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Black Dog – Os sonhos de Paul Nash

28 setembro 2018

Black Dog – Os sonhos de Paul NashEditora: Darkside – Edição especial

Autor: Dave McKean (texto e arte).

Preço: R$ 59,90

Número de páginas: 120

Data de lançamento: Maio de 2018

Sinopse

Depois de dar forma aos sonhos de Sandman e às insanidades do Asilo Arkham, Dave McKean traduz os traumas de guerra de um dos maiores pintores surrealistas da Inglaterra.

Positivo/Negativo

Em nossos dias, chamamos o conflito global ocorrido entre 28 de julho de 1914 e 11 de novembro de 1918 de Primeira Guerra Mundial. Logicamente, para quem viveu aqueles anos terríveis, não existia a menor noção de que seria apenas a primeira, e que, menos de duas décadas depois, o planeta estaria envolvido em uma segunda e maior movimentação de nações em batalhas espalhadas por diversos continentes.

Não, para seus contemporâneos, aquela era nada menos que A Grande Guerra.

Com o objetivo de reavivar as memórias daqueles tempos, exatamente na vigência do primeiro centenário do conflito, a iniciativa 14-18 Now fechou parceria com vários patrocinadores para encomendar obras de arte retratando aquele período de nossa História.

Uma dessas encomendas foi uma história em quadrinhos, feita para ninguém menos que o britânico Dave McKean.

Artista verdadeiramente multitalentoso, ele é mais conhecido e reverenciado por ser o capista de toda a série Sandman, escrita por seu parceiro recorrente Neil Gaiman, e por ter sido o ilustrador da graphic novel Asilo Arkham, de Grant Morrison.

Mas também já desenhou e escreveu suas próprias HQs, dirigiu filmes, realizou exposições como artista plástico, dentre vários outros empreendimentos artísticos.

Para a iniciativa 14-18 Now, McKean mergulhou na vida de outro artista plástico inglês (que viveu na mesma região do Sudeste daquele país, onde Dave mora atualmente) e como resultado veio ao mundo a portentosa obra de arte Black Dog – Os sonhos de Paul Nash.

O londrino Paul Nash (1889-1946) é considerado um dos maiores nomes do surrealismo e do modernismo na Inglaterra, um pintor que exerceu enorme influência na primeira metade do Século 20. Mais do que isso: sua obra foi marcada justamente pela experiência que teve no teatro da guerra. Da Grande Guerra.

Filho de uma família pobre, ele se alistou no exército meses antes do início das batalhas. Após passar por um treinamento militar, foi destacado para participar, como segundo tenente, do Regimento de Hampshire, em uma região da Bélgica.

Aquela sua primeira participação acabou no dia 25 de maio de 1917, quando caiu em uma trincheira e quebrou uma costela. Foi mandado de volta para casa, para se recuperar, e logo recebeu a notícia: alguns dias depois de sua partida, a maioria de seu batalhão foi dizimado pelo inimigo. Se não fosse pelo acidente, provavelmente Nash estaria entre os mortos.

Em Londres, durante sua licença médica, o artista trabalhou nos esboços que fez durante sua curta estada no campo de batalha e produziu uma série de desenhos, usando materiais como giz e tinta.

Seu trabalho chamou tanta atenção em exposições pelo país que, quando voltou a ser enviado pelo exército novamente para a Bélgica, foi com o status de artista de guerra. Uniformizado, Paul Nash produziu obras que são consideradas até hoje como algumas das imagens mais contundentes inspiradas em primeira mão naquele evento histórico.

Um século depois, foi a vez de Dave McKean se inspirar nesta obra e contar, com sua costumeira infinidade de recursos artísticos, o que havia por trás de tais imagens. Um mergulho na vida de Paul Nash antes, durante e depois de sua participação na guerra, e em seus pesadelos recorrentes.

Como aqueles assombrados pela visão de um enorme cão negro que acabou por dar título ao livro em seu formato de 23,4 x 30,6 cm. Um autêntico coffee table comicbook.

Uma peça de arte que envolve páginas próximas dos quadrinhos como o conhecemos, mas também diversas pinturas, colagens, fotos, imagens abstratas, grafismos de todas as espécies, sempre com o toque de mestre que gerou o reconhecimento mundial pela assinatura de Dave McKean.

Publicada em nosso mercado pela Darkside Books dois anos após seu lançamento mundial, Black Dog vem embalado com capa dura e com uma aplicação de relevo em seu título, tanto na capa quanto na lombada, que dá uma aspereza irritante ao tato naquelas palavras.

Por falar em palavras, o álbum contou com uma tradução de qualidade, além dos cuidados gráficos em si, feita por Bruno Dorigatti, o próprio editor nacional, que verteu para o português o texto entre o onírico e o histórico presente na graphic novel. Um exemplo:

“Quando você desenha, ou apenas enxerga o mundo através dos olhos de um artista, você se afasta, abstrai. Encontra beleza nos detalhes, mesmo aqui, eles estão em qualquer lugar – pequeninas joias de beleza, a dança da luz na textura da lama, ou do metal, ou da pele, ou de farpas de madeira. Nas formas da fumaça, na cadência e nas ondulações da terra, nos formatos e nas linhas da composição”.

É a arte como uma resposta à guerra.

Classificação:

5,0

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