Blade – A lâmina do imortal # 2
Editora: JBC – Série bimestral em 15 volumes
Autor: Hiroaki Samura (roteiro e desenhos) – Originalmente publicado em Mugen no Juunin # 3 e # 4 (tradução de Thiago Nojiri).
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 448
Data de lançamento: Fevereiro de 2016
Sinopse
O samurai imortal Manji continua a acompanhar Rin Asano em sua vingança pelo assassinato de seus pais pelo clã de renegados da Ittou-Ryu. Mas os adversários se mostram cada vez mais humanos e dúvidas surgem no coração da garota.
Positivo/Negativo
Que tipo de ideal torna correto matar uma pessoa? O que é uma "causa maior" perante um contexto íntimo? Quais os verdadeiros motivos pelos quais se luta? Essas são algumas das indagações que servem de base para a segunda edição de Blade.
Geralmente – e mais ainda no tocante dos quadrinhos de ação –, o leitor não é acostumado a ver essas camadas de complexidade numa trilha de vingança, na qual há apenas o desejo unilateral de consolidá-la eliminando seu(s) algoz(es) no final da jornada.
Hiroaki Samura aproveita de certa inocência e da fragilidade (não apenas física ou no que se diz respeito ao seu talento de combate) da adolescente Rin para questionar e expor um conjunto de possibilidades que acarretam em suas ações e decisões.
Chega até a antecipar um encontro entre a garota e o chefão do clã que matou seus pais, o andrógino Anotsu Kagehisa, mas isso não implica em um confronto direto meramente físico. O que se enxerga aqui é um embate de ideias ou apenas uma explanação delas por parte do "vilão".
O autor não planeja só desenvolver os protagonistas, apesar de deixar um pouco de lado – pelo menos neste começo – algum aprofundamento do verborrágico, cínico e sem papas na língua Manji, o ronin imortal do título.
Quando vemos Kagehisa manejar uma arma "estrangeira", algo inconcebível para a honra de um samurai: vê-se um homem capaz de fazer tudo para derrubar as barreiras, dojos e estilos para vislumbrar um Japão mais forte do que é na sua época de paz (e consequente decadência), no final do Século 18, na metade da Era Tokugawa.
Toda a argumentação e as escolhas dos personagens fazem o leitor parar para pensar nas perspectivas pessoais de cada um. Desde deixar alguém viver até as decisões radicais da guerreira prostituta do começo do volume, cujo duelo com Manji proporciona a dose de ação da primeira parte desta edição. Tudo isso na habilidade e beleza extraídas do lápis e do nanquim de Hiroaki Samura.
Mesmo sabendo que o quadrinhista japonês deixa evidente desde o número inaugural da série que não seguiria à risca a veracidade da época em prol da narrativa, nota-se um grau de pesquisa para alguns diálogos, como as citações da importante Batalha de Nagashino (1575) e do renomado Miyamoto Musashi (1584-1645), protagonista do mangá Vagabond, atualmente sendo relançado pela Panini.
Depois de dois anos da violenta morte dos pais, o acaso vai contra a dupla numa movimentada feira. Apesar dos momentos cômicos para quebrar o discurso mais reflexivo, a metáfora de ocultar o passado para preservar a inocência é o mote da segunda metade deste volume.
Membro da Ittou-Ryu, o vendedor de máscaras (aí está a figura de linguagem) Kawakami Araya é mais uma camada cortada e exposta nessa jornada. Com uma participação insana, macabra e violenta mostrada num flashback, recurso bem montado na trama para impactar com o que virá, o espadachim que tem um filho para criar sozinho coloca novos raciocínios para a jovem Rin e o leitor.
Implícita, existe uma gama de fatores ao redor de uma cegamente focada vingança, mostrando que tanto vítimas como carrascos têm uma história de vida além do momento decisivo de revanchismo.
Somam-se aos entretons a antiga e famosa fábula do sapo que ajudou o escorpião a atravessar o rio e é ferroado pelo “amigo” no meio do percurso – a Natureza nunca abandona a fera – e a contradição de ter peso na consciência para quem busca a vendeta. Nada é preto no branco.
O destaque na ação desta parte é o duelo entre Araya e Manji num apertado quarto, montado estrategicamente a favor do artesão de máscaras, obrigando ao protagonista restringir seus golpes em virtude da limitação dos espaços.
A JBC mantém o nível de qualidade do volume anterior, cujo material possui o dobro de páginas do original japonês, formato “Big” (13,5 x 20,5 cm), capa cartonada sem orelhas e papel off-set com boa gramatura.
Este "segundo passo" da saga apresentada por Samura estabelece que os seus personagens não estão apenas para brincadeiras, poses e meros confrontos de espadas. Há muitas entrelinhas na ação e no fio da lâmina de Blade.
Classificação
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