BATMAN - DIGITAL JUSTICE
Autor: Pepe Moreno (roteiro e desenhos).
Preço: Cr$ 400,00 (preço da época)
Número de páginas: 112
Data de lançamento: 1990
Sinopse: No século seguinte ao surgimento da lenda do Batman, Gotham é uma megatrópole em que a tecnologia domina a vida de sua população.
No entanto, os aparatos informáticos da cidade começam, aos poucos, a apresentar pequenos problemas que não passam despercebidos a Jim Gordon, neto do famoso comissário, um oficial da lei com um espírito tradicional.
Quando todo o sistema dependente da cidade começa a ser corrompido por um vírus errático e com alto poder de contágio, a única solução pode estar em um código computacional não conectado à rede.
Um código puro, criado por um defensor da justiça desaparecido há décadas.
Positivo/Negativo: Digital Justice é uma obra que, definitivamente, envelheceu com o tempo. No pior sentido. Suas ideias ficaram antigas, seu traço soa ultrapassado, a própria pixelização das páginas tem cara de anos 1980 e de vinhetas antigas da MTV. Porém, não foi assim quando a revista foi lançada.
O artista gráfico Pepe Moreno pisava em solo com algum sedimento quando propôs à DC a criação de uma graphic novel com arte computadorizada para o Morcegão.
Mike Saenz, principalmente, já havia feito uma base em que se podia caminhar, tanto com Crash, história especial do Homem de Ferro (publicada no Brasil também pela Abril Jovem), quanto com Shatter, série regular ilustrada por ele e roteirizada por Peter B. Gillis para a First - e que, após um bom one-shot e histórias backup publicadas em Jon Sable Freelance, conseguiu emplacar em título própria que durou 14 números.
Shatter, que é uma boa série, foi pioneira no uso de computadores para a criação visual de uma HQ (era 100% criada digitalmente e rodada em impressoras laser que eram o que havia de melhor em termos de fidelidade de reprodução nos anos 1980). Por isso, deu o tom nos primeiros anos do processo, que era desacreditado por muitos na indústria norte-americana dos quadrinhos.
Hoje, é impossível dissociar o computador do processo. Muito disso se deve aos pioneiros, que provaram que um novo mundo era possível. Aliás, "mundo novo" é um termo muito adequado a essas primeiras histórias, quase sempre enfocando um ambiente distópico e de controle da humanidade pelas máquinas ameaçadoras que o futuro nos reserva(va).
Digital Justice, que foi a segunda revista da série Graphic Álbum, não foge a essa regra.
Na história, um vírus de computador que remete a um antigo e insano facínora tenta dominar o mundo e/ou criar todo o caos possível nele. Apenas um modelo computacional off-line, criado e mantendo a essência do maior inimigo do antigo vilão (pra deixar de enrolação, melhor chamá-los de uma vez de Coringa e Batman) pode deter a ameaça. Com a ajuda de um novo cruzado mascarado, de carne e osso.
A arte de Moreno, que é melhor que seu roteiro por vezes repleto de clichês, ainda surpreende em muitas páginas. A complexidade do que teve que produzir, quadro a quadro, pixel a pixel, tem gosto de um jogo muito bem feito de Master System.
É surpreendente o que ele conseguiu realizar, a tempo de pegar a onda do primeiro filme do herói nos anos 90 (aquele, do Tim Burton). O jogo de cores é, ao mesmo tempo, soturno e pop.
É uma pena que, apenas dois anos depois, tenha aparecido uma Image Comics e sua coloração via computador fascinante, impressionante e que unia traço e tecnologia de um modo tão cativante que, de repente, Digital Justice virou coisa de museu. Instantaneamente.
A edição, recheada com os extras da original, também é um baita exemplo da agilidade da Abril, publicando o álbum no mesmo ano de publicação nos Estados Unidos (algo ainda hoje raro em se tratando de quadrinhos).
Ler esses extras, notadamente a introdução e o pequeno glossário tecnológico da megatrópole, é uma experiência ao mesmo tempo saborosa e dura.
Saborosa porque é a história sendo feita, bem à frente. Dura porque ela tem a idade exata da ruptura, do ponto em que todo o processo industrial da produção dos quadrinhos estava mudando.
A Abril, diga-se, padeceu por não possuir o equipamento necessário para a adaptação tecnológica necessária das imagens da história, bem como seu letreiramento. Assim, o trabalho sempre competente de Lilian Mitsunaga fica anacrônico, numa das raras vezes em que se pode dizer isso desta brilhante profissional.
Depois de Digital Justice - uma história que, aliás, nunca foi creditada como um Elseworld da DC - um novo mundo de possibilidade se abriu. E, como se provou, nada mais nos quadrinhos de super-heróis poderia ser como antes.
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