Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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BATMAN # 1

1 dezembro 2004

Autores: Há indícios de que os créditos deveriam ser Bob Kane (roteiro),
Lew Sayre Schwartz (desenhos) & Charles Paris (arte-final). Somente a
terceira aventura apresenta o nome do criador de Batman.

Preço: Cr$ 3,00 (preço da época)

Número de páginas: 32

Data de lançamento: Março de 1953

Sinopse: O mistério do circo de automóveis - Uma investigação,
no melhor estilo Era de Ouro, sobre roubos de carro e acidentes
estranhos envolvendo uma trupe de artistas automotivos.

O jogo da Morte - Vítima de um ardil, Batman é capturado e será
morto. Será? Na última hora o herói saca de seu cinto de utilidades uma
máscara contra gases...

Mulher Gato, imperatriz do mundo do crime - Selina Kyle, regenerada,
resolve abrir uma pet shop... mas será que ela abandonou mesmo
o mundo do crime?

Positivo/Negativo: Como Bob Kane usava desenhistas fantasmas, muitas
vezes nenhum crédito era dado. Em outras oportunidades, só o nome do criador
de Batman aparecia, mesmo que os desenhos e arte-final fossem de outros
artistas, geralmente, de mais talento e estilo.

Na verdade, Kane se cercava de artistas tão bons que, ainda hoje, se estuda
seus estilos de desenho para determinar quem de fato foi o responsável
por muitas das HQs dos anos dourados. Nesta edição pode-se perceber as
principais características dos estilos da arte de Lew Sayre Schwartz e
Charles Paris.

Para deixar sua marca e padronizar os desenhos, Kane alterava o traço
dos verdadeiros desenhistas, modificando, sobretudo as características
padrão dos personagens (rostos e uniformes) originalmente feitos pelos
artistas e sem o consentimento deles.

É aí que se percebe uma das marcas registradas dos desenhos feitos por
Schwartz: seus enquadramentos. A decupagem era feita de forma que os personagens
principais (Batman e Robin) eram comumente retratados em planos gerais
à distância. A cena principal do quadrinho era recorrentemente mostrada
no ponto de fuga, numa perspectiva mais distante do leitor.

O artista usava ainda muitos cenários e planos plongé (visão geral
que serve para dar impressão de encurralamento) e contra-plongé
(que focaliza o personagem de baixo pra cima, exaltando-o, tornando-o
maior do que é na realidade). Aspectos mais marcantes como rostos e uniformes
dos personagens eram evitados. A composição do storyboard era a
estratégia de Schwartz para dificultar as ingerências de Bob Kane em sua
arte.

Enquanto a análise do storyboard permite ao leitor perceber a influência
de Shwartz na arte, é analisando os detalhes que se chega à percepção
da arte-final de Charles Paris.

Um dos principais indicativos da atuação de Paris é a presença de orelhas
arredondadas e pontudas (quase no formato de uma gota) no capuz do Batman,
além dos cabelos de Robin, feitos de forma mais detalhada, que dava o
efeito visual de várias raias paralelas representando as mechas.

Como Schwartz desenhava os personagens longe do observador/leitor, nem
sempre há enquadramentos nos quais se possa analisar os detalhes indicadores
da arte-final de Paris. Essa dificuldade fica evidenciada na primeira
história da revista, na qual a decupagem com poucos closes dificulta análises
da arte dos rostos.

Analisando as três histórias da revista, saltam aos olhos as diferenças
de estilo entre elas, apesar de originalmente atribuídas a Kane. Na primeira,
o domínio do estilo de Schwartz é total. Na segunda, que apresenta storyboard
e decupagem mais clássica, a arte-final de Charles Paris rouba a cena,
ficando evidente as características que indicam seu traço. E na terceira
não há uniformidade, páginas mais clássicas (em que o traço de Paris sobressai)
são mescladas a outras menos ortodoxas e com desenhos mais caricatos,
denotando o traço Lew Sayre Schwartz.

No encadernado Batman - The Dark Knight Archives Volume 13, no
qual constam as revistas Batman # 58-63, a história The Auto
Circus Mystery!
, originalmente publicada em 1950, em Batman # 60,
é creditada a Kane, Schwartz e Paris).

O mesmo acontece na história Catwoman - Empress of the Underworld,
originalmente publicada em 1951, em Batman # 65, que saiu Batman
- The Dark Knight Archives Volume 14
.

Destaque para a magnífica arte da primeira história. Desenhos caricatos,
no melhor estilo Will Eisner e Al Capp, aliados à decupagem que valoriza
o cenário e personagens secundários. Schwartz, além de apresentar diagramação
bastante variada mostrando pluralidade de formas de requadros, usa com
competência as bordas dos quadrinhos como recursos de narrativa.

O ponto máximo da revista fica para a quarta-capa, que traz uma foto do
C. R. Vasco da Gama, campeão carioca de 1952!

Classificação:

4,0

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