BATMAN SPECIAL # 1
Autores: Mike W. Barr (roteiro) e Michael Golden (desenho).
Preço: US$ 1,25
Data de lançamento: Junho de 1984
Sinopse: Numa mesma noite, quatro assassinatos vão influenciar dois garotos pelo resto de suas vidas. Um deles, Bruce Wayne, se torna um herói combatendo os criminosos.
O outro, sem nome identificado, se tornará O Espreitador, um assassino dedicado a matar policiais em busca da vingança.
Batman e o Espreitador se enfrentam num jogo de gato e rato, com uma agravante: o Comissário Gordon é o queijo na ratoeira.
Positivo/Negativo: Mike W. Barr é conhecido por seu trabalho como o roteirista de Camelot 3000 (desenhado por Brian Bolland) e várias histórias do Batman, como a deste especial, Batman Ano Dois e a graphic novel Batman - O Filho do Demônio.
O autor é um aficionado de histórias de detetive e ficção científica, e nesta aventura presta uma homenagem a Ellery Queen.
Queen é o nome usado por dois escritores que eram primos e, ironicamente, tinham outros pseudônimos: Frederic Dannay (na verdade, Daniel Nathan) e Manfred Bennington Lee (cujo nome verdadeiro era Manford Emanuel Lepofsky).
Ellery Queen não é apenas o nome dos escritores, mas também o do personagem de suas histórias policiais e de mistério.
No final desta edição, Barr dedica a história a Ellery Queen e dá exemplo, num ensaio, sobre outros clássicos com versões espelhadas ou negativas de personagens famosos (Dr. Jekyll e Sr. Hyde; Sherlock Holmes e professor Moriarty etc.).
Além disso, o roteirista explica a influência de Queen e fala sobre o livro The Player on the Other Side (que também contou com a participação, não creditada, do escritor Theodore Sturgeon), de 1963, que dá título à história deste especial.
Mas aqui Barr foi aparentemente induzido a um erro. Segundo ele, em The Player on the Other Side, o personagem Ellery Queen consulta um artigo de Huxley para encontrar a solução de seu problema, um sujeito que é uma versão maléfica de si mesmo.
Barr assumiu, na época, que o Huxley em questão era o famoso Aldous Huxley, de Admirável Mundo Novo, mas na verdade é Thomas Henry Huxley, um biologista britânico contemporâneo de Charles Darwin e que defendia as teorias evolucionária do seu amigo.
Foi Thomas Henry Huxley que escreveu o ensaio que cunhou o termo The Player on the Other Side (o jogador do outro lado), que dá título tanto ao livro de Ellery Queen, quanto à história de Mike Barr.
O erro, infelizmente, continua perpetuado em diversas fontes, principalmente na internet.
Em The Player on the Other Side (aventura que foi publicada no Brasil, em 1985, na revista Superamigos # 3, da Editora Abril, com o título O Outro Lado do Espelho), Barr e Golden criam uma versão negativa de Batman.
O garoto que se transformará no Espreitador (The Wrath, em inglês, cuja tradução literal significa "a ira") assistiu ao assassinato de seus pais na mesma data que aconteceu o mesmo com Bruce Wayne - aqui marcada como o dia 26 de junho (e, segundo o recordatório, 25 anos atrás).
Enquanto o drama da família Wayne foi causado por um criminoso, os pais deste garoto - que não recebe nome - foram mortos num tiroteio com o jovem policial Jim Gordon, que os pegou em flagrante roubando uma residência.
É curioso notar que o assassino de Thomas e Martha Wayne, Joe Chill, não tem o nome mencionado nesta história (de 1984) e que, mais tarde, Barr tenha escrito o arco Batman - Ano Dois, usando-o como um dos personagens centrais.
Aqui vale um aparte: Joe Chill é uma das variantes curiosa na biografia do Batman.
Ele surgiu em Detective Comics # 33, de 1939, e só foi mencionado nominalmente em Batman # 47, de 1948. Depois disso, a DC ocasionalmente altera várias vezes a origem do Morcego. Em certos períodos, o assassino é desconhecido e nunca foi capturado; em outros, ele é chamado de Joe Chill.
Voltando à trama, o órfão Bruce Wayne foi reconfortado por Leslie Thompkins, enquanto o Espreitador ficou sozinho e foi parar num orfanato.
As diferenças prosseguem nesse caminho, sendo uma das mais importantes o fato de que, ao contrário de Batman, o Espreitador usa diversas armas, incluindo bombas, facas, pistolas e shurikens.
Barr e Golden criaram uma história divertida com este Batman negativo que combate as forças policiais e cuja missão principal é o assassinato do Comissário Gordon. Ele não é apenas mais um mascarado imitando o Cavaleiro das Trevas, mas a sua distorção.
É um lutador habilidoso, capaz de enfrentar Batman no corpo a corpo e um bom detetive, que chega até a descobrir a identidade do Homem-Morcego.
Os dois travam um combate no final da aventura, como era esperado, com as vidas de Gordon e Thompkins em jogo. E o desfecho do confronto é puramente acidental, e não o resultado da supremacia técnica do Batman sobre o Espreitador.
A arte de Golden é excepcional e, no geral, a aventura é uma ótima diversão, pena que este tema tão interessante foi pouco explorado. Era um assunto digno de ser examinado por seus autores numa história mais longa.
Em 2008, Tony Bedard e Rags Morales criaram uma segunda versão deste personagem (Elliot Caldwell) no Universo DC pós Crise Infinita. A estreia ocorreu em Batman Confidential # 13.
O Espreitador também foi usado num episódio da quinta temporada do desenho animado The Batman, a série de 2004.
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