oráculo.

Tempos depois, foi justamente por conta da televisão que Bárbara voltou a trajar o uniforme de Batgirl nos quadrinhos. Ela era presença constante em Batman - The Animated Series, o cultuado desenho animado da década de 1990, e assim foi magicamente transportada para os gibis inspirados no programa.

Batgirl Adventures foi uma edição especial escrita pelo talentoso Paul Dini, egresso da série de TV, e apresenta a filha do Comissário Gordon em sua melhor forma.

A revista tem o ritmo de um episódio da série animada, focado exclusivamente nas garotas de Gotham, e conta com a arte dinâmica e vibrante de Rick Burchett, veterano dos quadrinhos inspirados na atração televisiva. O clima é leve e descompromissado, marcando um contraste gritante com os gibis publicados no período.

É inegável que Batman - The Animated Series foi um sopro de criatividade que renovou a imagem do vigilante na década de 1990, e o fenômeno se repetiu quando transposto para sua mídia de origem. Por isso, é ótimo acompanhar uma Batgirl elétrica e destemida, saltando pelos edifícios encarando a louca Arlequina, sempre de bem com a vida e pronta para a ação.

O sorriso no rosto da personagem que ilustra a capa da edição não deixa espaço para dúvidas. Esta é uma história recomendada para todas as idades, que resgata a magia e inocência de tempos passados, com linguagem moderna e acessível.

Paul Dini apresenta uma trama básica e sem rodeios, na qual Batgirl precisa unir forças à sua inimiga para enfrentar bandidos ainda piores e salvar vidas. Nada revolucionário, portanto, mas muito bem conduzida e cheia de sacadas geniais na interação entre Bárbara e Arlequina.

A vilã Hera Venenosa completa o elenco, mas o papel dela na narrativa não é o que se espera. O desfecho também surpreende, dando a entender que uma parceria inusitada pode extrair o melhor de duas personalidades opostas. É diversão que não subestima a inteligência do leitor e transmite valores sem pedantismo.

Na cronologia oficial da DC Comics, houve outras jovens que adotaram a identidade de Batgirl, até que Bárbara Gordon foi curada e retomou o uniforme após o reboot da editora, em 2011, numa decisão polêmica. Como Oráculo, afinal, ela era uma das poucas heroínas deficientes físicas de destaque.

Deixando de lado o conflito de opiniões, contudo, é fato que a mocinha nunca deixou de encantar os fãs, sendo uma das mulheres mais fortes e inteligentes do universo fantástico dos quadrinhos. Em Batgirl Adventures, Dini e Burchett provaram sua versatilidade e carisma contagiantes.